
O cacau, esse tesouro divino, tem suas origens na Mesoamérica e cresce em uma árvore cujo nome científico é Theobroma cacao, que, sem modéstia alguma, significa “comida dos deuses”. E não é por acaso que ele conquistou corações ao longo da história.
Os Olmecas, por volta de 1500 a.C., provavelmente foram os primeiros a cultivar e consumir cacau. Mas não se engane: não era aquela delícia açucarada que conhecemos hoje. Eles preparavam uma bebida fermentada a partir das sementes, utilizada em rituais.
Veja mais de cozinha sem Chef:
- A culinária resiste: aprenda a receita do famoso mousse de aipo de Eunice Paiva
- Nosso cafezinho
- Uma singela homenagem para a chef Thais Okamoto
Depois, os Maias elevaram o status do cacau, tornando-o um elemento central de sua cultura. Eles bebiam uma infusão amarga de cacau moído, misturado com água, pimenta e especiarias.
Os Astecas também adotaram o cacau, chamando sua bebida de xocoatl. Para eles, era um estimulante poderoso, com propriedades energéticas e afrodisíacas.
Mas o cacau era mais do que um luxo: era uma moeda valiosa. Para se ter uma ideia, 100 grãos de cacau podiam comprar um escravo ou uma refeição. Imagine se pudéssemos pagar as contas hoje em dia com barras de chocolate?
A chegada do chocolate na Europa
No século XVI, com a chegada dos espanhóis à América, o cacau desembarcou na Europa. Rapidamente, os europeus perceberam que aquele líquido amargo poderia ficar muito mais interessante com um toque de açúcar e leite.
Assim, o chocolate se transformou em uma bebida sofisticada e adocicada, digna da aristocracia. Na época, tanto o açúcar quanto o mel eram usados para suavizar seu sabor intenso.
No século XVII, a febre do chocolate se espalhou pela França, Itália e Inglaterra. Em 1657, Londres inaugurou sua primeira loja especializada, um marco tão relevante quanto a chegada do primeiro drive-thru nos tempos modernos.
A loja, administrada por um imigrante francês, promovia o chocolate como um elixir exótico e benéfico para a saúde – praticamente um superalimento da época!
Enquanto isso, os coffee houses ingleses adicionaram o chocolate quente ao cardápio, transformando-o em um símbolo de status e sofisticação. O problema? O cacau era um artigo de luxo, acessível apenas para a nobreza. Se existisse Instagram naquela época, uma xícara de chocolate quente renderia muitos likes e seguidores!
A Revolução Industrial e a democratização do chocolate
Nos séculos XVIII e XIX, a Revolução Industrial transformou a produção do chocolate, tornando-o acessível para as massas. Algumas inovações mudaram sua história:
- Separar a manteiga de cacau (1828): O químico holandês Coenraad Van Houten desenvolveu uma prensa hidráulica que resultou no cacau em pó, tornando o chocolate mais versátil;
- Primeira barra de chocolate (1847): A empresa britânica J.S. Fry & Sons misturou manteiga de cacau, açúcar e cacau em pó, criando o chocolate sólido;
- Chocolate ao leite (1875): Daniel Peter, em parceria com Henri Nestlé, desenvolveu um chocolate mais cremoso e suave;
- Conchagem (1879): Rodolphe Lindt refinou a textura do chocolate, garantindo que ele derretesse suavemente na boca – um avanço tão relevante quanto a invenção do ar-condicionado nos dias quentes.
Quem produz e quem consome mais?
Atualmente, a produção de cacau está concentrada na África Ocidental, enquanto os maiores produtores de chocolate incluem Estados Unidos, Suíça, Alemanha e Bélgica.
No quesito consumo, os europeus são campeões, com destaque para os suíços, que devoram, em média, de oito a dez quilos de chocolate por ano!