
Há um ano eu recebia um convite inesperado. Aceitei — com mais dúvidas do que certezas. De tema em tema, semana após semana, descobri que escrever sobre gastronomia é muito mais do que falar de pratos. É mergulhar nas histórias que cada sabor carrega, nas mãos que cultivam, produzem e transformam. Um ano depois, sigo com o mesmo frio na barriga, mas com o coração aquecido.
A escrita, que começou como curiosidade, tornou-se uma terapia. A gastronomia, que sempre foi paixão, ganhou um novo tempero: o das histórias, das pessoas e dos encontros. Porque, no fundo, são as histórias que dão sentido a tudo — aquelas que nascem nas cozinhas, nas feiras, nas vinícolas, nas padarias, nos bastidores de cada prato. São elas que revelam o que há de mais humano em cada receita.
Vinho & Brasa na Enoteca Ferreti: uma celebração em boa companhia
E foi justamente em meio a esse espírito de celebração que vivi uma noite especial: o evento “Vinho & Brasa”, realizado na Enoteca Ferreti — encontro que, coincidentemente, aconteceu no mesmo período em que esta coluna completa seu primeiro aniversário. Coincidência ou destino, a ocasião parecia feita sob medida para brindar a trajetória que venho construindo entre taças e temperos.
O clima era perfeito: aroma de carvão, risadas entre amigos e taças que se encontravam num tilintar quase musical. No centro das atenções, as estrelas da noite: Wagyu, Dry Aged e Ancho, três nomes que dispensam apresentações, mas que merecem algumas curiosidades (veja abaixo).

- O Wagyu, por exemplo, é o “boi japonês”, famoso por sua carne marmorizada e textura que praticamente derrete na boca. Dizem que alguns criadores no Japão tocavam música clássica e faziam massagens nos animais — e embora nem tudo disso seja literal, o cuidado com o bem-estar é real. No Brasil, o Wagyu ganhou sotaque local, cruzando-se com Angus e conquistando paladares em churrascos e casas especializadas.
- O Dry Aged, por sua vez, é uma técnica ancestral redescoberta pela gastronomia moderna. A carne envelhece lentamente em câmaras de temperatura e umidade controladas, e o resultado é surpreendente: textura macia, sabor concentrado e notas que lembram manteiga e nozes. Cada dia a mais de maturação é uma nova camada de complexidade. Tem quem prefira as de 30, 45 , 60 dias ou mais. Como gosto não se discute, sugiro que experimentem e descubram a qual mais lhes agradam.
- E o Ancho, corte argentino por excelência, é pura generosidade: largo, suculento e com aquele olho de gordura central que, ao derreter, transforma o churrasco em experiência sensorial. Quando os três se encontram — Wagyu, Dry Aged e Ancho — é como uma sinfonia de texturas, aromas e memórias.
Mas entre tantas carnes nobres, um destaque inesperado roubou a cena: um salmão defumado na churrasqueira, preparado com maestria. O perfume da fumaça envolvendo o peixe criava um contraste poético — o fogo da brasa e a delicadeza do mar. Sabor profundo, textura delicada e um toque defumado que encantou todos à mesa. Um verdadeiro espetáculo de simplicidade e técnica.
Entre um gole e outro, as conversas fluíam. Era impossível não perceber como cada evento como esse é também uma celebração do trabalho coletivo — dos chefs, dos produtores, dos sommeliers e de todos que acreditam que a boa gastronomia vai além do prato.
E, por falar em acreditar, não poderia deixar de agradecer a quem tornou possível essa jornada. Gabriel Duarte e José Guilherme, que confiaram no meu trabalho desde o início.
Os chefs que abriram suas cozinhas e dividiram suas histórias — Thais Okamoto (Sabores das Águas), Tércio Raddatz (Risoteria Vila Lobos), Júnior Ferreti (Enoteca Ferreti), Anouk, Migotto (Donna Pinha) entre tantos outros.
Gratidão também à Eliciane Alves, assessora do Fórum de Gastronomia (PIT); à Ana Mattos, da Texteria; e à jornalista Pamella Cajano, que contribuíram com apoio, convites e oportunidades que ampliaram horizontes e experiências.
E, claro, aos produtores que nos receberam com sorrisos e paciência, compartilhando histórias de superação, dedicação e conquistas — de quem venceu dificuldades para alcançar a excelência e hoje ostenta medalhas e certificados internacionais com orgulho merecido.
Um ano depois, percebo que esta coluna se tornou mais que um espaço de escrita. Tornou-se um diário de descobertas, uma ponte entre sabores e emoções. E venham os próximos brindes, porque histórias — e bons encontros — ainda não faltam
Para celebrar e você (re)apreciar tudo o conteúdo que já passou por este espaço até agora, deixamos abaixo os links das últimas 40 colunas Cozinha sem Chef:
- Rooftops: o encanto dos topos que viraram destino
- Terraço Itália: tradição, sofisticação e o sabor da história paulistana
- Médicos, vinhos e sabores: uma receita de amizade e emoção à mesa
- Da farinha ao balcão: a evolução das padarias até as padocas
- 35 anos em fatias
- A flor que vira banquete: histórias, memórias e descobertas da alcachofra
- Bares, drinks e histórias: do Dry Martini ao Rabo de Galo
- Entre queijos e lavanda: um final de semana em Cunha
- Sabores de Nárnia: quando a fantasia encontra a mesa
- Sakuras em Flor: do Japão a Campos do Jordão
- Estrogonofe ou Strogonoff – do popular à aristocracia, ou aristocrático para o povo?
- Simplesmente comida de mãe
- Conheça mais sobre o Umami, o quinto gosto descoberto por um químico japonês
- Bacalhau e chocolate: sabores que contam histórias
- Gefilte Fish: Tradição com toques de modernidade
- Do Paleolítico ao prato: a jornada dos crustáceos na história e na nossa mesa
- Meu novo hobby: descobrir a arte e o sabor por trás da coleção de Pratos da Boa Lembrança
- Moqueca para todo gosto
- Pipoca
- Do cacau ao chocolate: a indústria por trás do doce mais consumido no mundo
- A culinária resiste: aprenda a receita do famoso mousse de aipo de Eunice Paiva
- Nosso cafezinho
- Uma singela homenagem para a chef Thais Okamoto
- Domingo tem macarrão
- O pato na panela
- Sob o vento da paz: o sabor do reencontro
- Reflexões sobre o Restaurant Week e sua execução local
- Ode ao falafel
- Aurora de um ano novo
- Sabor de tradição
- Panetone: viva esse momento
- Vamos churrasquear
- Festas de fim de ano: o drama, a comédia e o churrasco
- Carne seca, charque, carne de sol e jabá… quem é quem?
- A festa do ano
- Eventos gastronômicos
- O alimento democrático
- Aonde vamos comer?
- Risoto: o pequeno gigante
- Quem é chef?
Parabéns! Trazendo bastante conhecimento nas colunas. 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻