Sentado observando aquela garoa típica de São Paulo molhando delicadamente a grama, as árvores à minha volta. Um silêncio quebrado por um piado aqui, outro acolá.
Da varanda vendo a paisagem me sinto como um daqueles escritores de filme que se retiram para um lugar sossegado para escrever o seu livro. Com céu cinza, e sem o voo de pássaros passando por aqui e ali, a falta das angolas que hoje resolveram ficar perto do poleiro e não vieram correr pelo gramado, observo um sorriso oculto.
Botões de flores desabrochando, novas mudas surgindo e pequenas frutas nascendo nas frutíferas. Na nossa pequena horta, observo o crescimento das verduras, hortaliças e temperos. A água como sinal de vida e renascimento.
Outra ideia me vem à mente. A mesma de todos os anos. E não é só na minha, posso garantir. Após todas essas festas, churrascos e a comilança dessa época, preciso desintoxicar e, sobretudo emagrecer.
Confira: Festas de fim de ano: o drama, a comédia e o churrasco

Um refogado de taioba, um pesto de ora pro nobis, as agora famosas PANCs (plantas alimentícias não convencionais), ou uma abobrinha, berinjela, batata doce e inúmeras outras possibilidades.
É interessante como o termo oriundo do latim “vegetus”, que significa “saudável”, faz sentido mesmo entre os carnívoros. E quando nos vêm essas ideias, já pensamos nas dietas, ou melhor, na forma de vida escolhida. É o momento de refletir sobre o assunto.
A principal característica do vegetarianismo é o não consumo de carne. Sendo assim, o vegetariano opta por vegetais, grãos, frutas, cereais, sementes e algas.
O vegetarianismo pode ser uma fase para algumas pessoas, pode envolver a ingestão ou não de alguns derivados do leite ou mesmo ser o chamado “estrito”. Mesmo entre os vegetarianos existe uma subdivisão:
- Ovolactovegetarianos: pessoas que não consomem carne, mas ingerem ovos e laticínios;
- Lactovegetarianos: pessoas que não consomem carne nem ovos, mas seguem ingerindo laticínios;
- Vegetarianos estritos: pessoas que não consomem carne, ovos ou laticínios, incluindo também mel, gelatina e nada mais que tenha origem animal.
Veganismo é uma filosofia e estilo de vida que busca excluir todas as formas de exploração e crueldade contra os animais. Isso se reflete não apenas na alimentação, mas também em outras áreas da vida, como moda, cosméticos e entretenimento.
Não ingerem gelatina (feito de colágeno animal), rennet (utilizado no processo de fabricação de queijos), e corantes como o carmim, que é feito de insetos.
Uma nova linha com base no veganismo é o raw food (comida crua, em português), também conhecido como crudismo ou alimentação crudivegana. É outra forma de pensar a alimentação a partir do princípio de consumo de alimentos crus ou cozidos até no máximo 42°C.
Além de não permitir a ingestão de alimentos cozidos, também estão descartados congelados, processados, industrializados ou refinados. Ou seja, o raw food tem como base a “alimentação viva”, extraindo o máximo de nutrientes dos alimentos.
Da memória, logo me vem à imagem do restaurante Com-sciência. O mais tradicional e conhecido de São José dos Campos (desde 1983), sempre cheio com seu cardápio variado em buffet.
Com base em comida indiana, o Krasna também é uma opção vegana e lacto vegetariana que vem ganhando fama e adeptos. Outros restaurantes da cidade colocam opções veganas no cardápio. Existe também uma hamburgueria vegana, o Caravegana (ainda não conheço).
No início de dezembro, por conta do evento gastronômico Restaurant Week de Campos do Jordão, subi a serra afim de conhecer os restaurantes que estavam participando do evento.
Fomos então ao restaurante Alquimia, o primeiro restaurante vegano da cidade, localizado dentro do hotel Serra da Estrela no Capivari. Fomos extremamente bem recebidos pelo gerente Felipe Bittar. Local muito agradável, com ar sofisticado, com funcionários atenciosos e prestativos e com conhecimento sobre o festival.

Cardápio do festival, já incluso no cardápio da casa, com várias opções veganas. Os funcionários e a casa intensificaram a propaganda em redes pessoais próprias e levaram ao local um número grande de visitantes inclusive com preponderância dos não adeptos, que se surpreenderam positivamente com a qualidade dos pratos.
Eis que surge o sol. Um arco-íris enfeita a paisagem. Aquele sinal, aguardado pelos antigos guerreiros. Um presságio, vindo dos deuses para seguir adiante na batalha, mas… as angolas apareceram, o galo cantou, o boi mugiu! Vida que segue! Não chegou a minha hora!
Veja mais de Cozinha sem Chef: O alimento democrático
Em resumo, é importante cada um ter a sua opção de estilo de vida e alimentação. Entretanto, o fundamental é conhecer e respeitar as diversas opções.
Em uma política de inclusão, tão atual, fazermos um churrasco com verduras, farofa de banana, hambúrgueres de vegetais ou soja podem trazer aquele amigo vegetariano/vegano para mais perto de nós.
Ainda com os pensamentos voltados nessas ideias de mudança no estilo de vida, de inclusão social, eis que surge o falafel.

Bolinho de grão de bico, de origem vegetariana/vegana, tradicional na comida árabe/israelense. Crocante por fora, macio por dentro com sabor inconfundível do grão e dos temperos que o compõem.
Meu desejo para este ano que acabou de iniciar fica nessa pequena reflexão – “que tudo acabe em falafel!”. Não no contexto da pizza, mas sim da confraternização, união, inclusão social e, sobretudo, paz!
Acompanhe também: