
Afeto de vó é aquele benquerer de aceitação unânime. Os netos se derretem, sempre. Artistas, que também são netos, não se cansam de homenageá-las, delicadamente, amorosamente, com bom-humor, até como exemplo irradiante de ternura que pode aplacar o mundo nem sempre amistoso dos relacionamentos familiares.
Jean Galvão, o cartunista e chargista de coração joseense, há anos dá forma ao seu personagem Vó, que protagoniza e movimenta alguns de seus livros e tirinhas. Lançou recentemente uma edição revista e ampliada de Vó, com mais aventuras dessa personagem (bondosa, mas firme em suas lições de vida) sempre pronta para assar um bolo, aquela que faz crochê adoidado e que tem uma fé inabalável que extravasa todas as barragens de ceticismo.
A artista plástica e bióloga joseense Natalia Aia também faz uma homenagem às avós, essas mulheres gigantes, com trabalhos minimalistas. Sua exposição AVÓZ está em cartaz no Espaço Rexisto do Teatro Denny, Jardim São Dimas, São José dos Campos, até dia 7 de agosto. O trocadilho do título, AVÓZ, explicita “o poder de fala de mulheres ancestrais (as avós) por meio de bordados, pinturas, jardinagem… “
Jean já disse que sua Vó é uma soma de suas avós Teresinha e Ana. Sendo assim, compreendemos que pelo menos uma delas era viciada em crochês e bordados, essas tecidas linhas que pretendem vestir e embelezar tudo o que veem pela frente…. de um filtro de barro à represa da cidade.
Manta de tricô também para o frio da vaquinha e o frio de uma rua inteira. Os pontos de acabamento de panos e toalhinhas estão presentes na obra inteira e na abertura de histórias do seu livro. Acabamentos de crochê enfeitam e dão sentido a vários trabalhos de Natalia.



“Vó é um jeito de ser, habita um imaginário coletivo repleto de detalhes afetuosos – receitas, aconchego, mimos…”, escreveu Jean ao apresentar Vó.
A “ode à ancestralidade”, em Natalia, está presente nos quatro momentos da exposição. Pendurou pinturas feitas por sua avó Elza no paredão expositivo do teatro e, ao lado delas, colou nanopinturinhas (e não é pleonasmo!) de sua autoria, como ecos de uma linhagem de artistas que precisam continuamente dizer que existem.
Na sequência, há quadros com trabalhadas tesourinhas indicando o fértil terreno do fazer manual, no caso, os bordados.

Outra série celebra as bodas e a jardinagem, numa combinação de alianças e microscópicas flores. É bom lembrar que todas as obras de Natália podem e devem ser observadas com a ajuda de uma lupa, tal seu grau de detalhes.
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A artista presta também homenagem às avós de mulheres que são suas inspirações, por meio de um mosaico de retratos 3X4. Está ali a avó de Pitiu Bomfin, a curadora da exposição, que destaca o compromisso da artista com sua poética corajosa e sempre surpreendente, capaz de criar um universo de miniaturas que “nos permite sair do aqui e agora bruto e apocalíptico”.

Coisas de vó pavimentam ainda mais esse caminho de delicadezas.
“Talvez esse tipo ‘clássico’ de vó esteja sumindo, mas o arquétipo é poderoso”, resume Jean Galvão.
SERVIÇO:
Exposição AVÓZ, de Natália Aia
Visitação: até 7 de agosto, das 18h30 às 20h30
Onde: Espaço Rexisto, Teatro Marcelo Denny (Rua Elisa Costa Santos, 154, Jardim São Dimas)
Entrada gratuita
Vó, edição revista e ampliada, pode ser encomendado via Amazon.