Em 2016, quando Donald Trump assumiu pela primeira vez a presidência dos Estados Unidos, o mundo presenciou um novo tom nas políticas climáticas e ambientais. Lembro de estar em uma reunião sobre impacto positivo na indústria, onde executivos e especialistas se perguntavam: “Como lidar com um cenário onde uma das maiores economias do mundo parece ignorar as mudanças climáticas?”
Era um clima de incerteza, mas também de resiliência, afinal o foco era seguir adiante especialmente em um cenário em meio a desafios, instabilidade regulatória e um mercado imprevisível. Com o retorno de Trump à Casa Branca em 2024, o setor ESG se vê novamente diante de uma grande interrogação, quais serão os efeitos dessa reeleição em uma agenda que, nos últimos anos, parecia estar finalmente ganhando tração global?

Trump já sinalizou intenções de reverter diversas políticas climáticas recentes, reacendendo as preocupações sobre o futuro das iniciativas sustentáveis e o papel dos Estados Unidos em acordos ambientais e comerciais. A União Europeia, por exemplo, já mostra inquietação, especialmente lembrando o episódio de 2017, quando Trump retirou os EUA do Acordo de Paris.
Ele agora cogita aumentar tarifas, o que afeta diretamente economias dependentes de exportação, como a da Alemanha, cuja metade do PIB é voltada ao comércio exterior. Indo além, a continuidade do ceticismo de Trump em relação à OTAN preocupa diante do cenário de guerra na Ucrânia, pois pode forçar os países europeus a intensificarem seus gastos militares, alterando ainda mais as prioridades econômicas do bloco, uma vez que há a possibilidade de cortes orçamentários à OTAN, por parte dos Estados Unidos.
Conheça o grupo de notícias do portal spriomais: receba conteúdos em primeira mão no seu Whatsapp
Trump também trouxe alguns aspectos positivos para o mundo. Talvez não de uma maneira direta, ou intencional, mas sua forma até ríspida, trouxe efeitos significativos. Ao incentivar à inovação em infraestrutura e segurança nacional, impulsionou investimentos globais em infraestrutura crítica, desde redes de transporte e energia até infraestrutura digital, ajudando a preparar melhor os países para desafios futuros.
Além disso, a polarização trazida por Trump nos EUA gerou uma valorização da resiliência das democracias, estimulando discussões em vários países sobre formas de fortalecer a integridade eleitoral e a de proteção aos valores democráticos, entre outros aspectos.
Até a saída dos EUA do Acordo de Paris, embora controversa, impulsionou outros países a assumirem papéis de liderança em questões climáticas e ambientais. Nações como a União Europeia, China e Canadá intensificaram seus compromissos e estabeleceram metas de carbono mais ambiciosas, aumentando o ritmo da inovação em energias renováveis e tecnologias verdes.
Leia mais: Saúde mental e ESG: Os pilares para empresas sustentáveis e produtivas
Infelizmente (para quem acredita em práticas em ESG), as primeiras declarações de Trump indicam um caminho de retrocesso em políticas ambientais, como a intenção de desfazer a Lei de Redução da Inflação, que incentiva tecnologias de energia limpa. Uma provável desaceleração no investimento em energias renováveis, além da possibilidade de retirada dos EUA do Acordo de Paris novamente.
Essas medidas não apenas afetam o progresso dos EUA rumo à descarbonização, mas também fragilizam a posição americana como líder em sustentabilidade. Esse cenário de incerteza já começou a reverberar nos mercados. Logo após a confirmação de sua vitória, ações de empresas europeias de energia limpa sofreram quedas expressivas e em seguida vendas em massa dos ativos chamados “Verdes” e ligados a ESG.
Esse movimento reflete o receio de que o apoio às energias renováveis possa diminuir significativamente, mas para alguns, essa retração nos preços dos ativos ESG pode parecer um revés, para outros, representa uma oportunidade de adquirir ativos subvalorizados, apostando em uma recuperação a longo prazo.
Impacto internacional e compromissos climáticos
Além das fronteiras americanas, o impacto dessa mudança pode ser profundo. O retorno de Trump pode influenciar outros países a reconsiderarem seus compromissos climáticos, o que enfraquece os esforços globais.
A ausência de um líder como os EUA em questões ambientais deixa um vácuo, no qual outros países podem se sentir menos pressionados a manter compromissos ambiciosos, prejudicando assim o avanço de políticas sustentáveis em uma escala mundial.
Em última análise, a volta de Donald Trump à presidência representa, para o setor ESG, um momento de alerta e reflexão. Embora seja improvável vermos um avanço na agenda ambiental e social sob seu governo, os próximos anos devem ser de adaptação e inovação para quem acredita na sustentabilidade como um caminho irreversível.
Empresas e investidores comprometidos com ESG precisarão buscar formas criativas de manter suas práticas sustentáveis, mesmo que o cenário político e regulatório se mostre desafiador. A resiliência, portanto, como no ano de 2016, se mantém como nossa maior aliada.
Acompanhe também: