
Minhas alegrias são musicais, e quando estou diante de algo inesperado, me sinto ainda mais feliz. Este tem sido meu sentimento ao lidar com caixas, plenas de surpresas, entregues por guardiães de acervos musicais ao Centro de Documentação Musical de São José dos Campos (CDM SJC).
No último dia 21 de outubro, recebi um lote de partituras e cadernos de composições escritas à mão, visivelmente antigas e do início do século 20. Entre muitos detalhes, estão títulos de danças de salão (Valsas, Polkas, Schottischs, Mazurkas), Marchas, e indicação de vários instrumentos (violino, piano, trombone, clarinete, flauta, piston). E eis que lá vem minha alegria maior: “São José dos Campos, 17/02/1905”.

Este é o documento musical mais antigo que temos conhecimento até o momento! Imaginem vocês, a pacata São José já plena de sonoridades! Este passado cultural, pouco conhecido, vai sendo desvendado pela equipe do CDM SJC, graças à confiança de cidadãs e cidadãos que vem entregando suas memórias para serem protegidas por nós.
E não para aí… a caixa-tesouro continha também partituras com o carimbo: “Theatro S. José – Propriedade e Empresa Exclusiva de José Machado”.

Quem imaginava que ali, onde é atualmente a atual Biblioteca Cassiano Ricardo, já houve bailes, festas, carnavais, companhias de teatro, cinema mudo e muita, muita música? Inaugurado em 1910, o antigo Theatro S. José recebeu até mesmo Noel Rosa e o Bando de Tangarás, em 1931!
Tenho absoluta convicção de que ainda vamos encontrar obras ainda mais antigas, e terei ainda mais e belas notícias para compartilhar sobre este fantástico passado musical da cidade de São José dos Campos! Aguardem!
A propósito… em abril participei de uma reunião no Ministério da Cultura, para levar a proposta de proteção a acervos de música para o novo Plano Nacional de Cultura. Como desdobramento ocorrerá neste sábado (15), das 10h às 12h, e online, o I Fórum Interinstitucional de Acervos Musicais no Brasil.
Uma iniciativa do Centro de Documentação Musical de São José dos Campos, coordenado por mim, Dra. Raquel Aranha, que reuniu diversos profissionais da área para estabelecer um diálogo com a Funarte (Fundação Nacional de Artes), também presente.
O Fórum foi idealizado em torno de cinco GTs (acervos, instituições, formação, difusão e políticas públicas), e incluiu musicólogas e musicólogos de importantes universidades brasileiras, além de representantes de instituições de peso, como Instituto Moreira Salles (RJ), Casa do Choro (RJ), e Musica Brasilis (RJ). Acompanhe aqui:
Participe, compartilhe! o Patrimônio Musical Brasileiro é nosso!
Raquel Aranha
Pós-doutorado em Musicologia (Unesp), Doutora e Mestre em música (Unicamp), estudou na Real Academia de Bellas Artes de San Fernando (Madri), Bacharel em Violino Barroco (Conservatório Real de Haia/Holanda), especialista em Dança Barroca e Bandolinista. Também é bióloga, (Unicamp), e se dedicou à ornitologia.
Desde 2020 preside a SOCEM (Sociedade de Cultura e Educação Musical de São José dos Campos), e em 2022 fundou o CDM SJC, projeto para a preservação de patrimônio musical em parceria com a AFAC (Associação para o Fomento da Arte e Cultura), entidade gestora do Parque Vicentina Aranha.
Dicas da Dra.
Conheça o Mapa Musical SJC, uma base de dados aberta à pesquisa sobre a história musical da cidade, compreendendo um arco de mais de 100 anos. O levantamento foi feito pelo Centro de Documentação Musical de São José.