Os recentes cancelamentos de apresentações em São José dos Campos refletem o que tem acontecido no cenário de entretenimento nacional. O excesso de shows e ingressos caros resultam na falta de público.
O pós-pandemia chegou com uma efervescência de apresentações nunca vista antes no país. A cada mês um concerto mais esperado do que o outro. Muitos, esgotados. Os shows de Coldplay, RBD e Taylor Swift em 2023 são alguns dos exemplos.
“É muito evidente o quanto aumentou o número de festivais e shows solo no Brasil após a pandemia, já que, ao que tudo indica, as produtoras visualizaram no país fãs que são fieis e um público que consome o meio do entretenimento – independente do preço, comparando com os valores exorbitantes da turnê do Bruno Mars que voltará ao país a preços de mais de mil reais”, afirma a jornalista Mayara dos Santos Abreu.
Para a turnê do cantor, que vai realizar 14 shows no Brasil em outubro, os ingressos para a Pista Premium chegam a R$1.250.
Mayara, 25, é uma frequentadora assídua de festivais e shows no formato ao vivo. A relação dela com esse universo é bem próxima, já que além de ser fã, também trabalha no meio. Para ela, é bastante perceptível as diferenças entre públicos de São Paulo e São José, onde julga não ter tantas opções para entreter.
“Mesmo trabalhando na capital e morando no interior, consigo notar a diferença entre o público do Vale do Paraíba no que diz respeito ao consumo de cultura”, comenta. “Há um desfalque no consumo de entretenimento nas cidades de São José dos Campos e Taubaté, principalmente na primeira, já que a cidade possui uma arena para shows e diversas casas de show, porém o público é insuficiente para ter ingressos esgotados”.
O que corrobora com o pensamento da jovem são os cancelamentos de eventos na cidade. Somente no último final de semana foram dois cancelamentos, entre nove apresentações que aconteceram, sendo cinco shows (Rubinho Lima convida Dona Duda Ribeiro; Baile Black; Fresno, Di Ferrero e Engrenagem; Cinthia Jardim & Quinteto Jazz Standards Show; Mumuzinho e Péricles) e mais quatro peças de teatro (Cá Entre Nós; Calota – Focus Dança Piazolla; Frozen – Edição Comemorativa 10 anos e; O veneno do teatro).
A primeira a ser cancelada, foi a apresentação de Mumuzinho e Péricles, na sexta-feira (16), na Farma Conde Arena. O show foi remarcado para o dia 6 de outubro, num espaço menor – no Espaço Sunset -, e sem a presença de Péricles.
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No perfil do Instagram da produtora, a PB Eventos, os comentários foram desativados no post que informa o cancelamento. Já no perfil da Farma Conde Arena, fãs relataram problemas com o estorno dos ingressos e também pela falta de posicionamento da produção “Não vamos ter nenhuma resposta de ninguém do evento? Falta de respeito com o povo”, comentou uma fã.
O outro foi a peça “O Veneno do Teatro”, no Teatro Municipal, durante o final de semana, mostrando que o movimento também chegou nas artes cênicas. Ainda não há uma nova previsão de quando a peça fará uma passagem pela cidade. Se é que vai.
Após o anúncio de diversas novidades, o Festival Hora do Rock divulgou apenas uma semana antes de acontecer, em 27 de abril, que seria remarcado para o dia 19 de outubro. Quase seis meses depois.
Também no mesmo mês, o cancelamento da Festa do Santo deixou os fãs chateados. O evento aconteceria entre os dias 12 e 13 de abril.
Em todos os cancelamentos, não há nenhuma explicação sobre os motivos que levam a situação. Em geral, a mesma justificativa “por motivo de força maior”.
“[…] Por motivo de força maior e uma sucessão de fatores acabaram tornando inviável a entrega desse evento no nível de qualidade que consideramos ideal para o nosso público”, afirmou o perfil do evento pelo Instagram.
“O cancelamento e a falta de engajamento nos eventos da região mostram uma carência entre pessoas da região”, diz Mayara.
A vontade dos produtores de trazerem coisas novas é grande, ainda mais depois dos tempos sombrios para o setor, que ficou represado e muito sofreu. Mas as expectativas não têm andado ao lado da realidade. A enxurrada de novidades tem afogado os fãs e o excesso obriga a escolher entre um e outro. Ou talvez, nenhum.
*A reportagem tentou contato com algumas produtoras, mas até o momento nenhuma se manifestou. O espaço fica aberto para resposta.
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