No cerne de “Ainda Estou Aqui”, além da narrativa política e do drama familiar, há um elemento que transcende o enredo: a culinária.
A mesa de Eunice Paiva, esposa do deputado Rubens Paiva, não apenas alimentava o corpo, mas preservava lembranças, aquecia corações e fortalecia os laços familiares.
Seu suflê de queijo e a peculiar mousse de aipo (Kolynos) tornaram-se verdadeiros emblemas dessa resistência silenciosa, manifestada através do ato de cozinhar e compartilhar.
Para Eunice, a comida não era apenas sustento, mas uma linguagem afetiva que permitia manter presente a memória de Rubens, mesmo em sua ausência forçada.
A transmissão dessas receitas aos filhos não foi apenas um gesto cotidiano, mas uma forma de resguardar a verdade histórica e manter viva a luta pela justiça.

O reconhecimento oficial do assassinato de Rubens Paiva e a recuperação de sua história só foram possíveis devido à resiliência inquebrantável de sua família.
A consagração desse filme no Oscar simboliza mais do que um triunfo cinematográfico. É um tributo àqueles que, por meio de gestos cotidianos, seja na arte, seja na cozinha, recusam-se a permitir que a memória de seus entes queridos seja apagada.
A mousse de aipo de Eunice Paiva
Em homenagem a Eunice, compartilho a receita de sua emblemática mousse de aipo, um reflexo de sua criatividade e talento na cozinha.

Ingredientes:
- 1 aipo inteiro picado em cubos pequenos
- 250 gramas de ricota
- 500 gramas de maionese
- 1 colher (sopa) de picles picados
- 2 pacotes de gelatina de limão dissolvidos em 2 xícaras de água quente
Modo de preparo:
- No liquidificador, bata o aipo, a ricota, a maionese e os picles até obter uma mistura homogênea.
- Adicione a gelatina dissolvida e misture bem.
- Despeje a mistura em uma forma de bolo e leve à geladeira por 24 horas antes de servir.
- Sirva acompanhado de salada de batata e presunto ao redor da mousse.
Que essa receita traga não apenas um novo sabor à sua mesa, mas também a memória e a resistência de uma história que jamais deve ser esquecida.
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Ainda há quem não retornou
A memória e a luta de Eunice ressoam ainda em outras tragédias contemporâneas. Infelizmente, nem todos os desaparecidos tiveram suas histórias reconstituídas, e muitas famílias seguem sem respostas.
Não podemos esquecer dos que permanecem encarcerados injustamente, dos presos políticos ao redor do mundo, daqueles sequestrados em conflitos que persistem e dos que, simplesmente, desapareceram sem deixar vestígios.
Da mesma forma, não poderia deixar de prestar minha homenagem à família Bibas, que, tragicamente, não terá sua história imortalizada por um Oscar. Sua dor, como a de tantas outras famílias ao longo da história, deve ser lembrada para que, um dia, a justiça possa prevalecer.
Ainda estou aqui!
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