Esta semana, me peguei refletindo sobre um tema que está no coração do G de Governança, mas que também revela muito do S de Social: a diferença abismal entre os salários dos executivos e dos trabalhadores comuns. E não estamos falando de pequenas distorções.
Em 2024, CEOs das 350 maiores empresas dos Estados Unidos levaram para casa, em média, US$ 16,7 milhões, enquanto o trabalhador médio ficou com US$ 58 mil por ano.
Ou seja: o chefe ganhou 288 vezes mais do que o funcionário, e isso não é só um número — é um sintoma de um sistema que precisa de revisão urgente.
No Brasil, o buraco é ainda mais fundo. Em algumas empresas de capital aberto e multinacionais, a diferença entre o salário fixo do CEO e o piso salarial pode ultrapassar 400 vezes. Isso sem contar bônus e opções de ações, que elevam ainda mais essa disparidade.
E isso importa muito!
Porque não estamos discutindo apenas quem compra o carro mais caro ou faz férias em ilhas paradisíacas. Estamos falando de moral corporativa, de governança responsável e da motivação de quem faz a roda girar todos os dias.
Quando a diferença é tão grande, o recado para a equipe desestimula, desgasta a cultura e afasta talentos que buscam propósito.
Leia mais: Quando a ciência encontra o amor
A boa notícia é que há ares de mudança — em parte. Nos EUA e na Europa, grandes fundos como BlackRock e Vanguard passaram a votar contra pacotes salariais considerados abusivos.
Não é altruísmo: investidores já perceberam que empresas com culturas de disparidade extrema correm mais riscos de crises de imagem, greves, perda de produtividade e até processos judiciais.
Já no Brasil, a movimentação ainda é tímida, mas começa a surgir. Investidores institucionais passaram a questionar executivos de empresas que cortam milhares de postos para “ajustar custos” enquanto mantêm bônus milionários para a diretoria.
Não adianta anunciar dados anuais de ESG se o “G” da governança não inclui justiça salarial — muito menos posar de sustentável em propaganda.
Os números não mentem: segundo a PwC, 93% dos executivos americanos acreditam que os conselhos precisam ser renovados com novas ideias. Essa insatisfação também vem do desconforto com modelos de remuneração que priorizam apenas quem está no topo.
A consultoria Equilar mostra que a diferença salarial entre o CEO e os funcionários subiu 15% só em 2024, mesmo em setores que tiveram lucros menores ou prejuízos.
Empresas que adotam tetos salariais ou políticas de remuneração conectadas a metas ESG passam a ser vistas como mais equilibradas, responsáveis e preparadas para o futuro. Isso atrai talentos, conquista clientes e fortalece a marca.
A desigualdade extrema não é só um problema ético: ela aprofunda divisões sociais, reduz o consumo sustentável e fragiliza a economia. Quando quem ganha menos vive no limite do cheque especial e quem ganha mais concentra cada vez mais renda, a roda se desequilibra.
Você acha justo um CEO ganhar em um dia o que um funcionário leva um ano inteiro para receber? Devemos, como investidores, consumidores e cidadãos, cobrar limites para essa diferença? É muito mais que uma pergunta filosófica.
Porque, se o ESG é na prática e não só no discurso, precisamos começar pelo que acontece dentro das empresas — e pelo modo como recompensam quem constrói resultados todos os dias.
A desigualdade extrema não é só um problema ético, ela aprofunda divisões sociais, reduz o consumo sustentável e fragiliza a economia. Quando quem ganha menos vive no limite do cheque especial e quem ganha mais concentra cada vez mais renda, a roda trava.
Você acha justo um CEO ganhar em um dia o que um funcionário leva um ano inteiro para receber? Devemos, como investidores, consumidores e cidadãos, cobrar limites para essa diferença? É muito mais que uma pergunta filosófica.
Porque se o ESG é na prática e não só no discurso precisamos começar pelo que acontece dentro das empresas, e o jeito como recompensam quem constrói resultados todos os dias.