O artista plástico Sosthenes Miranda Júnior (1944-1999), o Sostinho, saturado com o descaso das autoridades com o Universo (de algum modo se antecipando às denúncias ambientais globais de hoje), registrou o Sistema Solar em cartório, no seu nome.
Foi em dezembro de 1991. “Queria garantir a sua preservação”, disse certa vez a viúva Maria Lídia Ribeiro, em entrevista ao Valeparaibano.
Posteriormente, Sosthenes tratou de vender títulos de sócio-proprietário a interessados da cidade. Tudo devidamente protocolado no 1º Cartório de Notas de São José dos Campos.

O dinheiro obtido com a venda dos títulos do Universo (Cr$ 5.000 cada um), como ele justificou à época, serviria para bancar seu próprio tratamento psiquiátrico. Sosthenes informava que a Lua e a Terra tinham ficado fora da sua jurisdição, uma vez que a Lua já tinha sido registrada por um cidadão chileno e a Terra era dos indígenas.
O plano do artista e escritor previa ainda a instalação, em seu quintal, de uma cabine de navio. Um alfaiate talvez trataria de confeccionar uma farda de marinheiro, para que ele pudesse acompanhar o movimento do cosmos de madrugada.
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Com poucos interessados, a contar na palma de uma só mão, o plano imobiliário do artista fracassou, não sem que, antes, escrevesse para a Nasa e potências nucleares exigindo indenizações pelo uso devastador do Sistema Solar. Ao presidente dos Estados Unidos, reclamou Cr$ 10 bilhões “por cada átomo destruído durante o lançamento de foguetes”.
Alguns documentos originais dessa história estão caprichosamente cuidados nos arquivos do Museu Municipal de São José dos Campos, inclusive uma carta de intenções toda ilustrada com planetas pelo artista, que uma vez escreveu: “Quem comanda a imaginação chega à esquizofrenia”. Sosthenes era incansável, como pintor, chargista e escritor.
O mural já tem 50 anos
Já tem 50 anos o mural que Sosthenes pintou no pequeno hall de entrada da então Câmara Municipal de São José dos Campos, espaço Mário Covas, no prédio histórico que hoje abriga o Museu Municipal.
Sosthenes deixou sua assinatura ali, em 1974, num trabalho a óleo, ingênuo, um provável jesuíta cercado por indígenas como protagonistas. É a única obra do artista exposta ao público hoje.

Outras nove pequenas telas de Sosthenes, entre elas retratos de ex-prefeitos da cidade, fazem parte da reserva técnica do museu, um conjunto de cerca de 750 obras sempre prontas para serem expostas, como contabiliza Edna Martelo, gestora de museu da Fundação Cultural Cassiano Ricardo. O museu preserva ainda documentos originais que contam uma pequena parte da trajetória do artista.
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Polêmico chargista
Sosthenes nasceu no Recife, em 1944, mas viveu grande parte da sua vida em São José. Iniciou sua carreira em 1967, como chargista no Jornal do Comércio de Recife. Contou certa vez que não lhe pagavam e foi para o Diário de Pernambuco onde, durante três anos, retratou com bom-humor os políticos de seu Estado.
Trocou a redação do Diário de Pernambuco por uma sala no INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em São José dos Campos, no início dos anos 70, contratado para desenvolver a programação visual do projeto SACI, da TV educativa.
Atou como chargista no Estadão, Jornal da Tarde, e depois no Diário de São José. Passou a desenhar no Valeparaibano em 1980.

Manteve um jornal de charges próprio, Janela, onde não poupava os políticos com seus traços ferinos. Numa das edições escancarou como manchete: “Adivinhem quem pediu a cabeça de Sosthenes no Diário de S. José dos Campos?” Ele dava a resposta com uma charge do prefeito Joaquim Bevilácqua, como um imperador.
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