
Imagina um time que entra em campo com um goleiro, um zagueiro e um atacante. Sem meio de campo, sem lateral, sem técnico. O que acontece? Toma gol, perde o jogo e a torcida vai embora antes dos 45 do segundo tempo.
Agora troque o campo de futebol pelo mundo corporativo. Troque os jogadores por siglas: E, de “Environmental” (Ambiental); S, de Social; G, de Governança. O que muitas empresas ainda não entenderam é que ESG só funciona em equipe. Não adianta ter o melhor atacante (Social) se a zaga é fraca (Ambiental). E, para completar o placar do desastre, quando a comissão técnica (Governança) não oferece orientação adequada ou falha na escalação do time.
E o Brasil? Ainda está tropeçando na escalação.
O que está em campo?
Segundo a PwC Brasil, apenas 33% das empresas listadas na B3 divulgam dados ESG de forma estruturada. E dessas, a maioria foca no “E” (Ambiental), com ações pontuais (plantio de árvores, redução de resíduos, neutralização de carbono), muitas vezes mais para a foto do que para o impacto real.
Mas e o “S” e o “G”?
A KPMG apontou em seu último relatório global de ESG Reporting que o pilar social ainda é o menos desenvolvido nas estratégias empresariais, especialmente na América Latina. Isso inclui desde diversidade e inclusão até condições dignas de trabalho, segurança e bem-estar dos funcionários
Já o “G”, que deveria ser o mentor técnico desse time, está em sua maioria, ausente e não comprometido. E governança fraca significa decisões mal tomadas, riscos não identificados, crises mal geridas e “perda do campeonato”.
O time adversário é o tempo
Enquanto isso, o tempo corre. O painel IPCC da ONU já indicou que a América Latina sofrerá impactos severos se continuar falhando na agenda climática e social. Ondas de calor extremas, colapso hídrico, migrações forçadas. E isso não é coisa do futuro — o Rio Grande do Sul está aí para provar que tragédias não são mais “possibilidades”, mas realidades aceleradas por descaso, omissão e má gestão.
O Banco Mundial estima que o preço do “não fazer ESG” pode significar perdas de até US$ 23 trilhões na economia global até 2050, caso o aquecimento global não seja contido e as desigualdades sigam crescendo.
Time que joga junto, ganha junto
A boa notícia? Alguns times estão jogando bola de verdade.
- A Natura, por exemplo, integra ESG no seu modelo desde os anos 2000, com forte atuação ambiental na Amazônia, mas também com políticas sólidas de governança e inclusão social.
- A Unilever tem se destacado globalmente por integrar metas climáticas à remuneração executiva e por liderar ações concretas em diversidade e impacto comunitário em suas cadeias.
- E programas como o BNDES Garagem/Quintessa estão ajudando a colocar startups socioambientais e sustentáveis no campo, como é o caso da própria O2eco Tecnologia Ambiental, que atua na regeneração de corpos hídricos e na economia circular de resíduos.
ESG é coletivo ou não é!
Assim como no futebol, o craque isolado pode até brilhar por um tempo, mas nenhum campeonato se ganha sozinho. ESG não deve ser um selo, nem um “checklist de marketing”. É uma mudança de cultura. E cultura se faz com coerência, com estratégia e, acima de tudo, com jogo coletivo.
Se o Brasil quiser vencer o jogo da nova economia, vai ter que aprender a escalar ESG como um time completo. Com preparo físico (E), inteligência emocional (S) e disciplina tática (G).
A torcida — formada por consumidores, investidores e a sociedade inteira — já está atenta. E não tem mais paciência para times que só entram em campo para fazer firula.
Ou escalamos melhor esse time, ou levaremos outra goleada (mais dolorosa) num futuro bem próximo.
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