Nos últimos anos, o cenário educacional tem passado por transformações significativas. As metodologias ativas, que colocam o aluno no centro do processo de aprendizagem, ganharam destaque como uma resposta à necessidade de formar indivíduos mais críticos, criativos e preparados para os desafios do século XXI.
No entanto, enquanto essas abordagens prometem revolucionar a sala de aula, minha experiência na formação de professores revela que implementá-las não é tão simples quanto parece.
O caminho está repleto de desafios, especialmente quando falamos da mudança de mindset dos educadores e da ausência de programas de sustentabilidade nas escolas para apoiar essa transição.
A dificuldade de mudar o mindset
Quando comecei a trabalhar com formação de professores em metodologias ativas, logo percebi que o maior obstáculo não era ensinar técnicas ou ferramentas, mas sim desconstruir crenças enraizadas sobre o papel do professor e a dinâmica da sala de aula.
Muitos docentes cresceram em um sistema tradicional, onde o professor sempre foi visto como o detentor do conhecimento e a figura central do processo de ensino e aprendizagem.
Essa visão, embora ainda presente em muitas escolas, entra em conflito com as premissas das metodologias ativas, que enfatizam a autonomia do aluno, a colaboração e a experimentação prática.
Durante as formações, é comum ouvir frases como: “Mas se eu não explicar tudo, eles não vão aprender” ou “Como vou garantir que todos entendam se não for eu quem vai falar?”, ou ainda “Mas então como vou garantir que aprendam?”.
Essas perguntas refletem uma insegurança natural diante de uma nova abordagem, mas também evidenciam a resistência ao abandono do controle absoluto sobre o ambiente de aprendizagem.
Para muitos professores, abrir mão desse posicionamento na sala de aula pode parecer um risco desnecessário, especialmente em contextos em que o tempo de aula é curto e as pressões por resultados são altas.
Além disso, a mudança de mindset exige mais do que treinamentos pontuais. É necessário um processo contínuo de reflexão, prática e feedback. Infelizmente, muitas escolas subestimam essa dimensão e tratam a formação como um evento isolado, sem criar oportunidades para que os professores possam internalizar e adaptar essas novas práticas ao seu cotidiano.
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A falta de sustentabilidade nas escolas
Outro grande desafio que enfrentei ao longo dessa jornada foi a ausência de programas de sustentabilidade dentro das escolas para apoiar os professores na implementação das metodologias ativas. Não basta capacitar os educadores; é preciso oferecer condições estruturais e pedagógicas para que eles consigam aplicar o que aprenderam.
Muitas vezes, os professores saem das formações motivados, cheios de ideias e estratégias para tornar suas aulas mais dinâmicas e “mão na massa”. No entanto, ao retornarem às suas salas de aula, deparam-se com realidades que dificultam ou mesmo inviabilizam a execução desses planos.
Falta de recursos materiais, turmas superlotadas, currículos engessados e avaliações tradicionais são apenas alguns dos obstáculos que encontram pelo caminho.
Por exemplo, imagine um professor que deseja implementar uma atividade prática de resolução de problemas em grupo, mas não dispõe de espaço físico adequado ou de materiais suficientes para todos os alunos, ou até mesmo, se sente inseguro em começar a mudar sua metodologia de aula sem um suporte adequado.
Imagina ainda aquele que quer adotar projetos interdisciplinares, mas enfrenta resistência da coordenação porque isso “desvia” do conteúdo programático oficial. Sem um suporte institucional consistente, esses professores acabam desmotivados e voltam aos métodos convencionais, frustrados pela impossibilidade de avançar.
Assim é de extrema importância a escola ou instituição de ensino ter programas de sustentabilidade da inovação na educação. Uma escola que realmente deseja promover mudanças deve investir em infraestrutura, flexibilização curricular e acompanhamento pedagógico contínuo.
Isso inclui fornecer recursos tecnológicos e materiais, criar horários específicos para planejamento colaborativo entre professores e estabelecer canais de diálogo abertos entre equipe docente e gestão escolar.
Além disso, é fundamental repensar os modelos de avaliação, alinhando-os aos objetivos das metodologias ativas e valorizando competências além do conteúdo acadêmico.
Experiências transformadoras
Apesar dos desafios, tive a oportunidade de testemunhar momentos de transformação que me fazem acreditar no potencial dessa jornada.
Em uma escola parceira, conseguimos implementar um programa piloto de formação continuada, combinando workshops mensais com observação de aulas e rodas de conversa entre os professores.
O diferencial foi o envolvimento direto da gestão escolar, que disponibilizou tempo e recursos para que os docentes pudessem experimentar novas práticas sem medo de fracassar.
Um caso marcante foi o de uma professora de ciências que, inicialmente, relutava em abandonar as aulas expositivas. Após várias sessões de formação e trocas com colegas, ela decidiu tentar um projeto experimental em que os alunos construíram protótipos de energia renovável usando materiais recicláveis.
O resultado foi surpreendente: os estudantes não só demonstraram maior interesse pelo conteúdo, como também desenvolveram habilidades de trabalho em equipe e solução de problemas. Ao final do projeto, a própria professora admitiu que nunca havia visto seus alunos tão engajados e que aquela experiência mudou sua percepção sobre o papel dela na sala de aula.
O que me motiva
Formar professores em metodologias ativas é uma tarefa desafiadora, mas extremamente recompensadora. Ela exige paciência, empatia e uma compreensão profunda dos obstáculos que os educadores enfrentam no dia a dia.
A mudança de mindset é um processo gradual que demanda apoio constante, e a falta de programas de sustentabilidade nas escolas pode ser um entrave significativo para a implementação efetiva dessas práticas.
No entanto, quando as condições são favoráveis e há um compromisso genuíno por parte de toda a comunidade escolar, as metodologias ativas têm o poder de transformar não apenas a forma como ensinamos, mas também a maneira como os alunos se relacionam com o conhecimento.
Como educadores e formadores, nosso papel é continuar lutando por essas mudanças, defendendo políticas e práticas que coloquem o aprendizado ativo e significativo no centro da educação.
Minha opinião: O futuro que queremos construir começa hoje, nas pequenas e grandes decisões que tomamos dentro e fora da sala de aula. É preciso inovar, mas é preciso fundamentalmente acreditar que é possível!
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