Depois de explorar solo países como Sri Lanka, Austrália e Alemanha, a nipo-canadense Anna Bisnaire (@anna_bis), uma jovem artista de vida nômade, decidiu se reconectar com seu lado criativo e propósito de vida na zona rural de São José dos Campos.
Há pouco mais de dois meses viajando pelo Brasil, ela escolheu passar as últimas duas semanas em uma residência artística de gravura no De Etser Atelier, na região da Vargem Grande, zona norte da cidade.
No local, ela dormiu, cozinhou por conta própria e passou a maior parte do tempo dedicada a expandir seus processos artísticos — especialmente na xilogravura, técnica que utiliza a madeira como matriz para esculpir uma imagem.
A experiência propôs uma rotina bem diferente da última residência da qual participou, há cinco meses, em Fukuoka, no sul do Japão. Lá, ela dividiu espaço, ideias e práticas com artistas de diversos países e formações.
No De Etser, Anna teve liberdade para criar e se relacionar com o espaço à sua maneira, tanto com as ferramentas que usou quanto com a vegetação nativa abundante com a qual conviveu.
Ela recebeu a mentoria de Fabio Sapede, um dos fundadores do atelier, em 1998. Todos os dias, por algumas poucas horas, os dois compartilharam profundos momentos de aprendizado, mas acabaram também desenvolvendo um vínculo genuíno além do trabalho artístico.
Fabio, descrito pela artista como “o professor mais gentil que poderia desejar”, apresentou a zona urbana da cidade à artista e a levou para a vernissage de uma exposição no Parque Vicentina Aranha, onde pôde ter um contato ainda maior com obras e outros artistas locais.
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Anna sustenta sua volta ao mundo como professora de yoga, tradutora e por meio de trabalhos comunitários que lhe permitem expandir sua bagagem cultural mais do que acumular bens.
No Brasil, onde uma de suas irmãs também passa um tempo, sua arte ganhou influência da música e dança, que “estão em todo lugar” por onde passou.
“No Japão, você precisa pagar para ir a um evento ouvir música ou dançar”, compara. Com formação em psicologia, Anna sabe que mexer o corpo tem relação direta com o prazer e a alegria no cotidiano.
Essa autêntica forma brasileira de desfrutar da vida inspirou sua gravura favorita durante a residência, uma obra que representa a dança como expressão de conexão com o próprio corpo. Nela, estampou a frase “Estou protegida”.
Uma outra peça produzida no atelier mistura referências orientais à lucidez que a estadia em São José trouxe.
A xilogravura apresenta a silhueta crescente de uma figura feminina como um vulcão, cercada por corações e flores, e a inscrição em japonês “Uchuu shinrai suru”, que significa: “Confie no Universo”.
“Essa é a palavra que eu precisava para mim, porque estou passando por uma crise de vida e preciso confiar no Universo porque ficarei bem no final”, refletiu a artista, com um sorriso.