A humanidade é feita de emoções paleolíticas, instituições medievais e tecnologia divina. O pensamento é de Edward O. Wilson (1929-2012), biólogo norte-americano especialista em formigas, conhecido por seu trabalho em ecologia, sociobiologia e grande defensor da vida no planeta, herdeiro natural de Darwin.
Segundo E.O., evoluímos como uma quimera, criatura mitológica que tem cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente. Nossas mudanças sempre carregam muito dos períodos anteriores, resultando nessa mistura a que se referiu: Paleolítico, Idade Média e divindade tecnológica. O quimérico mescla fantasia com realidade.
Mas que emoções paleolíticas seriam essas? Somos criaturas racionais e emocionais, estamos sempre transcendendo. A tecnologia vigente no Paleolítico era a das ferramentas com pedras lascadas, já caminhávamos eretos, tínhamos capacidade de falar. Depois inventamos mais ferramentas com ossos, madeira, couro. Fizemos vestimentas, cabanas, fogo, roda, tudo isso antes de Cristo.
Mural em Leak Street, London, grafitado com estêncil de um trabalhador removendo pinturas
rupestres pré-históricas (Bansky, 2008) – (Créditos: Reprodução/Internet)
O mesmo fogo controlado que surgiu há 1,4 milhão de anos e foi um grande marco na nossa evolução, nos permitindo caçar, nos proteger de animais, iluminar as noites e cavernas, cozinhar, fabricar ferramentas, fazer roda em volta da fogueira, hoje está queimando nosso território. Já queimou muitas vilas, povoados e mulheres na Santa Inquisição.
Peles de animais na Idade da Pedra, substituídas por vestimentas feitas em tear no final da Pré-História, seguiram evoluindo até o surgimento da moda no século XV, no Renascimento. Com o intuito de diferenciar classes sociais, gênero e adultos de crianças, a moda entra em produção industrial por volta de 1760.
Inicialmente, vestimentas de proteção contra intempéries. Hoje não temos mais onde jogar tantas toneladas de roupas que fabricamos. No Brasil, são 4 milhões e, no mundo todo, 50 milhões de toneladas de resíduos têxteis jogados fora por ano. Onde é fora?
Em 1907 inventamos a baquelite, a resina foi em 1862. Criamos o design e o boom de objetos de plástico, mais baratos e resistentes, inundaram o mundo – entre 86 e 150 milhões de toneladas destes resíduos plásticos estão nos oceanos; o Brasil é responsável por 3,44 milhões de toneladas.
Nossos cérebros hoje são 99,5% cérebro e 0,5% plástico, segundo estudos de uma universidade americana. Essa porcentagem é 50% maior que em 2016. Podemos fazer uma conta rápida de quanto teremos daqui 20, 30, 50 anos de plástico no cérebro se continuarmos nesse ritmo.
Já uma universidade italiana detectou microplásticos, compostos de polietileno, PVC e polipropileno das embalagens, presentes no leite materno.
Uma faca tanto pode cortar o alimento, ser um instrumento cirúrgico, como ser uma arma que mata. Criatividade, emoções e capacidade de aprimorar e transmitir conhecimento nos trouxe a 2024 onde uma bateria de Iphone que descarrega nos irrita. Perdemos nossa capacidade de contemplar.
Saímos da caverna de Platão e, assim que surgiu a possibilidade, voltamos para ela. Na caverna, seguro mas amedrontado, se visualiza sempre as mesmas imagens na escuridão, se tem desprezo pelos questionamentos. E aquele que tentar sair é punido.
Nessa alegoria do Mito da Caverna de Platão, a relação entre escuridão e ignorância, luz e conhecimento, aparência e realidade tem muito da atualidade. A Obra escrita foi no ano 380 a.C.
Hoje temos todo conhecimento do mundo ao alcance de nossas mãos, assim como toda desinformação, ignorância e mentiras.
Inventada por volta de 3.500 a.C. pelos sumérios, quando começaram a usar caracteres para representar silabas, a escrita cuneiforme foi usada por mais de dois milênios.
Primeiro foi pictórica, desenhos bem simples representando o cotidiano. Depois a escrita ideográfica, símbolos que representam ideias e depois a alfabética na qual os ideogramas viraram letras.
A imprensa, criada no século XV, encontrou resistência em vários países, afinal ampliar o número de leitores e escritores tiraria o privilégio dos pequenos grupos que sabiam ler, escrever e detinham as informações.
A capacidade mecânica da prensa de Gutenberg em produzir e reproduzir livros, textos e panfletos a partir de 1430 é considerada uma invenção tão revolucionária quanto o computador.
Logo foram ilustrados por imagens de xilogravuras e litografias. Livros e estampas começaram a circular de um país para outro. Parece que aí tem uma semente do consumo de massa.
Inventar ferramentas nos faz transcender nas nossas capacidades humanas e nunca paramos de inventá-las. Somos transumanos com o tacape de pedra ou Iphone na mão.
Continuamos com nossas necessidades de registrar, contar nossas histórias, celebrar momentos, elaborar criativamente nossas percepções do mundo e nos comunicar de alguma maneira inspiradora e poética. Talvez nosso medo de sermos devorados por leões ainda esteja em nós.
Precisamos da arte para irmos além das mesquinharias, das guerras estúpidas e dos discursos miméticos travestidos de inovadores, que nesse momento abundam em todas as mídias e ruas.
Será que, saindo da caverna, é que iremos perceber novas possibilidades de futuro e ao olhar a caverna de fora descobrir o quanto ela nos limitava? Desconfortável e sem certezas, é verdade, mas livres dos conhecimentos preconceituosos que julgávamos serem verdadeiros. Mais luz para enxergar e menos sombras para ocultar.
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Nossos antepassados ousaram sair da caverna, criaram sistemas e estruturas de convivência, de politica, produção, ciência, cultura e arte, benefícios inestimáveis para chegarmos aqui. Temos infinitos recursos para olhar o legado e não repetir as barbáries cometidas.
A inteligência artificial pode nos limitar às sombras da caverna ou ser uma aliada na busca por novas descobertas e na ampliação de nossa visão de mundo, evitando que ela se torne uma ferramenta de conformidade e estagnação. “Só assim seremos capazes de aproveitar todo o seu potencial sem perder a essência do que nos torna humanos: a capacidade de questionar, explorar e descobrir”, diz Eduardo Fagundes.
Entre os benefícios da luz do conhecimento e as barbáries da ignorância, sempre temos oportunidades de escolhas. Sabemos que comer pastel e tomar caldo de cana em copo americano é a imagem clichê mais rasa de alguns políticos. Não é uma imagem rupestre do Paleolítico, mas nossa história está impregnada dessa, e as atuais sabemos ler?
A prática eleitoral surgiu na cidade-estado de Atenas, no século 5 a.C. Aqui no Brasil, as mulheres só puderam votar em 1932 e só a partir da constituição de 1988 se permitiu o acesso democrático dos analfabetos. O marketing politico teve inicio oficialmente em 1952, nos Estados Unidos.
Na Grécia antiga nasceu a prática da retórica. Os faraós do Egito usavam obras públicas para se popularizarem. Na Idade Média os governantes europeus usaram e abusaram dos seus retratos pintados por artistas famosos da época. Os retratos saíram dos palácios e estão nas ruas. Cadê as brioches?
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