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Categoria: + Arte na Cidade

Celebração às grandes mentiras – as serpentes marinhas estão de volta

Redação spriomais • Publicado em 31/12/2024, às 17:00 • Atualizado em 31/12/24, às 16:18

O incenso teria sido criado na Idade Média pela Igreja para amenizar o mau cheiro das pessoas aglomeradas que raramente tomavam banho.

Como eram obrigadas a tomar bebidas alcoólicas, talvez venha daí os delírios criados nos mapas como o Globo de Hunt-Lenox, de 1503, que mostravam dragões, serpentes e animais híbridos distribuídos pelo planeta. Já naquela época, a Terra era reconhecidamente um globo bem redondinho.

A expectativa de vida era de 32 anos; alguns ultrapassavam os 40, poucos chegavam aos 60, 70 anos. Se você fosse um servo, o seu senhor feudal tinha o direito de dormir com sua noiva antes de você. Nessa época, as crianças eram consideradas mini-adultos.

Vista da instalação Entidades (2021), de Jaider Esbell. © Levi Fanan /Fundação Bienal de São Paulo

Vista da instalação Entidades (2021), de Jaider Esbell (Créditos: Levi Fanan/Fundação Bienal de São Paulo)

No jejum religioso de 40 dias, era proibido o consumo de carnes, ovos, álcool, laticínios. Exceções exóticas, como para o castor e a nossa, habitante do Parque da Cidade, a capivara, eram considerados peixes. O castor, por sua cauda escamosa, e a capivara, sabe-se lá por quê, mas de fato foi considerada peixe.

Após seu pai subornar cardeais, Bento 9º, aos 20 anos, tornou-se Papa e logo depois vendeu seu cargo para se casar com a prima. Guerreiros gregos escondidos num cavalo de pau conquistaram Troia. Elvis está vivo, mas não inventou o rock.

Benito Mussolini chamou de “imprensa amarela” os jornais que publicaram verdades sobre sua saúde. O termo surgiu na batalha por audiência entre dois jornais em Nova York em 1883.

Enganação, exageros ou mentiras constantes causam abalos emocionais, e as mentiras sempre estiveram presentes no poder, na sociedade, na vida. Características da imprensa amarela: manchetes exageradas, alegações não verificadas, agendas partidárias e foco em tópicos como crime, escândalo, esportes e violência.

The Fin de Siècle Newspaper Proprietor , uma ilustração apresentada em uma edição de 1894 da revista Puck . Em meio à agitação do público ansioso segurando papéis, um segura uma publicação brandindo as palavras "Fake News"

The Fin de Siècle Newspaper Proprietor, ilustração apresentada em uma edição de 1894 da revista Puck (Créditos: Reprodução/Internet)

Mussolini abusou de um termo para acusar uma verdade de ser mentira. Como sabemos, a venda de mentiras públicas serve para ganho político e lucro. A primeira vítima de qualquer guerra é a verdade. Na Europa, atualmente, estão falando sobre a III Guerra Mundial; países distribuem panfletos orientando a população caso isso aconteça. Bunkers estão sendo construídos e outros reativados.

Uma mentirinha inocente aqui e ali, meias verdades e muitas mentiras criadas são a nova soberania na informação elaborada por oligopólios que fecundam fabriquetas de fake news. O celular é uma dessas fabriquetas.

Já está confirmado que vamos continuar produzindo mentiras em 2025; primeiro de abril será notório, e todos os dias. Todos os dias serão 1/4/2025.

“Os bilionários da tecnologia e os políticos usarão seus recursos – riqueza, tecnologia ou autoridade legislativa – para se sobreporem uns aos outros, às custas das pessoas comuns”.

É o que projeta a futurista Amy Webb no Tech Trends Report, relatório anual que traz um conjunto de previsões sobre tecnologias emergentes.

2025, o ano da grande mentira, nem Freud explica. Via de regra, para se manterem nas mídias, garantirem seus cargos e conquistarem devotos que repliquem suas perversas postagens, eles publicam meias verdades recheadas de gatilhos de ódio embrulhados com lacinho de autoajuda.

Processo contínuo que atinge pessoas que são expostas, discriminadas e perseguidas violentamente por serem quem são, por existirem. Não à toa, a palavra devoto contém voto.

Cúmplices de uma falsa invisibilidade, os replicantes se identificam com a mentira travestida de verdade e se sentem confortáveis; faz sentido pra eles. São pessoas nefastas, guardiãs dos bons costumes, que historicamente se traduz em hipocrisia. Freud explica.

A comunidade LGBTQIA+ existe aqui em São José dos Campos. Entre tantas possibilidades de existência, temos artistas, professores, médicos, engenheiros, arquitetos, cabeleireiros, padeiros, cientistas, babás, porteiros e até políticos. São famílias constituídas com ou sem filhos, avôs e avós.

Me interessa falar dos artistas dessa comunidade, essa classe já consagrada, estruturada, sobrevivente e perseguida em nossa cidade como se vivêssemos no século retrasado. Para outras classificações de interesse, como conquistar selos, a cidade vive o século 21.

“O dever de um artista, no que me diz respeito, é refletir o momento. Acho que isso vale para pintores, escultores, poetas, músicos. No que me diz respeito, a escolha é deles – mas escolho refletir os momentos e as situações em que me encontro. Isso, para mim, é o meu dever. Neste momento crucial de nossas vidas, quando tudo é tão desesperador, quando todos os dias são uma questão de sobrevivência, acho que você não pode deixar de se envolver.” (Nina Simone em 1960)

Assim, coletivos de artistas têm se posicionado, criando obras através de editais federais sobre suas experiências nesse ambiente social preconceituoso, relatando suas origens.

Esses projetos são benefícios para todos nós como sociedade, para conhecermos e nos aproximarmos de questões que não vivenciamos diretamente, mas que muito nos importa e devemos apoiar.

“Em vez de a Prefeitura pagar pra esses projetos, deveria investir na educação, construir hospitais etc”. Quanta desinformação nessa frase antiga, desatualizada e clichê.

Verbas de editais culturais jamais poderão ser transferidas para hospitais, escolas etc. Nem de hospitais para editais culturais.
Existem regras, normas, leis que sustentam políticas públicas.

A coluna anterior: A bananalização da arte

A verba é federal e, dentro do seu escopo, tem inúmeras áreas da cultura para serem aplicadas pela Prefeitura. Os editais para LGBTQIA+ foram feitos para esses artistas em todo território nacional. E em nossa cidade não seria diferente, temos uma grande comunidade LGBTQIA+. Ou a prefeitura usa a verba ou devolve.

Entre tantos danos decorrentes deste processo de mentiras, o mais nocivo para o mundo e, ao mesmo tempo, vital para esse sistema se sustentar, é o ódio.

Sentimento enraizado, que está além da emoção raiva; para alguns neurocientistas, ele nasce no mesmo local do amor no cérebro humano. O ódio permanente, cultivado, traz transtornos físicos, aumento da pressão arterial; o sujeito responde de maneira reativa, explosiva, agressiva. O ódio causa impacto na saúde mental.

É uma cadeia explosiva como faísca na gasolina, de efeitos contaminados por ódios bem elaborados e produzidos. Lembremos que todos somos alvo.

Em 2016, Tales de Oliveira Faria se formou aos 24 anos no ITA, trajando roupas femininas estampadas com palavras de protesto, afirmando ter sido vítima de homofobia dentro da instituição durante toda a sua formação.

Muito antes, Edugair, ator e presença constante, com sua malinha de rodinhas, em eventos culturais na cidade, sofreu violenta agressão, vindo a morrer no Hospital da Vila.

Temos muitas memórias sobre homofobia, machismo, sexismo, gordofobia, racismo, capacitismo sendo elaboradas em inúmeros projetos por grupos de artistas e produtores culturais em São José dos Campos. É disso que se trata ser artista também, narrar histórias vividas que nos impactam ainda, estão em muitas memórias, coletivas ou individuais.

A memória involuntária pode ser provocada por alguma cena de teatro, de cinema, alguma música, algum perfume, o cheiro de um pão assando.

Chamado de Efeito Proust, a memória involuntária é um fenômeno em que uma lembrança intensa do passado é desencadeada automaticamente por um estímulo.

Nosso cérebro reage e revivemos por instantes lembranças familiares, momentos bons ou ruins, lugares visitados e pessoas. Na minha casa, nessa época, seria o aroma de pão de maçã. E na sua?

Produza e compartilhe aquele efeito Proust digno de uma ótima lembrança. Se contamine com um dolce far niente ou, em português, uma boa vadiagem, palavra que ficou estigmatizada nesses tempos de trabalho home office 24h.

Tudo que não for trabalho não é nobre e deve ser subjugado. Não caia nessa, as mídias nos dão o sentimento de entretenimento, lazer. Isso também é mentira.

Vagabundear e seus sinônimos – perambular, borboletear, trafegar, flanar, curtir o ócio – são ações voluntárias que não causam danos. Não se culpe, aproveite se puder. Mais ócio e menos ódio. Mais arte na cidade.

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Pitiu Bomfin

Pitiu Bomfin

Artista plástica, curadora e educadora. Formada em Desenho Industrial pela FAAP / SP com pós graduação em Artes Plásticas pela ECA/USP e estudos em Arquitetura.
Realiza trabalhos de curadoria além de cenografias e figurinos para grupos de teatro.
Sua pesquisa artística envolve a fotografia, a pintura e processos gráficos muitas vezes utilizando referencias icônicas da historia da arte.



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