Será a IA o catalizador de mudanças na Educação?

Compartilho nesta semana os insights de uma conversa familiar com meu filho Matheus, vestibulando da área de engenharia

Compartilho nesta semana os insights de uma conversa familiar com meu filho Matheus, vestibulando da área de engenharia. Estávamos no jantar, conversando sobre possíveis temas de redação e uma das pautas da nossa conversa foi o potencial que a IA tem de transformar o modelo educacional. Resolvi então abordar este tema e, quem sabe, eu possa estar ajudando outros alunos que estarão nas próximas semanas envoltos com esse desafio.

Assim, refleti sobre todos os trabalhos de consultoria que tenho realizado junto a instituições de ensino nos últimos tempos (formação, desenvolvimento de professores, modelagem de matrizes e inserção de tecnologia como ferramenta de suporte ao processo de aprendizagem) e, com minha experiência como consultora educacional, tenho percebido como a inteligência artificial (IA) está transformando gradualmente a educação em seu processo de ensino e aprendizagem.

Estamos no início de uma revolução e acredito que com o avanço da tecnologia e da IA, as universidades e o mundo profissional serão naturalmente afetados com o tempo. A IA não irá substituir o professor ou a educação no modelo que conhecemos, contudo será responsável por transformar a forma como aprendemos e ensinamos. Então, como podemos nos preparar para um futuro onde a IA será uma ferramenta essencial para o desenvolvimento humano e profissional?

A IA pode ser um aliada à Educação (Créditos: Pixabay)

Como será o profissional do futuro?

Com o avanço do desenvolvimento da IA, o profissional do futuro não poderá depender apenas de conhecimentos técnicos tradicionais. Por exemplo, imagine um engenheiro estrutural, calculista, que atua utilizando softwares para simular projetos e realizar cálculos repetitivos. Com a IA, essas tarefas serão automatizadas e esse engenheiro terá o papel de analisar, interpretar os resultados de forma criativa e inovadora, decidir ou resolver problemas e tomar as melhores decisões.

As máquinas não conseguem replicar a criatividade, o pensamento crítico, a inteligência emocional ou as habilidades sociais e essas serão as competências que farão a diferença no profissional. Além disso, será essencial trabalhar em parceria com a IA usando-a como uma aliada para melhorar a tomada de decisões, assim como médicos já fazem hoje, ao utilizar a IA para os diagnósticos e se concentrando na análise e a sensibilidade para tratar o paciente de forma empática e integral. Na medicina, por exemplo, a IA já é capaz de detectar doenças a partir de grandes bases de dados. Neste contexto, o papel do médico vai além e ele precisará considerar o contexto familiar e emocional do paciente ao explicar um diagnóstico, algo que a IA não pode fazer.

No campo educacional caberá às instituições de ensino e educadores se adaptarem para promover uma aprendizagem ativa, integral e voltada para o desenvolvimento de competências incluídas no processo de ensino e aprendizagem. E o uso da IA irá potencializar os métodos de ensino personalizados, voltados a ajudar alunos a aprender no próprio ritmo. Imagine um aluno de matemática que está com dificuldades em aprender um conceito; a IA pode sugerir lições sob medida para o seu nível, direcionar informações para um aprendizado focado em suas dificuldades apresentadas, sugerir vídeos orientativos e propor exercícios direcionados para o desenvolvimento do tema.

E o professor? Ele não perde a sua função, muito pelo contrário. Seu papel remete a acompanhar o percurso formativo e a evolução do aluno, orientar o seu processo de aprendizagem e promover atividades que envolvam a utilização da IA em seu caminho. Cabe ainda ao professor proporcionar atividades que exercitem a criatividade, o processo de decisão, a empatia, ética e socialização. É como em uma aula de ética: enquanto a IA pode fornecer dados sobre dilemas morais, cabe ao professor conduzir discussões que incentivem o pensamento crítico e a responsabilidade social junto aos estudantes.

As universidades, por sua vez, estão diante de um desafio: não formar apenas profissionais técnicos, mas cidadãos conscientes e comprometidos com desafios globais, como a igualdade de gênero e a ação contra as mudanças climáticas. O MIT – Massachusetts Institute of Technology, nos EUA, por exemplo, já adota esse modelo ao incentivar seus alunos a desenvolverem inovações tecnológicas, ao mesmo tempo que refletem sobre o impacto social e ético de produtos e projetos institucionais. Isso mostra como as universidades podem unir inovação tecnológica com uma formação ética e humanista.

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O impacto no mercado de trabalho

E quanto ao impacto no mercado de trabalho? É verdade que a automação e a IA podem automatizar processos e reduzir a oferta de empregos em alguns setores. No entanto, programas de requalificação profissional podem ser a chave para transformar essa ameaça em oportunidades. Surgem novas funções e profissões para trabalhar com dados e demandas gerados pela tecnologia.  Profissões como designer de ética em IA, especialistas em bem-estar digital e analista de dados são exemplos de como a combinação entre tecnologia e habilidades humanas se tornará ainda mais importante. Empresas de tecnologia, como a Google, já contratam profissionais especializados em garantir que os algoritmos de IA sejam justos e não perpetuem preconceitos. Esse trabalho será essencial para que o desenvolvimento tecnológico seja orientado por princípios éticos e de justiça social.

Contudo, continuará a existir o profissional para ser responsável pelo projeto, a interface junto ao cliente, a tomada de decisões e aqueles mais preparados, que melhor atendem, que assumem responsabilidades, continuarão a atuar diante da automação, da IA e junto aos clientes.

E preparar os estudantes para esse futuro, as universidades precisarão repensar seus currículos. É preciso ir além das competências técnicas e incluir disciplinas, projetos e desafios em seus currículos que abordem ciência de dados, sustentabilidade, ética e resolução de problemas. É preciso começar a criar experiências a serem vivenciadas pelos estudantes, unindo conhecimento técnico, habilidades, atitudes, valores e emoções. Em pouco tempo, espero eu, será comum ver nas matrizes curriculares disciplinas como: trabalhando a felicidade, terapia do bem-estar, componentes integradas de música, arte-terapia e tecnologia, e também são estímulos a refletir sobre os impactos éticos e sustentáveis das inovações na sociedade. Isso mostra como a formação acadêmica pode estar alinhada aos desafios de nosso tempo.

Minha opinião: vejo a IA já moldando o futuro da educação e o papel dos educadores é crucial para garantir que as novas gerações desenvolvam as habilidades que as máquinas não conseguem substituir. É importante que as instituições de ensino modelem suas matrizes, formem professores aptos a acompanhar esta transformação digital e tecnológica. Precisamos formar cidadãos conscientes, capazes de combinar competências técnicas com competências emocionais e principalmente, que sejam capazes de pensar por si próprio e utilizar a IA em prol da sociedade e do futuro de nossas gerações.

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