Inspirado pelo final de semana eleitoral, nada melhor do que falar do alimento mais democrático de todos: o ovo. Nesse cenário, um candidato receberá uma ovada de rejeição, enquanto o outro será alvo de uma ovada comemorativa.
(Créditos: Raiyan Zakaria/Unsplash)
Em 63 d.C., registrou-se o arremesso de nabos no então governador Vespasiano, imperador romano de 69-79 d.C. Este é frequentemente considerado o primeiro relato de protesto por meio do lançamento de alimentos.
Com o tempo, os ovos, que eram menos dolorosos e mais humilhantes, começaram a ser utilizados durante a Idade Média. No século XVI, na Inglaterra, esse hábito se popularizou, e as pessoas passaram a jogar ovos e tomates em “mau-atores” nas peças renascentistas de Shakespeare. O ato se popularizou ainda mais e passou a ser utilizado como símbolo de protestos políticos.
Cinco séculos se passaram e a tradição da ovada prosperou, sendo inclusive importada para as Treze Colônias, que dariam origem aos Estados Unidos. Assim, inumeráveis políticos se tornaram alvos de protestos ao redor do mundo, inclusive aqui no Brasil – Itamar Franco, Bolsonaro, Lula, Marta Suplicy, Mário Covas, João Doria, e neste ano o governador Jerônimo Rodrigues da Bahia, na atual campanha eleitoral.
A tradição da ovada de aniversário tem origem no México. Neste país, quebrar os “cascarones” na cabeça do aniversariante é uma demonstração de votos de boa sorte e saúde.
As cascas de ovos são utilizadas vazias, ou pelo menos sem gema e clara, e recheadas com confete e outros elementos coloridos. No Brasil, essa prática foi adaptada, incorporando o ovo na íntegra e outro ingrediente: a farinha. A ideia é “preparar” uma espécie de bolo na cabeça do aniversariante, tornando o momento das felicitações ainda mais divertido. Resultado: nem tudo acaba em pizza!
Considerando que os dinossauros já botavam ovos e que a galinha descende do galo-banquiva, podemos afirmar que o ovo veio incontestavelmente primeiro (ao menos na linha Darwiniana).
A galinha doméstica, a ave mais populosa do mundo, surgiu a partir de uma seleção artificial inconsciente de humanos pré-históricos que buscavam animais mais dóceis e com mais carne, por volta de 7500 a.C. ao sul da China, Tailândia e Mianmar. Logo, o homem neolítico percebeu também o potencial alimentício do ovo e começou a roubá-lo dos ninhos das aves.
Há indícios de que o ovo começou a ser utilizado na alimentação por volta de 3200 a.C., época que coincide com a domesticação da galinha. Gradualmente, o ovo se tornou um ingrediente de destaque em grandes banquetes das civilizações mesopotâmicas.
Os fenícios eram grandes apreciadores de ovos de avestruz, enquanto os egípcios consumiam uma variedade de ovos: de pata, ganso, codorna e até pelicano. Existem receitas egípcias datadas de 2000 a.C. que registram o uso de ovos na panificação. Muitos dos preparos que fazemos com ovos hoje surgiram na Roma Antiga, como omeletes, ovos poché, ovos cozidos e o uso de ovos em receitas de bolos, como o Libum, feito com farinha, ovos de pavão, ricota, louro e mel.
Cristóvão Colombo, responsável por levar os primeiros galináceos ao Novo Mundo em 1493, usou o artifício de esmagar uma das extremidades de um ovo durante um jantar com nobres espanhóis para mostrar que nada é difícil — basta refletir sobre isso.
Não saberia dizer se foi daí que surgiu a expressão pejorativa “você não sabe nem fazer um ovo”, que designa quem não sabe cozinhar, ou mesmo uma forma de deboche.
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O ovo é um símbolo de vida, renascimento, fertilidade e renovação em diversas religiões. É também uma forma de presentear e celebrar, especialmente a chegada da primavera e o ressurgimento do ciclo da vida.
No judaísmo, o ovo cozido e com a casca queimada representa a dureza do coração do faraó do Egito, em oposição à libertação do povo hebreu, e decora a mesa nas noites de Pessach. No cristianismo, o ovo simboliza a renovação e o renascimento e por isso o ovo de Páscoa se relaciona como símbolo da ressurreição de Jesus segundo o catolicismo. Na mitologia chinesa, o deus Pan Ku nasceu dentro de um ovo e, ao se libertar, originou o universo.
Na Pérsia, ovos coloridos eram consumidos ao final do jantar e decoravam a mesa durante o Noruz, festival que celebra a passagem do ano na religião zoroastra. Na região da Ucrânia pré-cristã, o culto a Dazhboh, no final do inverno, contava com ovos cobertos com cera de abelha e depois decorados.
Na Europa pagã, o culto a Ostara, também na primavera, envolvia crianças procurando ovos decorados em suas casas. A prática de decorar ovos se espalhou pela Europa na Idade Média, e logo os ovos de porcelana passaram a ser utilizados como presentes e enfeites.
Um dos mais conhecidos são os famosos ovos de Fabergé, produzidos por Peter Carl Fabergé, um joalheiro russo. Foram encomendados pelos reis da dinastia Romanov e eram luxuosos, decorados com pedras preciosas.
Nenhum outro alimento é tão versátil quanto o ovo. Ele é protagonista e coadjuvante, presente em inúmeras preparações e pratos. Está no café da manhã, no lanche, no almoço, no jantar e até na sobremesa.
Alimenta desde os mais pobres até os mais ricos, sempre com a mesma maestria, representando o alimento mais antigo e democrático da humanidade. Ah, e um detalhe que nunca pode faltar: frescos!
Vamos explorar as diversas formas de preparar ovos ao longo do tempo. Afinal, cada maneira de prepará-los é uma matéria, tanto para quem não sabe nem fritar um ovo quanto para o cozinheiro mais experiente.
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