Muita ‘merda’ para a 11ª Mostra do Teatro da Rua Eliza

Os atores sabem: para não atrair coisa ruim, não desejamos sorte

Um teatro independente é uma alternativa impactante na cena cultural da cidade. Seu poder de articulação incorpora e reprocessa elementos da cultura com liberdade criativa e força coletiva. É uma relação direta entre os artistas e a cidade. É um lugar de pesquisa para leituras dos clássicos ou construção dos próprios textos, uma oficina que recria objetos, um laboratório para o corpo experimentar o espaço cênico.

Com falhas e crescimentos sua existência é vital para a cultura da cidade. Uma tensão que reverbera em resistência.

A linguagem do teatro como todas as expressões artísticas alargaram suas definições ao incluir na sua essência possibilidades com modelos antigos e tecnologias. Tornou-se híbrido e com cenas expandidas. É uma busca pelo reencantamento com a cultura local que as vezes é reconhecida e as vezes causa estranhamento.

As obras e experiências artísticas muitas vezes espelham demandas e sentimentos da coletividade, um registro sensível do momento vivido agora.

A capacidade de criar estratégias para viabilizar e manter a existência de um teatro independente é um ato político pois exige habilidades e praticas específicas conscientes da complexidade deste desafio e seus desdobramentos na comunidade e cultura locais.

Complexidade que associa elementos óbvios como os financeiros aos modos de produção e às ricas possibilidades coletivas nos processos criativos.

A partir do dia 5 de abril a 11ª Mostra do Teatro da Rua Eliza promovida pela Cia do Trailler terá uma programação gratuita com teatro, musica, exposição de artes plásticas, lançamento de livro e atividades formativas. A mostra se encerrará dia 22 de abril com um encontro de produtores de mostras independentes do estado de São Paulo.

Um pouco da história do Teatro Marcelo Denny

Diferentes grupos teatrais totalizando mais de 10 artistas entre atrizes, atores, diretores e técnicos se uniram e criaram o Teatro da Rua Elisa em 2012. Uma união entusiasmada para pensar novas formas de ação coletiva nas artes cênicas da cidade. Toda uma organização a ser inventada e experimentada com poder de articulação criadora que deveria se expressar não apenas em seus modos de organização enquanto grupo, como também em suas estratégias e recursos.

O grupo permaneceu nesse formato até 2019 quando a atriz e diretora Caren Ruaro com o ator e diretor André Ravasco assumiram o teatro.

Caren Ruaro e André Ravasco na porta do Teatro Marcelo Denny (Foto: Arquivo pessoal)

Logo em 2012 já realizaram a 1ª mostra com recursos próprios seguindo assim até a 8ª, que aconteceu no meio da pandemia, online. As edições 9, 10 e 11 foram contempladas pela Lei Aldir Blanc e ProAC (Programa de Ação Cultural).

Eliza foi a primeira telefonista de São José dos Campos e o teatro exibe na porta interna seu retrato gigante em preto e branco. O teatro passou a se chamar Teatro Marcelo Denny em agosto de 2020, uma homenagem ao amigo e grande artista parceiro de criação da Cia do Trailler. A mostra permanece com seu nome original.

A 11ª Mostra apresentará sete grupos de teatro da cidade, um de Campinas e dois de São Paulo. Terá também dois shows musicais. A abertura da exposição com obras da artista Renata Freitas acontecerá no domingo dia 7 às 18h e o livro “Manto de Transição” da autora Adélia Nicolete terá lançamento dia 10 abril às 19h30. Veja a programação completa e o endereço no Instagram do teatro, @teatromarcelodenny. Todos os grupos e artistas envolvidos receberão cachê por suas participações e as entradas são gratuitas.

De 2012 a 2024 o Teatro Marcelo Denny se reinventou algumas vezes e nas inúmeras crises que superou sempre manteve o espaço aberto para outros grupos de teatro, musica, literatura e dança. Acredito que assim nunca ficou isolado, seguindo uma logica de rede com participação por projetos ou planos temporários de ocupação do espaço. Os laços são frouxos mas existem, são agrupamentos por afinidades, efêmeros e importantes.

“Quem não se adapta é massacrado pela impotência econômica que se prolonga na impotência espiritual do isolado. Excluído da indústria, é fácil convencê-lo de sua insuficiência.” (Theodor Adorno)

Estas experiências foram ampliando o potencial do Teatro que foi se constituindo em um espaço cultural. Em 2021 recebi o convite do André e de Caren para cuidar das exposições de artes plásticas e assim criamos a parede expositiva onde já realizamos mais de 10 exposições. Confira no site do Teatro Marcelo Denny.

Gestores do Teatro e das próprias carreiras artísticas, eles farão a estreia no dia 20 de abril às 21h do espetáculo “Memoria Fabril” com seu grupo Cia do Trailler – Teatro em movimento. Um casal com visão contemporânea e critica do mundo. Desejo vida longa ao Teatro Marcelo Denny e muita “merda” para a 11ª Mostra do Teatro da Rua Eliza.

No século XIX, em Paris, os patronos chegavam ao teatro com suas carruagens que ficavam enfileiradas na rua. Quanto mais carruagens na rua significava mais público e claro muito mais esterco na frente do teatro. Daí que desejar merda nas estreias significa desejar ter muito público.

E a agenda segue se ampliando com muitas boas novas a partir de agosto, acompanhe pelas redes sociais.

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Pitiu Bomfin

Artista plástica, curadora e educadora. Formada em Desenho Industrial pela FAAP / SP com pós graduação em Artes Plásticas pela ECA/USP e estudos em Arquitetura.
Realiza trabalhos de curadoria além de cenografias e figurinos para grupos de teatro.
Sua pesquisa artística envolve a fotografia, a pintura e processos gráficos muitas vezes utilizando referencias icônicas da historia da arte.