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Cozinha sem Chef

Domingo tem macarrão

Redação spriomais • 16/02/2025, às 12:40

Recebendo amigos em casa e inspirado pelo meu amigo e chef Adolfo, do Il Viccoleto, preparei uma massa especial. Na quarta-feira, experimentamos um delicioso nhoque feito com creme de funghi porcini, e por ser domingo, a tradição da pasta se fez presente novamente.

Seguindo a clássica receita de massa com ovos — proporção de 100 g de farinha para 50 g de ovos — preparei uma versão enriquecida com funghi porcini. O resultado? Uma massa sensacional! O molho baseado no creme do chef realçou ainda mais o sabor e o aroma do prato.

A história da alimentação frequentemente apresenta padrões recorrentes e o macarrão, curiosamente, entra nessa estatística. Assim como o risoto, que chegou à Sicília por influência árabe, a pasta também tem uma trajetória similar. Durante a ocupação árabe da ilha, entre os séculos 9 e 11, os conquistadores trouxeram uma massa chamada itriyah, feita de trigo e água, esticada em fios e seca ao sol.

Macarrão artesanal feito por sidney

A beleza da massa artesanal que preparei (Créditos: Arquivo pessoal)

As primeiras referências ao macarrão na Itália

O primeiro registro escrito sobre o macarrão na Itália aparece no relato do geógrafo árabe Al-Idrisi, que em 1154 descreveu uma próspera produção de macarrão seco na cidade siciliana de Trabia, exportado para várias partes do Mediterrâneo. Isso indica que a Sicília já era um centro produtor de massa seca, consolidando a tradição da pasta na região. A partir da Sicília, a produção e o consumo de macarrão começaram a se espalhar pelo restante da Itália.

Com o aprimoramento das técnicas de moagem do trigo duro (Triticum durum), cidades como Nápoles e Gênova passaram a produzir macarrão regularmente. No sul da Itália, o clima quente e seco favoreceu a produção e a secagem da massa, consolidando o uso de trigo duro e água na fabricação de formatos como espaguete, penne e fusilli.

Já no norte da Itália, há indícios de que, desde a Idade Média, a população utilizava ovos para enriquecer a massa. Os primeiros registros dessa prática aparecem em receitas de mosteiros e cozinhas nobres, indicando que a massa com ovos era um privilégio da elite. Na época, a farinha de trigo mole ainda era rústica, e os ovos ajudavam a melhorar sua estrutura.

O mito de Marco Polo

Um dos mitos mais difundidos sobre o macarrão é a ideia de que Marco Polo o trouxe da China para a Itália no século 13. No entanto, essa versão é equivocada, pois os árabes já haviam introduzido a massa na Sicília séculos antes da viagem de Marco Polo. Ainda assim, sua jornada à China (1271-1295) pode ter influenciado a popularização do macarrão na Itália, já que os chineses tinham uma longa tradição de preparo de massas à base de trigo, semelhantes às que começavam a ser desenvolvidas no país.

A consolidação da pasta no Renascimento

Durante o Renascimento, o macarrão se consolidou como um alimento essencial na dieta italiana. Um dos maiores avanços ocorreu com a introdução do tomate na Europa, trazido das Américas após as expedições de Cristóvão Colombo. Inicialmente, os italianos não consumiam tomate, pois acreditavam que era venenoso. No entanto, por volta do século 17, começaram a incorporá-lo à culinária. Em Nápoles, a combinação de macarrão com molho de tomate se popularizou, tornando-se a base do icônico espaguete ao sugo.

No século 18, a produção de macarrão se tornou mais eficiente com o uso de prensas mecânicas, permitindo sua fabricação em larga escala. Isso levou ao aumento do consumo da pasta, especialmente entre as classes populares, por ser um alimento barato, nutritivo e de fácil armazenamento. Nápoles se destacou como um dos principais centros produtores de macarrão seco, e a cidade ganhou fama pelos vendedores ambulantes de massas, conhecidos como maccaronari, que serviam pratos simples de macarrão com queijo ou molho de tomate.

Diferenças regionais no consumo de macarrão

No norte da Itália, o clima mais úmido e temperado, com invernos rigorosos e chuvas frequentes, não favorecia o cultivo do trigo duro. Por isso, predominava o cultivo do trigo mole (Triticum aestivum), que tem menos glúten e resulta em uma farinha menos elástica e mais frágil. Para compensar essa fragilidade, os habitantes do norte passaram a adicionar ovos à massa, tornando-a mais maleável e resistente.

Outro fator importante foi a forte tradição pecuária da região, especialmente em Emilia-Romagna, Piemonte e Lombardia, onde a criação de aves era comum, garantindo uma oferta abundante de ovos.

O norte da Itália também era historicamente mais rico e aristocrático, com cidades prósperas como Bolonha, Parma, Milão e Veneza. Ovos eram considerados um ingrediente nobre, tornando a pasta fresca com ovos um símbolo de sofisticação. Já no sul da Itália, onde a população mais pobre consumia massas feitas apenas com trigo e água, a tradição permaneceu diferente.

Durante o Renascimento, as cortes italianas refinaram sua gastronomia, e a pasta fresca com ovos se tornou um prato apreciado pela nobreza. Bolonha, na Emilia-Romagna, consolidou-se como um centro culinário, popularizando massas como tagliatelle, tortellini e fettuccine.

A expansão global do macarrão

No século 19, milhões de italianos emigraram para os Estados Unidos, Argentina e Brasil, levando consigo sua tradição de massas. Isso ajudou a popularizar o macarrão globalmente, especialmente nos EUA, onde pratos como espaguete à bolonhesa e lasanha se tornaram amplamente difundidos.

No Brasil, os imigrantes italianos começaram a chegar em grande número a partir da segunda metade do século XIX, especialmente em São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Com eles, trouxeram suas receitas e técnicas de preparo do macarrão, que rapidamente se incorporou à culinária brasileira. Inicialmente, o macarrão era produzido artesanalmente em pequenas fábricas e padarias fundadas por italianos. Com o tempo, a demanda cresceu, e surgiram grandes indústrias de massas no Brasil, como Petybon, Adria e Renata. Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores e consumidores de massas do mundo.

Massas coloridas: origens e evolução

As massas coloridas têm sua origem no Renascimento Italiano (séculos XV-XVI), quando as cortes começaram a experimentar diferentes ingredientes na culinária para impressionar convidados e nobres.

Principais ingredientes para colorir a massa

Os italianos descobriram que poderiam usar ingredientes naturais para modificar a cor e o sabor da massa. Alguns exemplos clássicos incluem:

  • Amarelo: Cenoura, cúrcuma ou açafrão
  • Vermelho/Rosa: Beterraba ou tomate
  • Verde: Espinafre, manjericão ou rúcula
  • Preto: Tinta de lula (muito comum na culinária da Sicília e da costa italiana)
  • Marrom: Funghi porcini seco e triturado
  • Laranja: Abóbora ou pimentão vermelho assado
  • Roxo: Repolho-roxo ou mirtilo

Influência moderna

Atualmente, chefs ao redor do mundo continuam inovando na produção de massas coloridas, utilizando ingredientes menos convencionais, como carvão ativado, matcha e cacau. A tendência das massas coloridas se tornou ainda mais popular na gastronomia contemporânea, tanto na alta cozinha quanto em versões caseiras e artesanais.

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* A opinião dos nossos colunistas não reflete necessariamente a visão do portal spriomais.

Dr. Sidney Sredni é neurologista, mas também tem outra paixão: a cozinha! Desde 1984, ele vem aperfeiçoando suas habilidades culinárias e técnicas em cursos, leituras e viagens. Essa jornada, que começou por necessidade, logo virou um hobby sério e parte fundamental de sua terapia pessoal.



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