Esta sexta-feira, numa prisão isolada na Sibéria, morreu Alexei Navalny — o maior crítico e opositor político de Putin.
Navalny em 2020, antes de ser envenenado pelo Kremlin. Foto: BBC
A notícia está em todas as manchetes, e por bom motivo. Em um país onde o valor das liberdades individuais e da própria vida é mais baixo que o rublo em 2024, Navalny era talvez a última figura pública de proeminência a se opor a Putin. Era um homem de força interior, liderança e incrível coragem. “O melhor presidente que a Rússia nunca teve”, como muito bem disse o Ministro das Relações Exteriores polonês, Radek Sikorski.
Cinco meses depois do envenenamento que o levou às portas da morte em 2020, Navalny tomou a decisão de retornar à Rússia, apesar do enorme risco pessoal. Chegando a Moscou, foi preso por “extremismo” — uma acusação oca de que a Rússia se vale para perseguir opositores políticos e que faz lembrar o epíteto de “inimigo do povo” que era usado para os famosos julgamentos encenados dos tempos soviéticos.
Desde então, as autoridades mantiveram Navalny encarcerado. Após um pretenso julgamento, foi decretada uma pena de 9 anos na cadeia, à qual mais tarde foi adicionada outra sentença de mais 19 anos.
Em 2023, Navalny foi transferido para uma prisão de alta segurança na Sibéria, onde ficam os criminosos mais perigosos da Rússia. Ou será? Não. Na realidade, os criminosos mais perigosos — e piores — estão em liberdade, no Kremlin. Chamam-se Putin, Medvedev, Lavrov, Dugin e todos os demais asseclas da ditadura russa.
Finalmente, esta sexta-feira, as autoridades da cadeia declararam a morte de Navalny. De acordo com elas, sentiu-se mal ao caminhar e logo após caiu, desmaiou e não recobrou mais os sentidos.
Será? É tão altamente improvável que a morte de Navalny tenha sido de causas naturais que chega a ser absurdo discutir a ideia. Aliás, dois dias antes, quando foi visitado na cadeia pela última vez, ele se encontrava em boa saúde.
Podemos especular se foi ou não assassinado, se morreu durante um espancamento, se foram os maus tratos acumulados que por fim o liquidaram, mas para quê? Sua morte, sem sombra de dúvida, é consequência direta das ações de Putin — e mais provavelmente vem de uma ordem direta do ditador russo.
No passado, Putin tinha vários opositores. Em sua maioria, foram assassinados, como Boris Nemtsov e muitos outros. Alguns fugiram do país para não mais voltar, como é o caso de Garry Kasparov. Outros, ainda, como Kara-Murza, foram condenados à prisão por décadas.
Agora, já não existe na Rússia oposição política que valha o nome. Prigozhin, chefe do Grupo Wagner — e talvez quem mais perto chegou de conseguir desafiar Putin diretamente — foi eliminado. Igor Girkin, líder militar (e criminoso buscado pelo Tribunal Penal Internacional) que havia começado a criticar a liderança de Putin, foi preso logo após. Outros opositores estão em auto-exílio por amor à própria vida.
Putin está consolidando seu poder, e a essa altura, após dois anos de sua invasão em grande escala na Ucrânia, ele claramente se sente confortável o suficiente para eliminar sem muita fanfarra os potenciais perigos que sobram.
Navalny era extremamente popular com a “oposição liberal” russa, que de liberal não tem tanto assim. Mas será que os russos vão protestar em grandes números, exigir uma mudança de governo, demandar um fim à guerra que está matando dezenas de milhares de seus compatriotas todos os meses?
Se os anos passados são indicação do futuro, a probabilidade de manifestações sérias parece ínfima. Já vão os policiais russos, em São Petersburgo e Moscou, removendo as flores e mensagens deixadas em lugares públicos pelos seguidores de Navalny.
Quem vai se arriscar e se opor à opressão do Kremlin? Será a Rússia capaz de replicar a capacidade de ação coletiva da Ucrânia, onde em 2014 o povo se levantou contra um governo ilegítimo, mesmo com grande sacrifício de vidas, enfrentando espancamentos da polícia e tiros de snipers?
Provavelmente não. A mentalidade de fatalismo e submissão à autoridade (legítima ou não), continua sendo o maior inimigo do povo russo.
Talvez justamente nisso se encontre a grande herança de Navalny. Sim, podemos nos lembrar dele apenas como uma figura política trágica, alguém que não se estranharia encontrar nas páginas de Plutarco: homem de coragem a quem o serviço à pátria custou a vida. Mas, mais do que isso, ele foi alguém que mostrou aos russos que é possível vencer o fatalismo e a apatia, é possível se opor à opressão histórica em que o “mundo russo” está embebido da cabeça aos pés, é possível resistir.
“Se decidirem me matar, quer dizer que somos incrivelmente fortes”. Palavras fatídicas de Navalny.
Navalny na prisão, na Rússia. Foto: BBC
Pois agora ele foi morto. Sobra a dúvida se serão os russos, algum dia, capazes de se erguer ao nível do sacrifício dele e mostrar que possuem esta força na qual ele acreditava.
A alternativa é prosseguirem os “bons russos” a empurrar suas vidas para a frente, cabisbaixos, apáticos, mergulhados em sua pequenez, crentes na própria insignificância, evitando olhar para os lados, alheios à tentativa de genocídio que outros russos estão cometendo no país vizinho.
Outra alternativa, pior ainda: uma radicalização ainda maior do já agressivo nacionalismo russo, que justifica invasões e expansões imperiais à custa do sofrimento de incontáveis inocentes — tudo por um orgulho nacional absurdo, por um senso de inferioridade frente ao mundo ocidental mais desenvolvido e feliz.
Uma vez mais, o passado — recente e distante — não nos enche de otimismo quanto às chances de os russos comuns tomarem ação contra os políticos que os dominam.
E que chance pode ter um país onde os bons não fazem nada?
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