Aí vem 2024, trazendo uma série de novos desafios. No palco global, estes são os pontos que mais me interessam — e preocupam — em 2024.
(Foto: Patrick Semansky)
Apesar dos vários processos criminais em andamento contra ele, apesar dos estados de Colorado e Maine já o terem barrado nas eleições primárias, o retorno de Trump é uma probabilidade cada vez maior.
Para as primárias, ele no momento lidera as intenções de voto republicano com mais de 60%, em comparação com os 11% dos candidatos mais próximos, Nikki Haley e Ron DeSantis. Além disso, pesquisas recentes colocam Trump quatro pontos percentuais à frente de Biden na eleição de novembro — 47% vs 43%.
Em relação às ações jurídicas, é provável que tenha sucesso a estratégia de Trump de protelar ao máximo o andamento dos processos. Se condenado após eleito, ele poderia usar o perdão presidencial para evitar quaisquer consequências.
E quanto à sua declarada inelegibilidade em Colorado e Maine, vale lembrar que são decisões que irão à Suprema Corte americana, onde os conservadores têm maioria de 6 a 3, sendo dois deles indicados por Trump. Ou seja, prepare-se para uma segunda presidência de Trump, porque ela está inteiramente no reino do possível.
Se Trump voltar, é possível que vejamos um líder bem mais radical do que anteriormente. Seu “Projeto 2025” indica um desejo de tomar maior controle do aparato governamental nos EUA, eliminando a independência de diversas agências federais, incluindo o Departamento de Justiça e a FBI, além de trazer trumpistas leais para cargos importantes. A ameaça de Trump de retirar os Estados Unidos da OTAN colocaria em crise a maior aliança ocidental, fortaleceria as ambições imperiais russas e teria graves consequências na Ucrânia.
Aliás, em relação à Ucrânia, a presidência de Trump provavelmente traria uma redução ou até interrupção no apoio norte-americano, forçando o país a depender ainda mais da Europa e de outros aliados como a Coreia do Sul para continuar a defesa e liberação de seu território.
Infelizmente, nada indica que vá ter fim breve a guerra de Israel em Gaza, onde atualmente já 8 de cada 10 habitantes foram deixados sem-teto. A grande pergunta aqui é até que ponto se estenderão as repercussões regionais — quais reações teremos da parte de países como o Egito, Jordão, Arábia Saudita.
No Iêmen, até quando os militantes hutis continuarão os ataques a navios no Mar Vermelho, que vem impactando a economia global? O Hamas será mesmo eliminado, como pretendem os israelenses, ou, pelo contrário, ganhará ainda mais força com a radicalização de milhares de palestinos que agora nada mais têm a perder?
São todas perguntas para 2024, mas não só. Temos também a continuação de conflitos na Síria, o fortalecimento cada vez maior da Turquia como ator regional, a guerra híbrida e quase invisível entre Israel e Irã, as perturbações de grupos terroristas no Iraque… o Oriente Médio é um caldeirão de alianças, interesses geopolíticos e conflitos — a maioria a fogo lento, mas todos prontos para explodir a qualquer momento.
O enorme bombardeio russo que presenciamos ontem aqui na Ucrânia é só mais uma mostra de que Putin não tem intenções de reduzir a intensidade da guerra russa contra o país vizinho.
Seja como for, a liderança ucraniana também não tem por que querer dialogar — qualquer diálogo é muito mal-visto pela população, dado que a Rússia atualmente ocupa mais de 20% do território ucraniano. Além disso, todos aqui acreditam que a Rússia se valeria de uma trégua para recuperar a força de seu exército e retomar a guerra daqui a dois ou três anos, sob circunstâncias mais favoráveis.
O que virá a seguir, então? Na Ucrânia, temos um aumento na mobilização — mais civis sendo alistados para serem treinados e destacados para o combate no leste e no sul. É uma jogada necessária, mas com potencial de trazer complicações para a economia ucraniana.
Para termos sucessos em 2024, muito dependerá do apoio dos EUA e da Europa — janeiro será um mês crucial, dado que não sabemos se o congresso americano liberará ou não um pacote de auxílio emergencial à Ucrânia no valor de $110 bilhões.
Se Kyiv obtiver o apoio necessário, que inclui sistemas mais modernos de aviação (F16s) e mísseis de longo alcance, como os ATACMS, haverá uma nova tentativa de contra-ataque — possivelmente no sul, em direção à Crimeia e buscando liberar a margem esquerda de Kherson, cidade que vem sendo destruída pelos bombardeios russos incessantes.
Sem apoio dos aliados, os ucranianos serão forçados a se manter na defensiva, resistindo aos ataques russos no Donbas e continuando os ataques assimétricos no Mar Negro, que em 2023 ajudaram a desfazer o bloqueio russo às exportações de grão ucraniano, tão essencial para a economia do país.
Aliás, embora 2024 seja ano de eleições também na Rússia, não é plausível pensar que estas vão ter qualquer efeito na guerra — Putin não é exatamente um democrata, como todos sabemos, e seu principal opositor político se encontra encarcerado numa prisão quase inalcançável na Sibéria. Outros oponentes, como Prigozhin ou Igor Girkin foram eliminados ou levados à cadeia em 2023. O campo continua livre para Putin, ao que tudo indica.
Aconteça o que acontecer, não parece que vamos ver o fim da invasão russa em 2024. Mas os acontecimentos aqui serão fundamentais para a segurança da Europa na próxima década.
Se Putin não for derrotado, tudo indica que continuará no seu plano de restabelecimento do poder russo — o que pode facilmente levar a futuros conflitos nos Países Bálticos, na Polônia, na Finlândia. Por isso mesmo, estes últimos devem continuar entre os países que mais apoiam a defesa ucraniana.
É claro, temos muitos outros pontos de interesse no cenário geopolítico mundial. A agressividade chinesa em relação a Taiwan e a continuação de disputas regionais no Mar da China Meridional, por exemplo. A continuação da guerra no Sudão. As eleições de novos governos nacionalistas na Europa. Uma possível derrubada do governo sérvio. Ou até a mais recente disputa territorial na América do Sul — um conflito “não muito Maduro”, se permitem a piada.
Contudo, para mim estes três serão os principais pontos a impactarem as questões mundiais em 2024. Um bom 2024 trará a derrota de Trump, um esfriamento nos conflitos no Oriente Médio e uma liberação de mais territórios e população ucraniana.
E um mau 2024? Bem, um mau 2024, no mínimo, nos fará refletir bastante sobre a antiga maldição chinesa: “Que você viva tempos interessantes!”.
Veja mais de Direto de Kyiv:
Continuar lutando ou chegar a um acordo? O que pensam os ucranianos após quase dois anos de guerra
Voluntariado em Kherson, onde se resiste à uma rotina de bombardeios
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