
Há alguns anos, participei de uma reunião com executivos de uma grande empresa brasileira. O tema era sustentabilidade empresarial. Um deles me disse, em tom sincero: “Luís, ESG é bonito, mas não paga a conta.”
Avançamos para 2025 e a realidade mostra outra cena: hoje, sete em cada dez empresas brasileiras já incorporam práticas ESG, ainda que em diferentes estágios de maturidade.
O que antes parecia apenas discurso virou estratégia de sobrevivência e, mais que isso, diferencial competitivo.
Estudos recentes confirmam que sustentabilidade e rentabilidade podem andar juntas. Segundo a Infosys, para cada 10% de aumento em investimentos ESG, há acréscimo médio de 1% nos lucros corporativos.
Entre as empresas brasileiras, 36% já perceberam ganhos financeiros concretos, e 40% projetam resultados entre dois e quatro anos. A mensagem é clara, como eu já escrevi aqui, é ESG não é custo é diferencial competitivo que equilibra lucro e propósito.
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Financiamento verde em alta
No campo financeiro, o Brasil lidera a emissão de green bonds na América Latina, com US$ 11 bilhões emitidos apenas em 2024.
O Fundo Clima, administrado pelo BNDES, mostra a mudança de escala: de R$ 630 milhões em 2023 para R$ 10,4 bilhões em 2024, com juros reduzidos de até 1% ao ano para projetos de restauração florestal e eficiência energética.
Exemplos concretos já estão no radar: em 2025, o Itaú Unibanco emitiu R$ 1,4 bilhão em bonds sustentáveis, destinando R$ 400 milhões exclusivamente à biodiversidade.
O banco afirma ter restaurado 239 mil hectares degradados com o programa Reverte, reforçando que a agenda verde não é discurso, mas ação.
Em tempo, seria maravilhoso usar uma parte desse fundo para a regeneração de corpos hídricos, pois sem água não há floresta e nem crédito de CO2.
O silêncio do “greenhushing“
Recentemente, me deparei com esse termo que não conhecia e que ilustra bem os desafios que agenda ambiental enfrenta.
Se por um lado os números impressionam, por outro cresce um fenômeno chamado greenhushing quando empresas investem em sustentabilidade, mas evitam divulgar suas metas por receio de críticas políticas ou regulatórias.
O HSBC é um exemplo: manteve compromissos de emissões líquidas zero, mas estendeu prazos de 2030 para 2050, evitando publicidade agressiva de seus compromissos.
Nos Estados Unidos, os ventos também mudam: em 2025, nenhuma proposta ambiental foi aprovada por acionistas, algo inédito em seis anos.
Isso indica uma retração no apoio institucional ao ESG em alguns mercados, ao mesmo tempo em que pressiona empresas a equilibrarem discurso e prática. É o trumpismo fazendo seus estragos.
Tecnologia e inovação: catalisadores do ESG
Nesse cenário, a inovação digital desponta como aceleradora. Pesquisas acadêmicas recentes mostram que empresas que adotam inteligência artificial e ferramentas digitais apresentam melhora significativa no desempenho ESG, embora a intensidade varie conforme setor e estrutura de governança.
A inteligência artificial, em particular, pode mapear riscos climáticos, monitorar cadeias de suprimento e definir metas ambientais mais realistas e ambiciosas.
O desafio é garantir transparência, ética e responsabilidade nos algoritmos, para que a tecnologia não se torne apenas mais uma camada de discurso.
Conclusão
O Brasil vive um momento decisivo, o país combina vastos recursos naturais, amadurecimento regulatório e crescente interesse de investidores. Os números provam que ESG pode gerar lucro, atrair capital e restaurar ecossistemas.
Mas o caminho exige coragem para superar o silêncio do greenhushing, inteligência para usar tecnologia a favor da sustentabilidade e governança para alinhar propósito e resultado. A COP30 está aí vamos torcer que algo contrato saia dela!
Em outras palavras, o futuro das empresas brasileiras não será escrito apenas nos relatórios de sustentabilidade, mas nas decisões práticas que integram meio ambiente, sociedade e governança ao centro da estratégia.
Fontes:
- PWC / KeyESG: projeção de ativos ESG globais
- Amcham Brasil / DevelopmentAid: dados sobre empresas brasileiras e retorno financeiro do ESG
- BNDES / Fundo Clima: relatórios oficiais 2023–2024
- Itaú Unibanco – Programa Reverte (2025)
- Financial Times e The Times: greenhushing e retração em propostas ambientais nos EUA
- Arxiv.org: estudos acadêmicos sobre IA e desempenho ESG