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Brasil: o paradoxo da fome na terra da abundância

Redação spriomais • 16/03/2025, às 10:03

Brasil: o paradoxo da fome na terra da abundância
(Créditos: Reprodução)

Ainda como estudante no Colégio Objetivo em São José dos Campos, no final da década de 1980, fui apresentado pelo professor Prado, de Geografia, ao livro O que é fome, de Josué de Castro (publicado pela primeira vez em 1983 pela Editora Brasiliense).

Nesta obra, o autor discute a definição, causas e consequências da fome, abordando-a como um problema social e político.

Essa leitura me intrigou profundamente e, diria que me influenciou na escolha do curso de Agronomia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) alguns anos depois.

Décadas se passaram, mas a contradição permanece: Como um país como o Brasil, que alimenta aproximadamente um bilhão de pessoas no mundo, ainda tem cerca de 33 milhões de cidadãos vivendo em situação de fome extrema? No mínimo intrigante, não?

A questão da fome no Brasil não é um problema de produção, mas de acesso e distribuição. Em 2022, o país produziu 322,8 milhões de toneladas de grãos, consolidando-se como o quarto maior produtor mundial.

No entanto, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), cerca de 33,1 milhões de brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar grave em 2022, caracterizando um cenário alarmante de fome.

Então, onde está o problema? Talvez parte dele reside em um sistema que prioriza culturas de exportação em detrimento da produção de alimentos para o consumo interno. 

A área plantada de feijão, por exemplo, caiu 31% nos últimos 10 anos, enquanto a de soja cresceu 161% no mesmo período. Essa mudança reflete um modelo agrícola orientado para o mercado internacional, mas que desconsidera as necessidades alimentares locais. Exportamos grãos, mas passamos fome.

Leia mais: Três décadas após Pequim: a igualdade de gênero saiu do papel? E como anda a nossa região?

Essa distorção tem raízes profundas na governança e nas políticas públicas.

O Brasil é um dos maiores exportadores de commodities agrícolas do mundo, mas não possui uma estratégia clara para garantir que os alimentos cheguem à mesa de quem mais precisa.

A fome, portanto, é fruto de um desequilíbrio sistêmico entre produção e acesso, agravado por desigualdades sociais e econômicas que atravessam nossa história.

Good News

Recentemente, houve avanços significativos no combate à fome. De acordo com o Relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial (SOFI 2024), a insegurança alimentar severa no Brasil caiu 85% em 2023, passando de 17,2 milhões para 2,5 milhões de pessoas.

Além disso, o Indicador de Prevalência da Subnutrição recuou de 4,2% para 2,8%, colocando o país na 94ª posição entre 111 países analisados pela FAO.

O ministro Wellington Dias expressou a expectativa de que o Brasil possa sair do Mapa da Fome até 2026.

Força tarefa

As soluções para essa crise passam por um realinhamento estratégico entre políticas públicas e privadas, com foco na segurança alimentar e no fortalecimento de cadeias produtivas locais.

É possível estruturar um sistema alimentar mais sustentável e justo por meio de uma combinação de planejamento urbano inteligente, incentivo à agricultura familiar e investimentos em logística de distribuição.

Reduzir o desperdício e encurtar as cadeias de distribuição também são caminhos viáveis e necessários para tornar o sistema mais eficiente e acessível.

Mas isso não pode ser tratado como uma questão exclusiva do setor público. Empresas, startups e o setor privado têm um papel crucial nesse processo.

Precisamos de editais de inovação que incentivem o desenvolvimento de soluções tecnológicas para produção, distribuição e comercialização de alimentos.

Precisamos de modelos de negócios que valorizem a agricultura local e que conectem pequenos produtores a mercados urbanos de forma eficiente.

Mudanças climáticas e Políticas ESG

O combate à fome também está diretamente relacionado às mudanças climáticas. Eventos extremos, como secas e enchentes, afetam a produção agrícola e pressionam ainda mais a segurança alimentar. 

Políticas de ESG, que integram critérios ambientais, sociais e de governança, são fundamentais para criar um sistema alimentar mais resiliente e menos vulnerável às oscilações do clima.

A fome não é inevitável, mas é uma falha de sistema. E sistemas podem ser corrigidos. O Brasil tem capacidade, tecnologia e conhecimento para garantir que ninguém durma com fome.

O que falta é vontade política e estratégica para fechar essa conta absurda entre abundância e escassez. 

Produzimos comida para o mundo. Está na hora de garantir que essa comida alimente, de fato, os brasileiros.



* A opinião dos nossos colunistas não reflete necessariamente a visão do portal spriomais.

Luís Magalhães

Luís Magalhães

positivo no meio ambiente. Estudou Agronomia na UFFRJ e Business & Marketing na Universidade Católica da Austrália e na Universidade de Canberra.



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