2024 não começou bem para a Ucrânia. No campo de batalha, a situação é difícil. Os ucranianos foram forçados a se retirar da cidade-fortaleza de Avdiivka, que aguentava ataques russos já desde 2014. No Congresso americano, à sombra do possível retorno de Trump, continua sendo bloqueado um pacote de ajuda militar essencial, sem o qual será difícil para a Ucrânia continuar se defendendo sem novas retiradas.
(Foto: Reprodução/Shutterstock)
Apesar das vitórias em outras frentes, como o recente afundamento de mais navios de guerra russos (já são 3 esse ano), a situação é espinhosa.
Talvez por conta desta nova urgência, vimos recentemente uma mudança notável no tom e nas atitudes dos aliados europeus.
Um desses momentos foi a iniciativa checa de procura e aquisição de munições de artilharia para a Ucrânia em mercados não-europeus. A artilharia é o componente essencial desta guerra, é um ponto forte da Rússia (que nunca se desfez de seus estoques da era soviética) e é um ponto fraco da Europa, cuja produção de munições continua sendo lenta e insuficiente para a defesa da Ucrânia.
Com o apoio de vários aliados (entre os quais Alemanha, França e Holanda), já foi obtido praticamente todo o financiamento necessário para enviar 1 milhão de munições à Ucrânia. Isto, aliás, é bem menos do que parece. Para se equiparar ao ritmo atual da Rússia de 10 mil disparos de artilharia por dia, 1 milhão de obuses duraria pouco mais de 3 meses.
Outro momento importante foi o recente pronunciamento em que Macron aventou a possibilidade de membros da OTAN enviarem tropas para atuar na Ucrânia — não necessariamente em combate, mas em funções de treinamento e de operação de sistemas avançados.
Como bem disse Macron, por que os aliados da Ucrânia continuam se impondo limites e “linhas vermelhas”, sendo que a Rússia não aceita limite algum, chegando inclusive a brandir, com frequência, o sabre das ameaças de guerra nuclear?
O fato é que, toda vez que os aliados fazem algum pronunciamento do tipo “Nunca enviaremos tropas à Ucrânia” ou “A Ucrânia não pode usar nossas armas para atingir território russo”, isso fortalece a Rússia.
Esse tipo de política é jogar com uma mão nas costas. É o proverbial tiro no pé. E é exatamente o que a Rússia quer quando fala do risco de “escaladas” ou quando ameaça ataques nucleares.
Aliás, a Rússia reagiu previsivelmente à declaração de Macron, afirmando que a presença de tropas da OTAN na Ucrânia seria inaceitável e arriscaria pôr a OTAN em guerra com a Rússia. Mas, ao mesmo tempo em que diz isso, a TV russa também anuncia toda semana que tropas da OTAN foram eliminadas em solo ucraniano (sem prova alguma, claro). E Putin frequentemente afirma já estar em guerra com a OTAN. Então, decida-se, Rússia. Ou vocês já estão combatendo contra tropas da OTAN, ou vocês “nunca poderiam aceitar” a presença delas na Ucrânia. Ou isto ou aquilo.
Voltando à fala de Macron, vale notar que, embora vários aliados tenham reagido negativamente, afirmando que jamais enviariam soldados para a Ucrânia, o mais provável é que já haja forças militares de aliados europeus ajudando os ucranianos a se defender. É, inclusive, isso mesmo que insinuou o Chanceler da Alemanha Olaf Scholz, numa gafe e tremenda violação da confiança dos aliados recente, quando recusou a enviar os mísseis Taurus de longo alcance porque isso implicaria enviar tropas para operar os sistemas, “o que [já fazem] os britânicos e franceses”.
A meu ver, Macron está certíssimo. O melhor que os aliados podem fazer é não excluir nenhuma jogada da partida. Tudo fica em aberto, deixando à Rússia a tarefa de calcular uma quantidade muito maior de possíveis ataques, reviravoltas políticas e riscos na guerra.
A política do presidente Eisenhower, nos anos ’50, nos dá um bom exemplo de como manejar um confronto não-direto entre potências nucleares, mas sem levar a uma guerra direta e nuclear. Ao conduzir a guerra da Coreia e ao defender Taiwan contra os comunistas chineses, Eisenhower adotou uma política de clareza estratégica, mas ambiguidade tática.
Clareza: defenderemos nossos aliados e usaremos todos os recursos a nosso dispor se for preciso. Eles contam com nosso apoio resoluto.
Ambiguidade: ninguém sabe se ou a que ponto tomaremos a decisão de usar armas nucleares. Se os chineses bombardeiam algumas ilhas não-habitadas de Taiwan, podemos nos dar ao luxo de não retaliar.
Com essa abordagem, o aliado mantém a flexibilidade de agir onde e conforme quiser. E evitam-se demonstrações de fraqueza, como a famosa “linha vermelha” de Obama em relação ao uso de armas químicas na Síria.
Além do pronunciamento de Macron, ontem o governo polonês também indicou que “a presença de tropas da OTAN na Ucrânia não é impensável”. Um vazamento recente indicou que os aliados podem estar se preparando a ajudar a Ucrânia a derrubar a ponte de Kerch, que liga a Crimeia ocupada ao território russo. E os finlandeses, que têm bastante experiência histórica em se defender (com sucesso) contra a Rússia, também indicaram recentemente que as armas que a Finlândia envia para a Ucrânia podem ser usadas também para acertar alvos militares em solo russo.
Esta mudança de tom ainda é algo menor, mas merece atenção. Pela primeira vez nos dois anos da invasão russa em grande escala, há indícios sérios de que os aliados europeus começam a se livrar dos empecilhos auto-infligidos na oposição à Rússia.
Nesse momento em que o apoio futuro dos Estados Unidos é incerto, este aumento na participação europeia é mais que bem-vindo.
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