
No último dia 17 de outubro, uma motorista foi flagrada arrastando um pitbull pela coleira enquanto dirigia seu carro no bairro Campos de São José, na zona leste de São José dos Campos. A cena chocante de maus-tratos foi registrada por populares e rendeu uma multa de R$ 3 mil à mulher pela Polícia Militar Ambiental.
Pitbulls na posição de vítima, ao contrário do que o estigma social sugere, são um fenômeno a ser analisado. No Centro de Controle de Zoonoses de São José, eles representam quase 30% dos mais de 80 cães aptos para adoção. A maioria vem de um passado de maus-tratos.
“A gente pode dizer que sempre houve um problema”, afirma Maria José Zarur, a “Mazé”, chefe de Bem-estar Animal. Ela observa que nos últimos dois anos houve na cidade um alto número de abandono em via pública. São situações traumatizantes com consequências profundas para os animais.
Mazé relata que, após passarem por atendimento médico e serem encaminhados ao canil, é comum os pitbulls elegerem um veterinário específico para seu manejo. O restante da equipe se esforça para evitar isso e trabalhar a socialização deles. Na matemática básica, o histórico do animal, o contexto de vida e o ambiente em que está inserido somados podem desencadear sérios problemas comportamentais, alerta o adestrador Vinícius Duarte.
O estereótipo violento é o que costuma afastar possíveis tutores e manter os pitbulls em espera no CCZ. “É triste ver tantos disponíveis para adoção, mas é algo compreensível”, pondera Vinícius. Ele defende que a raça não é naturalmente agressiva, mas que quem pretende adotar precisa entendê-la.
Muitas pessoas pegam por acharem bonito ou por acreditarem que serve para guarda, mas sem entender o que a raça realmente demanda. Quando o tutor não consegue atender às necessidades físicas e mentais do cão, é comum que ele desenvolva comportamentos indesejados e, infelizmente, acabe sendo abandonado.
Originalmente os pitbulls foram criados para serem cães de rinha, então possuem uma intensidade e uma força acima da média. Vinícius diz que isso não define a raça como naturalmente perigosa, mas exige tutores que estejam preparados para lidar com seu temperamento.
Pela dificuldade do manejo, os animais com histórico de agressão acolhidos pelo CCZ não são, sob nenhuma hipótese, encaminhados para lares com crianças ou idosos. Mazé explica que o adestramento é primordial e o candidato a tutor deve demonstrar que pode proporcionar um tratamento adequado para garantir a socialização do cão e sua segurança na residência.
O que você deve saber para adotar um pitbull
Vinícius classifica o pitbull como um cão extremamente enérgico, atlético, que exige rotina, atividade física e mental. “Não é um cão para ficar deitado o dia todo assistindo TV com o tutor”, explica. Mazé chama a atenção também para a grande expectativa de vida da raça. “É um animal que vai viver normalmente mais de 15 anos, se bem cuidado”.
Os custos são semelhantes aos de outros cães de mesmo porte: boa alimentação, equipamentos de qualidade e investimento em adestramento. O principal, segundo Vinícius, é o manejo alimentar e ambiental, além de suprir as necessidades básicas do cão. Seguindo essas orientações, o pitbull se torna um animal equilibrado, dócil e com excelente qualidade de vida.
Vale ressaltar que, em São Paulo, a Lei Estadual nº 11.531/2003 determina que cães de raças consideradas agressivas, como o pitbull, usem focinheira, coleira e guia curta em locais públicos.
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Casos de adoção
O próprio CCZ oferece exemplos de cães que tiveram a sorte de serem acolhidos por uma boa família. Mazé conta que uma jovem pitbull com histórico de mordedura foi adotada recentemente por um tutor enlutado. “Nós indicamos essa pitbullzinha porque percebemos um sofrimento imediato com o emagrecimento por conta do confinamento no canil”, relata.
A cadelinha deixou o CCZ rosnando em uma caixa de transportes. Ela passou dois dias dentro da caixa desconfiada. No terceiro, o tutor foi surpreendido com a pitbull pulando alegre em seu colo. Também não há muito tempo, um casal sem filhos levou outro pitbull. A adoção ainda é monitorada, mas tem sido muito bem avaliada, diz Mazé: “É um animal bem cuidado e seguro”.
Como adotar pelo CCZ
Atualmente há mais de 20 pitbulls disponíveis para adoção no CCZ, entre eles Yoda, Horus, Vanera, Helena e Sonic. Você pode conferir todos os cães e conhecer mais sobre cada um no site da instituição, onde também é possível preencher formulários para adoção.




Após demonstrar interesse por um animal no site, o CCZ entra em contato para agendar uma visita ao candidato. Durante a visita, é feito o preenchimento de um formulário e a avaliação das condições do imóvel para receber o pet.
Com a adoção aprovada, o animal é levado até o novo tutor para um período de adaptação e entrega oficial. Em até 15 dias, uma nova visita é realizada para acompanhar o processo e verificar como o animal está se ajustando ao novo lar.
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