Quero trazer como primeiro texto nesta coluna um tema polêmico e desde já, pedir a reflexão de vocês e interação sobre o assunto: celular na sala de aula, pode?
O uso de celulares na sala de aula tem sido amplamente discutido no campo da educação. À medida que a tecnologia avança e se torna parte integral da vida cotidiana, a presença de dispositivos móveis nas mãos de estudantes desafia as formas tradicionais de ensino e exige que educadores e gestores reflitam sobre as melhores práticas.
A questão “proibir ou não o uso do celular em sala de aula” traz à tona diferentes perspectivas sobre o papel dessa ferramenta na educação, seus impactos no aprendizado e até mesmo sobre quem deve tomar decisões acerca de sua regulamentação.
Neste contexto, o debate sobre a proibição do uso de celulares em sala de aula também coloca o Ministério da Educação (MEC) no centro da discussão: seria essa uma decisão que cabe ao MEC ou deve ser deixada para cada escola, professor ou rede de ensino?
Atualmente, os celulares são quase onipresentes na vida dos jovens. O celular se tornou uma ferramenta acessível e poderosa, que pode ser usada para diversas finalidades, incluindo as práticas pedagógicas e apoio na hora de estudar.
Como professora, e consultora, atuo na área de formação e desenvolvimento de professores e sei que a tecnologia oferece uma vasta gama de possibilidades educacionais, uso inclusive nas minhas formações para professores, aplicativos para verificação de aprendizagem (como o Mentimeter, Padlet e Kahoot), pesquisa rápida (Google Acadêmico), materiais interativos, aprendizagem em equipes e pares (Socrative e TBL Active) e toda tecnologia tem um grande potencial para engajar o estudante no processo de aprendizagem.
Entretanto, o uso de celulares em sala de aula nem sempre é visto de forma positiva. Muitos professores relatam dificuldades em manter o foco dos alunos, que frequentemente se distraem com redes sociais, jogos ou outras funcionalidades do aparelho (Será? Ou será que faltam técnicas e formação para esses professores para gerar o engajamento necessário?).
Os celulares, quando utilizados de forma planejada e orientada, podem enriquecer o processo de ensino e aprendizado. Por exemplo, durante uma aula de geografia, o celular pode ser uma ferramenta útil para explorar mapas interativos ou para acessar dados atualizados sobre mudanças climáticas.
Em uma aula de ciências, aplicativos de simulação podem complementar a compreensão de conceitos complexos. Outra vantagem do uso de dispositivos móveis é a personalização do aprendizado, já que os alunos podem acessar conteúdos de acordo com suas necessidades e ritmos de aprendizado.
Por outro lado, a presença contínua do celular em sala de aula também traz desafios. O mais evidente é a distração. A capacidade que os smartphones têm de fornecer entretenimento imediato pode ser um grande obstáculo para a concentração dos estudantes.
Por isso, o planejamento da aula pelo professor, o uso de metodologias ativas e de colocar o estudante sempre engajado em atividades é de extrema importância.
Ao redor do mundo, diferentes países adotaram políticas variadas sobre o uso de celulares em sala de aula. A França, por exemplo, proibiu o uso de smartphones em escolas primárias e secundárias, como uma medida para reduzir distrações e promover maior interação entre os alunos.
A legislação francesa visa criar um ambiente mais propício ao aprendizado e melhorar a convivência social dentro das instituições. A proibição é aplicada de forma abrangente, incluindo recreios e intervalos, e foi amplamente apoiada por pais e educadores.
Por outro lado, alguns países têm explorado o uso de celulares como ferramentas pedagógicas. Na Dinamarca, o uso de smartphones é permitido e, em alguns casos, incentivado, desde que seja parte de atividades educativas organizadas pelos professores.
O sistema educacional dinamarquês valoriza a autonomia e a capacidade dos alunos de gerenciar suas ferramentas tecnológicas, utilizando aplicativos e recursos digitais para pesquisas, atividades colaborativas e até avaliações.
No Japão, o Ministério da Educação inicialmente estabeleceu diretrizes rígidas para limitar o uso de celulares nas escolas, argumentando que eles interferiam no aprendizado e contribuíam para problemas como bullying digital.
Contudo, nos últimos anos, o governo japonês tem flexibilizado essa postura, permitindo o uso de smartphones em certas circunstâncias educacionais, pois perceberam que, em uma sociedade altamente tecnológica, ignorar o potencial dos dispositivos móveis seria uma oportunidade perdida para enriquecer o processo educacional.
A ênfase no Japão tem sido em treinamento de professores para a utilização de dispositivos móveis como ferramentas educacionais.
Em muitas escolas de classe A, o uso de tablets e computadores em sala de aula já é uma realidade consolidada, substituindo o uso do celular. Nessas instituições, a tecnologia é integrada de forma intencional ao processo de ensino, com a finalidade de engajar os estudantes por meio de metodologias ativas, como a sala de aula invertida e a aprendizagem baseada em projetos.
Essas abordagens incentivam a participação ativa do aluno no processo de aprendizado, promovendo maior autonomia e um envolvimento mais profundo com os conteúdos. Diversos estudos indicam que a integração planejada de tecnologia em metodologias ativas pode melhorar significativamente os resultados educacionais, pois amplia as possibilidades de aprendizado individualizado e colaborativo.
No entanto, essa realidade de escolas privadas contrasta de maneira significativa com o cenário de muitas escolas públicas ou de áreas menos favorecidas. Nessas instituições, o acesso a tecnologias como tablets e computadores é limitado ou inexistente.
A falta de infraestrutura, de equipamentos e até de conectividade em muitas escolas públicas brasileiras cria uma barreira para que os alunos possam usufruir do benefício que o uso da tecnologia, como ferramenta de suporte a aprendizagem pode trazer.
Enquanto alunos de escolas particulares têm a chance de desenvolver habilidades digitais e cognitivas que serão cruciais no mercado de trabalho, os estudantes das redes públicas ficam restritos ao ensino tradicional, muitas vezes sem o suporte de tecnologias que poderiam tornar o aprendizado mais dinâmico e envolvente. A falta de políticas públicas eficazes que garantam o acesso equitativo à tecnologia é um fator que precisa ser considerado.
A questão sobre quem deve decidir se o uso de celulares em sala de aula deve ser proibido ou regulamentado é uma das mais delicadas nesse debate.
O MEC, enquanto órgão máximo da educação no Brasil, tem o papel de estabelecer diretrizes gerais para o sistema educacional. No entanto, é importante questionar se uma política centralizada sobre o uso de celulares seria benéfica.
O Brasil é um país de grande diversidade, e as necessidades das escolas em áreas rurais podem ser muito diferentes das de escolas urbanas. Além disso, os métodos de ensino variam amplamente, e uma abordagem uniforme pode não ser adequada para todos os contextos educacionais.
Acredito que o papel do MEC nesse debate deve ser o de fornecer orientações claras e flexíveis, que permitam às escolas e redes de ensino tomar decisões informadas com base em suas realidades específicas. É preciso orientar e formar professores para práticas ativas e fluência digital aplicada à educação.
Espero que esse texto nos leve a uma profunda reflexão. Convido aqui, meus pares, educadores, a refletirem comigo e trazerem seu ponto de vista.
Minha opinião: Precisamos de políticas públicas, precisamos de tecnologia, sim, como ferramenta de suporte ao processo de aprendizagem na sala de aula, precisamos de projetos de formação e desenvolvimento docente (metodologias e tecnologias com foco em fluência digital nas práticas pedagógicas) e isso porque ainda não falei de outro tema polêmico, que é a IA na sala de aula. Mas esse fica para nossa próxima leitura.
Nossa educação tem muito o que evoluir!
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