Mineiro de Jequitinhonha, foi clarinetista, saxofonista, arranjador, compositor e militar da Aeronáutica. Muitos Josés em uma só vida.
Para nós, que vivemos a cultura do choro, sua partida foi a perda de um pai musical — alguém que nos abraçou e nos acolheu como aprendizes.
Do Clube do Choro Pixinguinha — fundado por ele em 1994, na cidade, e liderado até meados de 2010 — surgiram diretamente músicos talentosíssimos, como Éverton Campos (flautista), Luiz Paulo Muricy (cavaquinista), José Marcos Manoel (cavaquinho e bandolim), Bruno Bertolino (percussionista) e, posteriormente, de forma indireta, também Gabriel Amaral (violão de sete cordas).
Se hoje estamos aqui, defendendo o choro e a música brasileira em São José dos Campos, é porque houve um líder incansável — um lutador de fôlego — que se dedicou a manter o gênero vivo na cidade.
Pessoalmente, o maestro Cunha também representou uma virada de chave na minha atuação como musicista e musicóloga. Ele me confiou a tarefa de cuidar do seu acervo musical — um conjunto volumoso e diverso, que reúne registros de todas as etapas da sua vida e também de outros artistas que com ele caminharam.
“Vou ver se arranjo um local aqui em São José pra gente colocar isso… nós vamos fazer, você me ajuda… um lugar que tenha esse material todo.”
— Relato de entrevista gravada em 19/05/2014, por Raquel Aranha.
Foi a partir do seu sonho, da sua confiança e da inquietação pela preservação de seu legado que nasceu, em 2022, o Centro de Documentação Musical de São José dos Campos (CDM SJC), com o apoio incondicional do Parque Vicentina Aranha — após inúmeras tentativas, tanto do maestro quanto minhas, de encontrar um espaço para acolher suas memórias.
(Crédito: Arquivo pessoal)
Neste caminho incerto, e de profundos ideais, caminharam de perto comigo algumas pessoas-chaves: o musicólogo Paulo Castagna /Unesp (mentor acadêmico), a violoncelista Beatriz Soares (minha ajudante), André Bazzanella (amigo incentivador), Lucas Faria (músico, amigo e ajudante) e meu pai, José Aranha. Com eles atravessei pouco mais de 2 anos no trabalho voluntário de salvar o acervo do Maestro Cunha, a quem presto minha homenagem hoje, deixando meu agradecimento por ter me transformado no que sou hoje.
Seu legado será preservado e difundido, com muito carinho e respeito. Hoje somos um espaço, uma equipe e muitas pessoas que cuidam com amor da história de José Antonio da Cunha (1932-2025).
Viva o Maestro Cunha! Sua música, sua força e sua história!
Raquel Aranha
Com Pós doutorado em Musicologia (Unesp), Doutora e Mestre em música (Unicamp), estudou na Real Academia de Bellas Artes de San Fernando (Madri), é Bacharel em Violino Barroco (Conservatório Real de Haia/Holanda), especialista em Dança Barroca e Bandolinista. Também é bióloga, (Unicamp), e se dedicou à ornitologia. Desde 2020 preside a SOCEM (Sociedade de Cultura e Educação Musical de São José dos Campos), e em 2022 fundou o CDM SJC (Centro de Documentação Musical / SJC) para a preservação de Patrimônio Musical.
Dicas da Musicóloga
Confira a programação mensal do CDM SJC / SOCEM em parceria com a AFAC:
- 5 Linhas para conhecer a Música: 24/05 (sábado). Último encontro que busca desmistificar conceitos e proporcionar uma introdução aos fundamentos musicais, como a leitura de partituras, a compreensão de notas e ritmos, e a execução de instrumentos. Das 10h às 11h30, na Sala 51, ao lado da Sala de Leitura do Parque Vicentina Aranha. São 50 vagas gratuitas.
- Roda de Choro no CDM: 29/05 (quinta). Das 18h30 às 20h30, no Pavilhão Marina Crespi. Músicos profissionais e amadores poderão trazer seus instrumentos. Para participar, basta comparecer.
Fonoteca e biblioteca do CDM SJC: estão abertas todos os sábados, das 10h30 às 12h, e de 14h às 15h30. Os Lps e livros cadastrados no site da instituição estarão disponíveis para consulta.
Quer apoiar? O CDM é uma iniciativa independente: www.catarse.me/cdmsaojose
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