Santinho não autorizado da Pitiu, a candidata do Partido da Arte! (Créditos: portal spriomais)
Os santinhos tiveram origem por volta do ano de 1423 e tinham cunho religioso, cenas religiosas inicialmente pintadas à mão e depois com processos de xilogravura e litografia.
Litografia é um processo de impressão que utiliza uma pedra polida como matriz baseada na repulsão entre a água e o óleo. Toulouse Lautrec e Roberto Burle Marx fizeram belíssimas litogravuras. E a xilogravura tem a madeira como matriz.
Aqui em São José dos Campos, tínhamos um ateliê público para práticas e ensino de técnicas de gravura; os equipamentos continuam lá, tem até nome na porta de entrada em homenagem ao pintor Johan Gütlich, mas continua desativado. Como tudo que não se mantém em uso, irá se deteriorar e depois será descartado. Já vimos isso algumas vezes.
Mas se você se interessa por essas técnicas ancestrais maravilhosas temos no Atelier De Etser prensas e orientações técnicas com artistas.
Os santinhos promoviam a devoção de determinados santos e eram distribuídos nos rituais da igreja católica, como os funerais, casamentos, batizados etc. Eram financiados por aqueles que precisavam pagar alguma promessa alcançada.
Palhaços, malabaristas e empreendedores de paçoca perderam seus postos em semáforos para propagandas móveis (não podem ser fixas). Inventaram aquelas bandeiras verticais que balançam e têm base pesada (mas não são fixas, tá!) enfileiradas com correligionários, simpatizantes e agregados carregados de santinhos para distribuir.
A ocupação do espaço público com esses santinhos, santões, é uma poluição estética com imagens clichês. Repetitivas, monótonas, cansativas e com poder de ocupar o espaço público que nenhum malabarista ou palhaço profissional tem. É preciso aprovação para ocupar ou se promover na rua, vender seu serviço.
Fonte de inspiração formal e de conteúdo, os santinhos migraram para as campanhas políticas. Não mais com xilogravuras e litografias, mas com fotos. E seguiram o sistema de distribuição, e também às vezes financiados por promessas a serem alcançadas. Tem até aplicativo grátis pra você fazer seu santinho pela internet. Tenta lá, qual seria seu slogan e foto de perfil?
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Santinho é também conhecido como folder, quando tem mais de uma página. Já a expressão “santo do pau oco” data do século XVII e teria surgido em Minas Gerais. Para driblar os altos impostos, os mineradores escondiam o pó de ouro dentro de esculturas ocas de santos feitas de madeira. Um belo exemplo de Artivismo já no Brasil Colônia.
A expressão “santo do pau oco” acabou se consagrando no Brasil para designar pessoas falsas, ou que desejam aparentar uma coisa, sendo, em essência, outra.
“Oft hafa fagrar hnetur fúinn kjarna”, ditado da Islândia que quer dizer “belas nozes frequentemente são podres por dentro” é muito parecido com nosso “por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento”. Seria possível olhar essas imagens além da primeira camada clichê?
Entre ilusão e realidade, a pintura de um cachimbo nos trouxe novas questões sobre a palavra e a pintura quase um século atrás. Afinal, um cachimbo pintado não era o cachimbo objeto. Era sua representação.
O pintor surrealista belga René Magritte (1898-1967) questionava nossa percepção da realidade e as possibilidades de representá-la tensionada pelo que seria verdade e ficção. Nada mais atual do que esse tema.
Magritte no século XXI contribuiria muito com seus estudos e questões sobre sua obra a Traição da Imagem acrescentando a Traição da Palavra, a Traição da Estética, a Traição do Eleitorado, a Traição da Humanidade etc.
Nossa constelação de traições está boiando em nossos traços culturais aguardando serem assimiladas pelas comunidades. Serão? A imagem e o simbólico estão espremidos tecnologicamente até a ultima gota e afetam dramaticamente nosso poder de percepção da realidade. O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis afirma que até 2036 nós não saberemos o que é verdade, a não ser que sejamos testemunhas do fato.
Obra “Persistência da Memória”, de Salvador Dalí (1931); óleo sobre tela; 24,1 x 33 cm; Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (Créditos: Reprodução/Internet)
A “Persistência da Memória“ (1931) de Salvador Dalí subvertia a lógica do cotidiano. Seus relógios derretidos numa paisagem árida estão hoje por toda parte nos campos incendiados juntamente com animais, casas e plantações. Um século depois, o surrealismo é real com seu desafio às noções tradicionais e lineares.
Aparente non sense da realidade um cachimbo pintado e relógios derretidos simulam o século passado na atualidade. A arte sempre integrou as manifestações humanas seja como ferramenta expressiva, os santinhos na idade media, seja como expressão dos acontecimentos, os relógios derretidos.
Nos falta vocabulário para nominar a inédita realidade constrangedora, abusiva, agressiva, dos discursos de políticos que oprimem e perseguem aqueles políticos e cidadãos comuns que divergem e não compactuam com essas práticas.
Gritos com frases curtas cuspidas de corpos agressivos e testas franzidas. Imagens construídas com olhos quase sempre arregalados como pragas orgulhosas que se exibem no Coliseu das telinhas.
Um caldo de manipulação explícita para nos atrair através dessas estratégias que parecem simples e que muitos se encantam, reconhecem-se e desejam ser iguais. A superficialidade mais rasa de um discurso que tem força para contaminar nossa profunda essência e revelar desejos até então ocultos.
O que leva alguém a abrir mão da própria individualidade, identidade e sonhos para aplaudir e defender gritos de insanidades agressivas? Um cachimbo pintado se tornou o próprio cachimbo e relógios continuam derretendo. Mas a arte é resistência e não iremos assimilar pela agressividade a traição da imagem e muito menos a das palavras. Sabemos muito bem ler as outras camadas e enxergar o bolor podre por baixo.
Abertura do poema “Formas do Nu”
A aranha passa a vida
tecendo cortinados
com o fio que fia
de seu cuspe privado.
A Traição a Magritte (Créditos: Arquivo Pessoal/Pitiu Bomfin)
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