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Categoria: Educação Conectada

Celular na sala de aula: proibir ou integrar na educação?

Redação spriomais • Publicado em 30/09/2024, às 17:08 • Atualizado em 30/09/24, às 16:40

Quero trazer como primeiro texto nesta coluna um tema polêmico e desde já, pedir a reflexão de vocês e interação sobre o assunto: celular na sala de aula, pode?

O uso de celulares na sala de aula tem sido amplamente discutido no campo da educação. À medida que a tecnologia avança e se torna parte integral da vida cotidiana, a presença de dispositivos móveis nas mãos de estudantes desafia as formas tradicionais de ensino e exige que educadores e gestores reflitam sobre as melhores práticas.

A questão “proibir ou não o uso do celular em sala de aula” traz à tona diferentes perspectivas sobre o papel dessa ferramenta na educação, seus impactos no aprendizado e até mesmo sobre quem deve tomar decisões acerca de sua regulamentação.

Neste contexto, o debate sobre a proibição do uso de celulares em sala de aula também coloca o Ministério da Educação (MEC) no centro da discussão: seria essa uma decisão que cabe ao MEC ou deve ser deixada para cada escola, professor ou rede de ensino?

vista superior de crainaç mexendo em rede social no celular enquanto estuda, com mesa cheis de materiais escolares como caderno, lápis, estojo, canetas e livros

(Créditos: Freepik)

Diferentes formas de uso do celular na sala de aula

Atualmente, os celulares são quase onipresentes na vida dos jovens. O celular se tornou uma ferramenta acessível e poderosa, que pode ser usada para diversas finalidades, incluindo as práticas pedagógicas e apoio na hora de estudar.

Como professora, e consultora, atuo na área de formação e desenvolvimento de professores e sei que a tecnologia oferece uma vasta gama de possibilidades educacionais, uso inclusive nas minhas formações para professores, aplicativos para verificação de aprendizagem (como o MentimeterPadlet e Kahoot), pesquisa rápida (Google Acadêmico), materiais interativos, aprendizagem em equipes e pares (Socrative e TBL Active) e toda tecnologia tem um grande potencial para engajar o estudante no processo de aprendizagem.

Entretanto, o uso de celulares em sala de aula nem sempre é visto de forma positiva. Muitos professores relatam dificuldades em manter o foco dos alunos, que frequentemente se distraem com redes sociais, jogos ou outras funcionalidades do aparelho (Será? Ou será que faltam técnicas e formação para esses professores para gerar o engajamento necessário?).

O lado pedagógico: quais os benefícios e quais os desafios?

Os celulares, quando utilizados de forma planejada e orientada, podem enriquecer o processo de ensino e aprendizado. Por exemplo, durante uma aula de geografia, o celular pode ser uma ferramenta útil para explorar mapas interativos ou para acessar dados atualizados sobre mudanças climáticas.

Em uma aula de ciências, aplicativos de simulação podem complementar a compreensão de conceitos complexos. Outra vantagem do uso de dispositivos móveis é a personalização do aprendizado, já que os alunos podem acessar conteúdos de acordo com suas necessidades e ritmos de aprendizado.

Por outro lado, a presença contínua do celular em sala de aula também traz desafios. O mais evidente é a distração. A capacidade que os smartphones têm de fornecer entretenimento imediato pode ser um grande obstáculo para a concentração dos estudantes.

Por isso, o planejamento da aula pelo professor, o uso de metodologias ativas e de colocar o estudante sempre engajado em atividades é de extrema importância.

O que vemos em outros países

Ao redor do mundo, diferentes países adotaram políticas variadas sobre o uso de celulares em sala de aula. A França, por exemplo, proibiu o uso de smartphones em escolas primárias e secundárias, como uma medida para reduzir distrações e promover maior interação entre os alunos.

A legislação francesa visa criar um ambiente mais propício ao aprendizado e melhorar a convivência social dentro das instituições. A proibição é aplicada de forma abrangente, incluindo recreios e intervalos, e foi amplamente apoiada por pais e educadores.

Por outro lado, alguns países têm explorado o uso de celulares como ferramentas pedagógicas. Na Dinamarca, o uso de smartphones é permitido e, em alguns casos, incentivado, desde que seja parte de atividades educativas organizadas pelos professores.

O sistema educacional dinamarquês valoriza a autonomia e a capacidade dos alunos de gerenciar suas ferramentas tecnológicas, utilizando aplicativos e recursos digitais para pesquisas, atividades colaborativas e até avaliações.

No Japão, o Ministério da Educação inicialmente estabeleceu diretrizes rígidas para limitar o uso de celulares nas escolas, argumentando que eles interferiam no aprendizado e contribuíam para problemas como bullying digital.

Contudo, nos últimos anos, o governo japonês tem flexibilizado essa postura, permitindo o uso de smartphones em certas circunstâncias educacionais, pois perceberam que, em uma sociedade altamente tecnológica, ignorar o potencial dos dispositivos móveis seria uma oportunidade perdida para enriquecer o processo educacional.

A ênfase no Japão tem sido em treinamento de professores para a utilização de dispositivos móveis como ferramentas educacionais.

Acesso à tecnologia e desigualdade

Em muitas escolas de classe A, o uso de tablets e computadores em sala de aula já é uma realidade consolidada, substituindo o uso do celular. Nessas instituições, a tecnologia é integrada de forma intencional ao processo de ensino, com a finalidade de engajar os estudantes por meio de metodologias ativas, como a sala de aula invertida e a aprendizagem baseada em projetos.

Essas abordagens incentivam a participação ativa do aluno no processo de aprendizado, promovendo maior autonomia e um envolvimento mais profundo com os conteúdos. Diversos estudos indicam que a integração planejada de tecnologia em metodologias ativas pode melhorar significativamente os resultados educacionais, pois amplia as possibilidades de aprendizado individualizado e colaborativo.

No entanto, essa realidade de escolas privadas contrasta de maneira significativa com o cenário de muitas escolas públicas ou de áreas menos favorecidas. Nessas instituições, o acesso a tecnologias como tablets e computadores é limitado ou inexistente.

A falta de infraestrutura, de equipamentos e até de conectividade em muitas escolas públicas brasileiras cria uma barreira para que os alunos possam usufruir do benefício que o uso da tecnologia, como ferramenta de suporte a aprendizagem pode trazer.

Enquanto alunos de escolas particulares têm a chance de desenvolver habilidades digitais e cognitivas que serão cruciais no mercado de trabalho, os estudantes das redes públicas ficam restritos ao ensino tradicional, muitas vezes sem o suporte de tecnologias que poderiam tornar o aprendizado mais dinâmico e envolvente. A falta de políticas públicas eficazes que garantam o acesso equitativo à tecnologia é um fator que precisa ser considerado.

Cabe ao MEC proibir o uso do celular?

A questão sobre quem deve decidir se o uso de celulares em sala de aula deve ser proibido ou regulamentado é uma das mais delicadas nesse debate.

O MEC, enquanto órgão máximo da educação no Brasil, tem o papel de estabelecer diretrizes gerais para o sistema educacional. No entanto, é importante questionar se uma política centralizada sobre o uso de celulares seria benéfica.

O Brasil é um país de grande diversidade, e as necessidades das escolas em áreas rurais podem ser muito diferentes das de escolas urbanas. Além disso, os métodos de ensino variam amplamente, e uma abordagem uniforme pode não ser adequada para todos os contextos educacionais.

Acredito que o papel do MEC nesse debate deve ser o de fornecer orientações claras e flexíveis, que permitam às escolas e redes de ensino tomar decisões informadas com base em suas realidades específicas. É preciso orientar e formar professores para práticas ativas e fluência digital aplicada à educação.

Espero que esse texto nos leve a uma profunda reflexão. Convido aqui, meus pares, educadores, a refletirem comigo e trazerem seu ponto de vista.

Minha opinião: Precisamos de políticas públicas, precisamos de tecnologia, sim, como ferramenta de suporte ao processo de aprendizagem na sala de aula, precisamos de projetos de formação e desenvolvimento docente (metodologias e tecnologias com foco em fluência digital nas práticas pedagógicas) e isso porque ainda não falei de outro tema polêmico, que é a IA na sala de aula. Mas esse fica para nossa próxima leitura.

Nossa educação tem muito o que evoluir!

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