8 de julho. Ao atravessar a ponte sobre o Rio Dnipro, já vejo a fumaça se erguendo dos dois lados da margem direita. Não a fumacinha tênue que deixam os mísseis de defesa aérea, mas rolos de fumaça espessa, cinza e preta. É óbvio que dessa vez o ataque russo, as explosões que tinha ouvido alguns minutos antes, atingiu Kyiv.
A sensação nessas horas é de pura raiva — do tipo frio, não quente. Aqui está Kyiv, capital do país valente e sofrido que é a Ucrânia, terra de um povo acolhedor, corajoso e digno. Aqui está Kyiv, uma das cidades mais bonitas da Europa — mas manchada pela crueldade do invasor russo.
Chegando em casa, leio as notícias, e o cenário é pior ainda do que o imaginado. Um míssil de cruzeiro russo atingiu o hospital Ohmatdyt, o maior centro pediátrico da Ucrânia. Parte de uma onda de 38 mísseis visando várias cidades da Ucrânia, 8 dos quais não foram abatidos.
As fotos já compartilhadas nos canais de Telegram não deixam dúvida: não se trata apenas de um míssil interceptado, mas sim da detonação de todos os 400 kg de explosivos que carregam os Kh-101.
Ruínas do Hospital de Ohmatdyt (Créditos: Reprodução/Redes sociais)
Só na capital, foram 33 mortos e mais de 100 feridos — entre eles, várias crianças. Um dos piores ataques aéreos a Kyiv desde que a invasão russa começou.
Em vez de mil palavras. Foto tirada em um jardim de infância no distrito de Holosiivsky, que também sofreu com o ataque (Créditos: Olga Rumiantseva)
É um ataque chocante, mesmo para um povo acostumado com a vida sob constante ameaça. Mas é característica do ucraniano a capacidade de ação sob qualquer circunstância, e aqui não se vê exceção. Quase imediatamente, as organizações de voluntários começam a se movimentar. Na cena dos ataques já se encontram os serviços de emergência, mas logo chegam civis de toda a parte para ajudar. Um segundo alerta de ataque aéreo dispara, e algum tempo depois ouvem-se explosões em Kyiv novamente — desta vez, apenas um drone de reconhecimento russo que foi abatido. Os voluntários continuam a trabalhar.
Mais tarde no dia, vou ao local do hospital arruinado, bem perto da área central de Kyiv. Mas parece que metade da população da capital já se encontra ali. Congestionamento enorme na Avenida Beresteiskyi, carros estacionados em todos os lugares imagináveis. Finalmente encontro onde parar e tento me juntar aos meus amigos que estiveram ali, ajudando a remover escombros, trazendo água e comida para outros trabalhadores no local, mantimentos para as crianças. Mas há simplesmente gente demais — sou inteiramente supérfluo aqui.
Força-tarefa voluntária em Holosiivsky (Créditos: Olga Rumiantseva)
Pego o carro e dirijo para um segundo local atingido, perto da estação de metrô Syrets. Outros grupos estão em cena ali, e por duas horas ajudo a remover estilhaços de um prédio soviético que sofreu com a onda de choque após a explosão. Trabalho simples, nada heroico — mas muito necessário.
No dia seguinte, volto com alguns amigos para Lukashivka, a duas horas de Kyiv, onde recentemente comecei a participar do trabalho de reconstrução que vem acontecendo ali há já dois anos, após a destruição deixada pelos russos. Mas continuo acompanhando os esforços em Kyiv — são impressionantes. Coleta de alimentos, doações para as instituições impactadas no ataque, trabalho nos locais atingidos — a mobilização que acontece na capital ucraniana é inspiradora.
Os voluntários, que incluem grupos como Repair Together, DobroBat, Brave to Rebuild e Solomyanski Kotiki, continuam a operar. Outros mais vêm individualmente ou formam seus próprios grupos improvisados. Em alguns locais, os voluntários civis trabalham quase lado a lado com serviços de emergência. No ponto atingido em Syrets, mais um corpo é encontrado no segundo dia, sob as ruínas.
A guerra trazida pelos russos já acontece há 10 anos. A invasão em grande escala, há mais de dois. O povo está cansado, muita gente desiludida em relação ao andar da guerra, ou com o apoio às vezes franzino que oferecem os aliados ocidentais, ou com a política interna em tempo de guerra.
Mas mesmo abatido, mesmo sofrendo ataques terroristas à capital, ao centro do país, o espírito ucraniano continua vivo e forte. Não me parece exagero dizer que, aconteça o que acontecer, uma nação desse calibre nunca será derrotada.
*A opinião dos nossos colunistas não reflete necessariamente a visão do portal spriomais.
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