Os eventos desta semana na Venezuela vêm causando certa comoção, e com bom motivo. Afinal, os problemas da América do Sul podem incluir ditadores, corrupção, pobreza e alta criminalidade — mas é raro termos no menu uma guerra de mal-disfarçada conquista territorial.
Mesmo que não se chegue às vias de fato (pessoalmente, não creio que haverá guerra), acho significativo que uma população sul-americana tenha votado em favor de anexar parte de um país vizinho.
Se um governo se sente à vontade para indicar, com muita cara de pau, a intenção de absorver parte de outro país, o que isso diz sobre a estabilidade da nossa atual ordem mundial?
O enfraquecimento da soberania
Quando, em 1991, os EUA derrotaram o Iraque na Guerra do Golfo, com a benção do Conselho de Segurança da ONU (incluindo China e Rússia), a vitória parecia ser do mundo inteiro. Foi uma vitória sobre a agressão territorial, reafirmando em alto e bom tom os princípios da soberania e do respeito à territorialidade dos estados.
Mas os bons ventos não duraram. Em 2003, os Estados Unidos entraram em outra guerra com o Iraque — desta vez, contra a decisão da ONU. Uma guerra em nome da “segurança nacional”, da “democracia”.
Foi um tremendo tiro no pé, expondo a fraqueza das instituições mais básicas da ordem mundial — a soberania, o direito internacional. Foi como anunciar o que todos suspeitavam: “O que importa é o poder militar — o resto é só fachada”.
Outros países tomaram nota. Perceberam que era fácil violar a territorialidade vizinha, desde que o pretexto fosse bom.
Foi assim que a Rússia invadiu a Geórgia, em 2008 (“para apoiar regiões separatistas”, supostamente). Mais ousada, anexou a Crimeia, em 2014, realizando depois um suposto referendo para consolidar a aquisição. Começou a guerra no Donbas, novamente com bastante negabilidade plausível (“não somos nós, são os ‘separatistas'”).
Finalmente, em 2022, após o fracasso e a fraqueza da retirada americana do Afeganistão, a Rússia se sentiu confiante o suficiente para uma invasão em alta escala, sem os costumeiros pretextos. E, desde então, outros países ficaram mais ousados.
Em 2023, os eventos se aceleram
Além da continuação da guerra russa na Ucrânia, este ano trouxe uma série de eventos geopolíticos impactantes.
No sudeste asiático, vêm se intensificando as provocações do governo Chinês frente a Taiwan, além da expansão militar no Mar da China, frente aos países do Sudeste Asiático.
No Cáucaso, a ofensiva-relâmpago do Azerbaijão contra a Armênia levou à expulsão de mais de 100 mil armênios étnicos das terras onde viviam. Por mais que o território em questão fosse considerado azerbaijano de jure pela ONU, o que impressionou foi a facilidade no uso de uma solução militar para redefinir fronteiras de facto.
No Oriente Médio, temos a invasão da Faixa de Gaza, destruindo as residências de centenas de milhares de habitantes, deslocando à força mais de um milhão de palestinos e causando a morte de milhares de civis como retaliação aos ataques terroristas de 7 de outubro. Outro exemplo de um governo nacionalista fazendo uso desproporcional da força, com grande descaso para com o direito internacional.
De forma geral, a tendência deste ano é bastante clara: é um aceleramento na imposição da força bruta e o enfraquecimento ainda maior das instituições internacionais.
Este último gambito venezuelano é só mais um lance numa preocupante série de eventos.
Não é de espantar que, no mundo todo — Américas, Europa, África, Ásia e até na pacífica Oceania —, todos estejam aumentando suas forças militares. O sonho da paz hegemônica, do “fim da História”, está morto e sepultado.
Leia mais: Continuar lutando ou chegar a um acordo? O que pensam os ucranianos após quase dois anos de guerra
O que virá a seguir para nossa ordem mundial?
“Como você foi à falência?”, pergunta um dos personagens de Hemingway no livro O sol também se levanta.
“De dois jeitos”, vem a resposta. “Primeiro gradualmente e, depois, de repente”.
Primeiro gradualmente; depois, de repente.
A fragmentação da nossa ordem mundial ainda está na fase gradual, mas a aceleração é palpável. Será possível reverter o rumo e evitar o “de repente”?
Talvez não seja tarde demais.
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