
Um final de semana especial nos levou até a charmosa cidade de Cunha, encravada na Serra do Mar, entre Paraty (RJ) e Guaratinguetá (SP). O motivo maior da viagem? O 5º Festival do Queijo de Cunha, evento que tem se consolidado como referência na valorização dos queijos artesanais do Sudeste.
Mas, como seria impossível visitar Cunha sem falar de seus encantos, é inevitável abrir espaço para o cenário da cidade, conhecida como a capital da cerâmica artística no Brasil.
São dezenas de ateliês e olarias que mantêm viva a tradição do forno Noborigama, técnica japonesa milenar, e que também vêm apostando em novas possibilidades, como os fornos elétricos, que hoje já ganham espaço sobre os antigos modelos a gás, pela maior eficácia e controle.
Além disso, a cidade presenteia os visitantes com paisagens montanhosas, cachoeiras cristalinas e os famosos campos de lavanda que lembram os cenários da Provence.
No Parque Estadual da Serra do Mar, trilhas e mirantes oferecem vistas deslumbrantes, como a da Pedra da Macela, de onde se avista a baía de Paraty e até a Ilha Grande em dias claros.
E como não poderia faltar, a gastronomia local — marcada por pratos caipiras, trutas e cervejas artesanais — completa a experiência daqueles que, como nós, foram em busca de queijo, mas acabaram encontrando um cardápio completo de prazeres.
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O Festival do Queijo
O Festival do Queijo foi o grande protagonista da viagem. Em sua 5ª edição, realizada entre os dias 29 e 31 de agosto de 2025, o evento reuniu mais de 30 produtores de toda a região Sudeste, em um clima que misturava confraternização, aprendizado e, claro, muita degustação.
Este ano teve uma novidade histórica: o 1º Prêmio Sudeste de Queijos Artesanais, que trouxe jurados nacionais e internacionais para avaliar a produção local com rigor e entusiasmo.




Quem brilhou?
Os produtores de Itamonte (MG), que conquistaram diversas premiações e confirmaram a força do tradicional Queijo Mantiqueira de Minas, hoje um dos mais respeitados do país. Mas o festival também ganhou notoriedade graças à presença de duas figuras de peso no universo do queijo.
A primeira foi Débora Pereira, jornalista, especialista em queijos artesanais e diretora da SertãoBras (associação que valoriza a produção nacional).
Ela é também professora formada em renomadas instituições francesas, como a Mons Formation e a Guilde Internationale des Fromagers, além de ser a grande responsável pela organização do Mundial do Queijo do Brasil, que acontecerá em abril de 2026 uma nova edição.
Sua participação como jurada no 1º Prêmio Sudeste de Queijos Artesanais deu credibilidade internacional ao evento e serviu de inspiração para produtores que buscam reconhecimento além das fronteiras brasileiras.
O júri foi presidido pelo chef Gustavo Augusto Lacorte, referência nacional quando o assunto é queijo artesanal. Lacorte é reconhecido por seu trabalho de pesquisa e valorização da produção de pequenos queijários, atuando como formador de opinião e especialista na análise sensorial de queijos.
Sua presença como presidente do concurso não apenas garantiu rigor técnico nas avaliações, como também reforçou a seriedade e o profissionalismo do prêmio, transformando a competição em um marco para o setor.
Histórias por trás dos sabores
Além das premiações, o festival teve um sabor ainda mais especial nas conversas com os produtores. Chegando cedo, enquanto as bancas ainda eram organizadas, pudemos conversar com expositores de queijos, mel e cervejas artesanais.
Cada produto vinha acompanhado de uma história: muitas vezes marcada por luta, perseverança e amor pelo ofício, envolvendo gerações de famílias que mantêm viva a tradição artesanal.
Alguns enfrentaram desafios para se firmar no mercado, mas todos compartilham a paixão pela qualidade e inovação. O resultado estava ali, diante de nós: queijos, mel e bebidas que carregam não só sabor, mas também memória, dedicação e identidade cultural.
Cervejas e mel: uma combinação perfeita
Já na recepção, o mel se fez presente — e não só na forma tradicional: o produtor Fernando apresentou uma cerveja feita com mel, inspirada em uma receita criada para Barack Obama na Casa Branca.
O resultado é uma bebida encorpada, de aroma pronunciado, que ganhou versão floral com mel de lavanda e ainda rendeu um hidromel especial.
Para completar, Cunha abriga cervejarias que merecem visita obrigatória — Caminho do Ouro, Wolkenburg Brewery e Galpão do Alemão —, perfeitas para provocar disputas acaloradas entre amigos sobre qual é a melhor.
Mas a festa não parou nos queijos. Entre uma degustação e outra, descobrimos vinhos produzidos em Cunha pelo método da dupla poda, que surpreenderam pela qualidade e se mostraram excelentes parceiros para acompanhar tanto os queijos quanto os pratos da região.
O espetáculo do Lavandário
No caminho para o jantar, ainda tivemos tempo de passar no Lavandário, onde os campos floridos se abrem em um espetáculo que mistura perfume, cor e horizonte.
A música ao vivo embalava os visitantes enquanto o sol se punha atrás das montanhas, tingindo o céu de tons alaranjados e lilases que pareciam dialogar com as lavandas.
E, como se não bastasse a beleza da paisagem e o pôr do sol de tirar o fôlego, ainda havia os sorvetes inusitados: provamos o de lavanda e o de pimenta rosa — apenas dois entre tantos sabores criativos como maçã com lavanda, verbena e limão-siciliano.
Foi um momento único em que paladar, visão, olfato e audição se encontraram em perfeita harmonia.
Onde comer em Cunha
E como ninguém vive só de queijo (embora alguns tentem), visitamos três restaurantes que resumem bem a diversidade gastronômica da cidade: o Átrio, com cozinha peruana temperada com brasilidade; o Il Pumo, comandado por um italiano da Puglia que trouxe sua alma mediterrânea para Cunha; e a aconchegante Casa do Gentil, com culinária afetiva e artesanal, feita por quem conhece o sabor de cozinhar com raízes.
Conclusão
Resumindo: fomos a Cunha em busca do festival de queijos e voltamos com a sensação de que vivemos uma verdadeira maratona gastronômica. Como diria a velha frase: “na segunda começa a dieta!”. E se não começar, pelo menos a caminhada até a Pedra da Macela ajuda a equilibrar os excessos. Afinal, depois de tanto queijo, mel, cerveja, vinho e sorvete, correr atrás do prejuízo nunca foi tão literal.
Entrevistas com os produtores, jurados podem ser vistos no Instagram: @cozinhasemchef.dr.sidneysredni