Certamente o voo mais saboroso que o piloto curitibano Angelo Silva já fez desde que começou a carreira no fim dos anos 90 foi quando se aventurou pelo mundo cervejeiro.
Paixão de infância, a aviação lhe deu asas para muito além das rotas comerciais e o levou também a realizar um outro sonho: criar a própria cervejaria artesanal, a Hop Wings, que veio a nascer há quase dois anos justamente na capital nacional da aviação, São josé dos Campos.
Cerveja Sanja, da marca joseense Hop Wings (Foto: Divulgação/Hop Wings)
A distância entre os primeiros contatos de Ângelo com uma produção artesanal de cerveja e o lançamento do seu primeiro rótulo autoral é de dez anos.
Foi a convite de um colega de trabalho em 2011 que o piloto entendeu na prática como se faz cerveja. Certa vez ajudou o amigo em sua produção caseira e fez sua estreia como alquimista da cevada numa ocasião simples, sem muito barulho.
Duas semanas depois comprou o próprio kit para produzir cerveja em casa e desde então não parou de experimentar e estudar.
O desejo pelo próprio rótulo, a própria receita, o acompanhava em cada uma das viagens seguintes. Como uma boa cerveja não se faz ao acaso e muito menos cai do céu, ele foi aperfeiçoando os conhecimentos ao longo do tempo.
Ângelo Silva na cabine de um avião durante uma de suas viagens à trabalho (Foto: Arquivo pessoal)
Além de cursos mais básicos, Angelo frequentou as aulas do “Brewing Technology” no Siebel Institute of Technology de Chicago, uma das faculdades que é referência mundial no ensino cervejeiro.
Ele também se formou em Tecnologia em Produção Cervejeira no Centro Universitário de Maringá, o primeiro curso superior sobre produção cervejeira do Brasil.
No começo desse namoro todo com a gelada, em 2013, ainda em meio às primeiras tentativas de produção, o sonho da cervejaria ganhou nome.
Hop Wings, traduzido do inglês, é a junção de “lúpulo” e “asas”. O lúpulo é um dos quatro ingredientes base que compõem as cervejas – ao lado do malte, da levedura e da água – e tem um carinho especial de Angelo.
“É o ingrediente da cerveja que eu mais curto. Claro, o malte tempera, até algum tipo de levedura tempera, mas o lúpulo é o que traz as características que mais me encantam. Eu sempre quis usar o ‘hop’ de alguma forma e tentei achar um termo da aviação que unisse isso aí”, contou.
Os planos de voo e vida de Angelo tiveram uma mudança em 2020. Vivendo no sul do Brasil desde que começou a voar, o piloto passou a morar na capital paulista em 2020, onde fica a sede da Latam, companhial pela qual atua há 18 anos.
Um ano e meio depois, porém, estava em São José dos Campos abrindo sua cervejaria.
A decisão por São José como seu novo lar e sede da Hop Wings foi pensada. Depois de viajar um mês inteiro de férias visitando bares e cervejarias, escolheu a cidade onde suas duas paixões encontram um terreno fértil.
Casa da Embraer e do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), São José hoje é consolidada como um dos berços da aviação mundial. Tem as asas em sua identidade.
Para quem brincava com aviões quando criança e passou a pilotá-los ao crescer, respirar desse ar significa muito.
A cerveja, por outro lado, ainda está distante de ser protagonista na cidade, mas o piloto viu que a timidez do cenário cervejeiro local escondia um grande potencial.
“Foi um lugar que caiu como uma luva para a ideia que eu já tinha. E a gente [Hop Wings] pretende explorar muito mais isso para tornar bem evidente essa ligação entre a aviação e São José”.
A indústria da cerveja artesanal não é iniciante apenas em São José. No Brasil o setor também tem sido desbravado aos poucos, com avanços mais significativos vindo ao longo da última década.
“O Brasil está começando a viver agora o boom que as cervejas artesanais nos EUA começou a viver em 1985. Então você calcula aí que estamos quase 40 anos atrasados. Nos últimos dez anos tudo melhorou demais aqui no Brasil. Temos um bom desenvolvimento de leveduras aqui, plantação de lúpulo tem crescido demais, inclusive aqui na Serra da Mantiqueira”, relatou Angelo.
No fim do último mês de junho foi divulgado o Anuário da Cerveja 2022, produzido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária.O relatório mostra ao longo de 44 páginas o fenômeno crescente das cervejarias no país com muitos gráficos, tabelas e mapas.
De acordo com o documento, o estado de São Paulo tem o maior número de cervejarias (387) e produtos registrados (12.319), seguido pelo Rio Grande do Sul (310 cervejarias e 6.430 produtos) e Minas Gerais (222 cervejarias e 6.194 produtos).
Se o atraso é de 40 anos em relação ao exterior, como Angelo citou, o país parece viver hoje um Plano de Metas como o de Juscelino Kubitscheck, só que cervejeiro. Uma nova capital mundial para a cerveja vem sendo arquitetada por aqui.
Atualmente o país é o terceiro maior produtor de cerveja no mundo, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. A expectativa para 2023 é de que sejam vendidos 16 bilhões de litros da gelada no país, 4,5% a mais em relação ao ano passado.
Além de se consolidar internamente, a indústria brasileira também cresceu no exterior. Em 2011, por exemplo, foram exportados cerca de 80 mil toneladas de cerveja para 25 países.
Em 2022, a exportação chegou a aproximadamente 200 mil toneladas distribuídas para 79 países.
A produção das cervejas de Angelo acompanha os moldes da vida dos pilotos. Sempre em movimento.
Como não possui casa própria, um espaço físico para fabricar os rótulos, pode-se dizer que a Hop Wings mora de aluguel num puxadinho.
A empresa ocupa atualmente uma parte ociosa na fábrica de uma outra cervejaria em Tremembé. No entanto, poderia chamar de lar qualquer outra indústria do tipo que a recebesse. Esse formato flexível de produção é chamado de cigano.
“Isso me possibilita a falar assim, ‘ah, estou querendo usar um equipamento que só cervejaria tal tem’. Aí consulto eles, verifico a disponibilidade para a produção, faço um contrato e entro fabricando o produto. Eu mesmo compro os insumos, eu levo os insumos, vou lá e participo da produção. Eu literalmente uso a estrutura para eu fazer”, explicou.
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(Angelo durante produção da Nice Landing, o quarto rótulo lançado pela Hop Wings)
Ser parte viva da produção pode dar trabalho, mas para o piloto é um prazer que supera tomar uma.
“É um processo meio que de culinária. A escolha, o planejamento. Como é que você quer que fique. Quer itensificar tal aroma, tal sabor, qual a cor você quer. O planejar e fazer é muito bacana”.
Esse desfrutar na fabricação das cervejas vem de um lugar próximo ao que o piloto pôde viver na aviação por meio do estudo.
“Isso aí até puxa um pouco o negócio da aviação, que a gente tem que estudar e treinar demais para operar o equipamento. Quanto mais você estuda, opera e pratica, você tira milagres dos livros e das ideias e saem cervejas excepcionais. Qualquer cervejeiro que se dedique é capaz de fazer grandes rótulos”, enfatizou.
A estreia da Hop Wings no mercado joseense veio em dezembro de 2021, com a Take Off IPA (India Pale Ale), a primogênita puro malte do estilo americano conhecido como American IPA.
O nome é uma referência ao termo “take-off ” na aviação, que diz respeito ao momento de levantar voo de uma aeronave.
Ela carrega uma combinação cítrica, frutada e tropical dos lúpulos junto com a base maltada do Maris Otter – malte produzido com cevada cultivada na Inglaterra e que traz à bebida aromas de biscoito e nuances de nozes.
Último rótulo lançado pela marca, em outubro do ano passsado, a cerveja Sanja foi produzida para comemorar um ano da Hop Wings e homenageia São José dos Campos e a cultura aviadora da cidade.
A menos alcoólica de todas – com apenas 4% de teor alcoólico -, ela é uma cerveja muito leve e clara do estilo Czech Pale Lager (um tipo de Pilsen mais leve). Segundo define a marca, é “refrescante e amarga na medida”, normalmente com mais amargor que as lagers leves claras.
A receita é tradicional tcheca e utiliza um único lúpulo em sua composição, o famoso Saaz, que tem origem na República Tcheca.
Seu amargor médio-baixo faz dela uma cerveja de sabor equilibrado e confrontado com a carga maltada que também é leve. Esse perfil maltado se apresenta com notas de pão branco.
“A sensação final na boca é de baixo amargor, porém bem assertivo e saboroso, fruto do clássico lúpulo Saaz. A drinkability e o sabor dessa cerveja combinam perfeitamente com dias quentes e provocarão em você a vontade de beber vários copos”, é descrito na apresentação do rótulo.
Cerveja Sanja, uma homenagem à São José e à aviação na cidade (Foto: Divulgação/Hop Wings)
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