Hoje foi dia de moqueca, e a escolha foi pela moqueca baiana, embora a capixaba também tivesse espaço. De vez em quando escolho uma ou outra, depende do dia, da inspiração do chef e das pessoas que estão ao nosso redor. Um dos meus melhores amigos é capixaba, e o genro é baiano. Imagina convidar os dois para o mesmo almoço? Com certeza seria encrenca!
Como já sabemos, gosto não se discute, e, claro, cada um defende as tradições de sua região. Além disso, existe algo muito especial na tradição. Aqueles pratos que atravessam gerações, como o que minha bisavó fazia, passou para minha avó, depois para minha mãe, e sempre com histórias sendo contadas a cada vez que nos sentamos à mesa para saborear essa delícia. Isso cria uma memória afetiva, já comentada em colunas anteriores, mas também reforça a importância de mantermos tradições, que são marcas na história da cultura dos povos. Eu acabo fazendo uma mistura das duas – receitas abaixo.
A moqueca é um reflexo perfeito da nossa história e da evolução da culinária no Brasil. É uma mistura das culturas indígena, portuguesa e africana, que ao longo do tempo, ajudaram a transformar e a incluir novos ingredientes, chegando ao prato que conhecemos hoje.
Indígena: A moqueca tem suas raízes nas práticas culinárias dos povos indígenas que habitavam o Brasil antes da colonização. O nome “moqueca” vem do método indígena de preparo chamado “moquém”, que envolvia assar carnes e peixes sobre folhas de bananeira ou grelhas de madeira, em
brasas. Não se usavam gorduras nem temperos complexos, apenas sal e ingredientes nativos, como ervas e pimentas. Esse método também tinha a função de conservar os alimentos, já que o calor da fumaça ajudava a evitar a proliferação de bactérias. O resultado era um alimento macio e bem defumado, uma espécie de charque indígena.
Portuguesa: A chegada dos portugueses ao Brasil causou um choque cultural, especialmente na alimentação. Eles trouxeram animais como bois, cabras, porcos, galinhas, além de azeite, manteiga, legumes e frutas, como uvas, romãs, limões, laranjas e coco, que não existiam por aqui. Também
introduziram o conceito dos “cozidos”, típicos da culinária lusitana. Ingredientes como cebola, alho e azeite de oliva foram incorporados à moqueca indígena.
Africana: A mão de obra escravizada africana teve papel fundamental no desenvolvimento da culinária brasileira, especialmente nos séculos XVI, XVII e XIX, com a exploração do açúcar, ouro e café. Eles adaptaram suas receitas, trocando ingredientes como inhame por milho e batata. O coco africano foi um desses novos ingredientes incorporados à culinária. Quando os africanos foram trazidos ao Brasil, ajudaram a popularizar o uso do coco, especialmente na Bahia, onde o leite de coco passou a ser usado em pratos como moquecas, vatapá e caruru.
O coco tem uma origem no sudeste asiático, mais especificamente na Malásia, Indonésia e Filipinas. Foi trazido pelos portugueses no século XVI, provavelmente da África Ocidental ou Ásia, devido ao clima tropical que favoreceu seu cultivo. No Brasil, o coqueiro se espalhou pelo Nordeste,
tornando-se essencial na culinária local. O leite de coco foi rapidamente adotado na Bahia, onde a presença africana era forte.
Outro ingrediente crucial na moqueca baiana é o azeite de dendê, originário da África Ocidental. O dendê era utilizado pelos povos africanos em alimentação, rituais religiosos e como produto medicinal. Na Bahia, esse azeite se tornou essencial, especialmente na moqueca baiana, conferindo cor e sabor únicos aos pratos.
O uso do colorau na moqueca capixaba tem raízes indígenas. Produzido a partir das sementes do urucum, o colorau foi usado pelos indígenas como corante natural e também para fins medicinais. Com a chegada dos portugueses, o urucum foi incorporado à culinária colonial, sendo usado para dar cor aos pratos, substituindo o açafrão, que era raro no Brasil. No Espírito Santo, onde a moqueca tem forte influência indígena e portuguesa, o colorau é usado para dar cor ao prato sem alterar tanto o sabor.
A Bahia foi uma das capitanias mais importantes durante o Brasil Colônia, principalmente pela produção de açúcar. Salvador foi a primeira capital do Brasil e um grande centro de tráfico de escravizados africanos. Já o Espírito Santo tinha uma economia voltada para a pesca e agricultura de subsistência, com menor presença de escravizados africanos. Isso ajuda a explicar a diferença entre as duas versões da moqueca, cada uma com suas influências culturais.
Assim, as duas moquecas – baiana e capixaba – são reflexos das histórias e das culturas que moldaram o Brasil. Cabe a nós escolher qual delas saborear, ou quem sabe, aproveitar ambas!
Sirva enquanto ainda estiver fervendo.
Sirva bem quente.
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