A importância do ESG e o impacto da falta de governança na indústria do algodão

O Brasil, potencialmente o maior exportador mundial de algodão, encontra-se no centro deste debate

Recentemente, um relatório da ONG londrina Earthsight intitulado “Fashion Crimes” lançou um olhar crítico sobre as falhas no rastreamento da cadeia produtiva do algodão e na dependência das gigantes da moda rápida em certificações ambientais e sociais frágeis. O Brasil, potencialmente o maior exportador mundial de algodão, encontra-se no centro deste debate. A pesquisa focou em duas grandes varejistas, H&M e Inditex (dona da Zara), associando-as a práticas de desmatamento, usurpação de terras e violações de direitos humanos no Cerrado baiano.

Este caso destaca a importância (e necessidade) de uma Governança bem estruturada para trazer transparência e confiança a todos envolvidos na cadeia desde o campo ao consumidor final e também problemática do greenwashing e do greenwishing no setor da moda. Greenwashing ocorre quando empresas fazem alegações de sustentabilidade que não são suportadas por suas práticas efetivas, enquanto greenwishing refere-se às aspirações de sustentabilidade sem ações concretas para alcançá-las. Ambas as práticas podem minar a confiança dos consumidores e investidores e, consequentemente, prejudicar a imagem e a viabilidade financeira das empresas.

Pilha de roupas (Foto: Freepik)

A Better Cotton Initiative (BCI), apesar de ser uma das maiores certificadoras, foi criticada por sua incapacidade de rastrear completamente a cadeia do algodão, limitando-se ao país de cultivo. No Brasil, o principal produtor dentro do BCI, revela-se um conflito de interesses significativo, já que os produtores muitas vezes auto-certificam a sustentabilidade de seu algodão. Isso levanta questões sobre a independência e a confiabilidade das auditorias realizadas, o que pode comprometer a transparência necessária para uma indústria verdadeiramente sustentável.

Leia mais na coluna ESG na prática

Empresas e certificadoras devem, portanto, intensificar seus esforços para garantir a transparência e a rastreabilidade de suas cadeias produtivas. Além disso, é crucial que as práticas de auditoria sejam independentes e robustas para fortalecer a confiança do mercado global em produtos certificados, evitando assim o impacto negativo do greenwashing e do greenwishing não só para as empresas, mas para todo o ecossistema global. Afinal, uma certificação existe justamente para trazer crença na probidade moral em qualquer setor que ele exista.
Abaixo coloco alguns pontos que acredito ser de suma importância para evitarmos situações como a da cadeia do algodão e que podem ser aplicadas em qualquer empresa ou setor do mercado.

1. Integração da Sustentabilidade em Todos os Setores da Empresa:

O primeiro passo é garantir que o conceito de sustentabilidade permeie todos os setores e totalmente alinhada com a governança da empresa, isto é, desde a produção até o atendimento ao cliente. Ações sustentáveis devem estar alinhadas com a proposta e os valores da empresa, garantindo que elas sejam coerentes e integradas à visão geral do negócio.

2. Comunicação Eficaz e Contextualizada sobre Sustentabilidade:

Uma comunicação clara e bem contextualizada é fundamental para engajar tanto o público interno quanto os stakeholders externos. A transparência nas ações e a continuidade da informação são essenciais para construir e manter a credibilidade da empresa.

3. Coerência e Conhecimento em Práticas Sustentáveis:

Os sistemas que geram sustentabilidade dentro da empresa precisam estar bem estruturados para que os resultados desejados sejam alcançados. Investir em conhecimento e formação sobre práticas sustentáveis é crucial para que as ações não sejam apenas superficiais, mas sim efetivamente benéficas.

4. Expansão das Dimensões da Sustentabilidade:

A sustentabilidade não se restringe apenas ao ambiental, mas também engloba dimensões econômicas, sociais e culturais. Uma abordagem holística pode levar ao surgimento de novos projetos e iniciativas que beneficiam não só o ambiente, mas também a comunidade e a economia local.

Acredito que os pontos destacados acima representem um passo inicial crucial para prevenirmos e mitigarmos os impactos negativos das empresas, não apenas melhorando sua imagem, mas também contribuindo de maneira significativa para um futuro mais sustentável.

Por outro lado, o papel da sociedade civil é igualmente essencial. Ao investigar, denunciar e participar ativamente, a sociedade não apenas assume um senso de corresponsabilidade, mas também desempenha um papel fundamental em garantir que as certificações e normativas sejam efetivamente cumpridas. Esta é uma jornada conjunta, onde cada ação e cada voz podem fazer a diferença na construção de um mundo melhor.

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Luís Magalhães

positivo no meio ambiente. Estudou Agronomia na UFFRJ e Business & Marketing na Universidade Católica da Austrália e na Universidade de Canberra.