Lembro de uma conversa que tive há alguns anos com uma líder indígena no centro da Austrália durante uma conversa sobre sustentabilidade. A Khristine me disse algo que nunca esqueci:
“Nós, povos originários, sempre pensamos em sete gerações à frente. Nossas decisões de hoje precisam garantir que quem vier depois de nós possa viver em harmonia com a terra.”
Suas palavras sempre ecoam em minha mente, especialmente quando observo o atual cenário das práticas de ESG (Ambiental, Social e de Governança). A verdade é que, para muitos de nós, o futuro parece distante, mas as decisões que tomamos hoje terão um impacto profundo nas próximas gerações. E em todas as esferas não apenas com relação ao meio ambiente.
Olhando para os dados recentes, percebemos a urgência de agir. Um exemplo claro é o Fórum das Nações Unidas de 2023, que apresentou um dado alarmante: levará 167 anos para que as pessoas negras e indígenas alcancem a equiparação com pessoas brancas nos setores público e privado. Apesar de alguns avanços, como o aumento de empresas comprometidas com ações afirmativas, o caminho ainda é longo.
Essa reflexão nos leva a um ponto crucial: o progresso em ESG não acontece por inércia. Ele exige mudança. Muitas empresas ainda enxergam essas transformações como um aumento de custos, mas a realidade é que, com decisões embasadas em dados técnicos e uma equipe especializada, os benefícios são claros a médio e longo prazo. Já escrevi aqui, ilustrei e embasei em números e fatos, práticas em ESG são lucrativas, e vão além, pois trazem respeito e dignidade para todos os envolvidos. É um investimento no futuro que pode gerar retornos surpreendentes. Eventos como a COP29, que ocorrerá em novembro de 2024, no Azerbaijão que tem como foco principalmente discutir as finanças para as mudanças climáticas, já trazem a temática da diversidade como um dos pilares para a seleção das propostas. Pequenas e médias empresas, cooperativas, povos indígenas e movimentos negros foram incluídos entre os 60 selecionados de 470 propostas, o que evidencia a importância de trazer todas as vozes para a mesa.
O fato é que a equidade não é um privilégio, tampouco um movimento “WOKE” — termo que ganhou força para expressar uma consciência sobre justiça social e racial. É um direito que devemos defender como cidadãos e seres humanos que acreditam na dignidade da vida.
Convido o leitor a refletir sobre a bolha em que vivemos. Em uma sociedade majoritariamente composta por pardos e pretos, por que ainda vemos essas pessoas sendo, em sua maioria, relegadas a funções de serviço em restaurantes, hotéis e clubes? Quantos pardos ou pretos você vê em sua comunidade ou condomínio? No meu, por exemplo, há talvez uma única família entre quase 1.000 moradores. Esse dado não é um simples detalhe, mas um indicador importante de uma desigualdade que persiste. O que ele nos diz sobre a nossa realidade? O convite aqui não é para uma discussão filosófica, mas para refletirmos sobre como, em nosso micro ecossistema, podemos diminuir essa desigualdade com ações concretas, com um olhar voltado para o futuro e não para os erros do passado. Quais ações podemos incorporar no nosso dia a dia? Ressalto que não se trata apenas de inclusão, mas de criar oportunidades reais para todos, de modo que, no futuro, essa discussão deixe de ser necessária.
É o comprometimento coletivo que pode fazer a diferença. Como disse a líder indígena, precisamos pensar em quem virá depois. A equidade social, racial e a preservação ambiental devem caminhar juntas, e isso é possível quando finanças e práticas de sustentabilidade se unem. Estamos em um ponto de inflexão, onde não apenas a sociedade, mas o próprio mercado, reconhece que ações em prol da sustentabilidade e da diversidade são vantajosas para todos. Mobilizar a sociedade, garantir que todos se sintam pertencentes e respeitados, não é apenas uma questão de justiça social, mas de construir um mundo onde empresas e comunidades possam prosperar juntas.
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