Enfim começamos o ano com uma boa notícia. No dia 19 de janeiro, após intensa negociação e com a participação de diversos países, iniciou-se o cessar-fogo entre Israel e o Hamas.
Começa a troca dos reféns feitos naquela invasão à festa de música eletrônica no dia 7 de outubro de 2023 por prisioneiros palestinos. Penso comigo na angústia dos familiares e amigos aguardando a divulgação da lista dos libertos e a expectativa de voltar a vê-los, abraçá-los após mais de um ano sem notícias, sem saber como estão de saúde, tanto física quanto mentalmente.
Na verdade, não só amigos e familiares — um país inteiro, todo um povo. Do outro lado da fronteira, o regresso de filhos, maridos, esposas, irmãos e irmãs que se encontravam nas prisões israelenses. Certamente, também recebidos por todo um povo, sob os abraços calorosos de seus parentes e amigos.
Deixei a coluna de culinária para discutirmos política? Claro que não. É dia de festa! E quando pensamos em festa logo nos vem à mente a alegria de podermos sentar à mesa com nossos familiares e amigos e desfrutar desse momento tão especial que, na correria do dia a dia, estamos infelizmente esquecendo.
Recordei-me da recente vinda do meu filho ao Brasil, após vários anos. Mesmo com contato constante por celular, com ligações por câmera, e mesmo indo visitá-lo, um misto de sentimentos nos envolvia — sentimentos que o quadro “Chegadas e Partidas”, apresentado no Fantástico, tenta replicar.
Mesmo sabendo que estão bem, que estão trabalhando, estudando, caminhando na vida, somos envolvidos por toda essa emoção. Não consigo me colocar no lugar desses familiares que estão há mais de um ano sem qualquer notícia…
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Obviamente que aqui corri para a cozinha preparar aqueles pratos que ele sempre gostou e que não come onde vive hoje em dia: vinagrete de feijão-manteiguinha, purê de banana-da-terra com pirarucu (peixe do Amazonas que encontrei fresco no nosso Mercadão de São José dos Campos), aquela picanha com couve-manteiga e mandioca, um pudim de leite condensado e frutas.
Caipirinha de limão, de caju. Tudo bem brasileiro. O sabor da própria comida falando: “Você está em casa”.
Nestes dias de regresso ao lar, muitos lares estarão preparando os seus banquetes. Estes, com certeza, com temperos tão especiais que não importará a qualidade dos produtos, se os pratos estão bem montados, se a mesa está bem posta ou mesmo se não há mesas ou talheres.
Amor, afeto, alegria, o fim da angústia, da solidão que as guerras causam. Hoje e nos próximos dias, a famosa e incomparável “comida de mãe” será servida.
Poderia aqui tentar adivinhar quais pratos da culinária judaica ou árabe-palestina estarão presentes, mas não conseguiria. Afinal, somente aquela pessoa que estará à frente do fogão saberá prepará-los, porque não terei os temperos tão bem empregados.
Tenho somente a certeza de que as challahs (pães trançados judaicos) e os khubz (pães árabes) ficarão mais saborosos. Que as bênçãos pronunciadas antes de degustá-los se transportem para os demais alimentos e que inundem o interior de cada um com sentimentos de paz, harmonia, esperança e sabedoria, para que possamos ter o mundo que sonhamos para todos.
Esperando que o vento da paz possa atingir Rússia, Ucrânia e todos os países que vivem seus conflitos internos, para que novos banquetes nos brindem com alegria e fraternidade.
Para o preparo de challah, recomendo o Sabores de Israel. Para o preparo de pão árabe, Árabe na Cozinha.

