
Uma experiência para lá de maravilhosa. Essa foi a sensação que nos acompanhou no caminho de volta para casa depois de visitar o Festival Vinhos de Bicicleta, promovido pelo incansável Rodrigo Ferraz (o mestre das rolhas do canal homônimo) no Center Vale Shopping, em São José dos Campos.
Um evento que nos deixou meio tontos… de felicidade (e talvez de uns goles a mais também, vai saber). Organização impecável. O espaço de eventos do shopping parecia ter sido criado sob medida para a ocasião: amplo, ventilado e, mais importante, com circulação de gente civilizada.
Nada de empurra-empurra ou filas intermináveis. Tudo dividido em turmas com horários alternados, o que deu aos expositores a rara chance de respirar, comer e até colocar as pernas para cima. Quem já serviu vinho o dia inteiro sabe que manter o sorriso e responder perguntas do tipo “esse vinho tem notas de quê mesmo?” exige preparo físico de atleta olímpico.
Na entrada, pulseira de identificação, papelzinho do sorteio (que a gente nunca ganha, mas a esperança é a última rolha que se perde) e uma taça personalizada do evento. E o detalhe fofo: com a ativação do Instagram do Center Vale, você podia personalizar a sua taça com seu nome gravado. Nem o mais distraído dos convidados correria o risco de trocar a sua por uma alheia — “Essa aqui é minha, tá escrito Sidney, ó!”.
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Logo no início, o estande da Vinhos de Bicicleta, com os vinhos da marca Ferraz, assinados pelo próprio Rodrigo. Na entrevista que fiz com ele no Mais Gastronomia, ele foi claro: “Sou sommelier, não enólogo.” Mas, cá entre nós, Rodrigo… se esses vinhos forem só resultado de boas escolhas e não de uma mãozinha sua nos bastidores da vinificação, então você tem mesmo um paladar digno de superpoder.
Pelos corredores, uma verdadeira feira de sabores: azeites artesanais, geleias finíssimas, antepastos de dar água na boca, charcutaria que faria um italiano chorar de emoção. Tudo harmonizando perfeitamente com os mais de 400 para degustação. Sim, você leu certo: mais de 400! E para não deixar ninguém cair das sandálias, muita água para hidratar (ainda bem) e para lavar as taças entre um gole e outro (e evitar misturar o Cabernet com o Sauvignon Blanc como quem faz vitamina no liquidificador).
Entre os destaques, o simpático Sr. Alfredo Teixeira da vinícola Mataojo, direto do Uruguai, que nos brindou com rótulos feitos com o carinho de uma produção 100% familiar. Da colheita à garrafa, tudo feito pelos Teixeira — e com sotaque de quem entende de vinho e de gente.
A Vinícola San Michele, única representante de Santa Catarina, mostrou que o estado também tem terroirs de respeito. A Casa Bruxel, direto do cerrado mineiro, surpreendeu geral ao provar que dá para fazer vinho bom onde se planta café — e que Minas pode, sim, ter uva no currículo, além de queijo e prosa.
Várias vinícolas da Serra Gaúcha e da Campanha Gaúcha marcaram presença com rótulos que vão de clássicos a ousados — do Tannat robusto ao espumante delicado. E claro, as importadoras trouxeram o velho mundo com toda sua pompa: um Dão português que era pura elegância, Brunellos que dançam no paladar, Barolos com a complexidade de um romance russo.
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Mas talvez o maior charme internacional veio da importadora Artsakh, representante oficial dos vinhos armênios no Brasil. Sim, Armênia! Vinhos com uvas ancestrais como a Areni Noir, cultivadas nos vales vulcânicos do Cáucaso, onde se encontram as vinhas mais antigas conhecidas pelo homem. Um brinde à história — e à resistência líquida de um povo que embala memórias milenares em garrafas que agora chegam até nós.
E como se não bastasse, a feira foi também uma festa para os sentidos e um alento para os produtores brasileiros. Ouvi expositores elogiando tudo: a cidade, os bons hotéis, os restaurantes cheios de sabor, o público interessado e gentil.
“O evento cresceu, e mesmo assim melhorou”, repetiam. E isso é raro, porque evento que cresce, muitas vezes só incha. Aqui, foi diferente: amadureceu como um bom vinho. Um brinde ao Rodrigo, ao shopping e a todos que fizeram essa feira acontecer.
Que venham muitas outras. Porque vinho é cultura, é afeto, é papo bom. E se for com boa taça, melhor ainda — com ou sem o nome gravado.
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