
Lisboa está diferente esta semana. São milhares de pessoas, sotaques e ideias reunidas no Web Summit, um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do mundo.
No meio de tanta conversa sobre IA, blockchain e disrupção, há algo que me chama atenção, ou melhor, desperta uma curiosidade: quais temas da agenda ESG realmente ganham espaço aqui?
Principalmente quando falamos do pilar que sustenta todos os outros: a Governança.
Estou aqui junto com a KPMG, representando a O2eco, e percebo que, embora o futuro esteja sendo projetado em bytes e algoritmos, ele continua dependendo daquilo que sempre sustentou a vida: a água.
É curioso como o avanço tecnológico nos faz mirar nas nuvens, (as digitais e as reais) mas, muitas vezes, nos faz esquecer o básico.
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Enquanto isso, aí no Brasil, uma boa notícia: a Assembleia Legislativa do Paraná acaba de aprovar uma lei voltada à preservação dos recursos hídricos e ao incentivo de práticas que aumentem a disponibilidade de água.
Um passo importante, num momento em que o país se prepara para sediar a COP30, e o mundo volta seus olhos para a Amazônia, seus biomas e, principalmente, para a nossa capacidade de governar o que ainda temos.
A COP30 representa uma oportunidade rara de mostrarmos ao mundo que somos capazes de unir propósito e prática.
Mais do que sediar um grande evento, o desafio é mostrar boa governança coerência entre o que pregamos e o que fazemos.
Essa coerência se torna ainda mais necessária depois da recente dicotomia que vimos entre celebrar a realização da COP e, ao mesmo tempo, liberar a exploração de petróleo na mesma região.
Não se trata de ideologia, mas de consistência estratégica.
Um país que quer liderar a transição climática precisa demonstrar que sabe governar seus próprios dilemas.
Porque, no fim, tudo volta à governança.
É ela que transforma boas intenções em políticas eficazes, que une ciência, setor privado e poder público em torno de metas claras, mensuráveis e duradouras.
Sem governança, não há política de Estadoo há apenas ondas de vontade. E num planeta em aquecimento, ondas de vontade evaporam rápido.
A lei do Paraná mostra que é possível fazer diferente, reconhecer o valor econômico e social da água, incentivar o uso racional e criar instrumentos que garantam sua gestão de forma transparente.
É disso que o ESG e o mundo precisam: menos discurso, mais estrutura.
Porque só com governança sólida conseguimos transformar inovação em impacto e assegurar que o amanhã não dependa da sorte, mas de decisões tomadas com consciência.
Enquanto ouço os debates em Lisboa, percebo que o futuro não será definido apenas por quem cria novas tecnologias, mas por quem souber governar o presente.
E isso vale para países, empresas e pessoas.
O futuro não se negocia, quando governamos o presente com consciência e coragem, para que esse mesmo futuro flua limpo, justo e possível.