A Bienal de Venezia nasce com um grande escândalo em 1895. A Prima Edizione della Manifestazione Internazionale di Venezia, um modelo que se disseminou pelo mundo todo, completa 130 anos. A I Bienal de SP data de 1962.
Até aquele ano, 1895, a arte estava submissa a reis e papas, o artista italiano Giacomo Grosso mostra sua pintura Il Supremo Convegno (“A Suprema Conferência”), uma pintura que representa um velório dentro de uma igreja com cinco das amantes do morto nuas. Erotismo e morte envolvendo até o Vaticano que tenta impedir que o quadro seja exposto.
Exposto numa sala escondida, muito pequena e insignificante, o quadro foi visto por uma multidão curiosa e ganhou o prêmio Popular de Melhor Obra. Antes de iniciar viagens pelo mundo, a obra queimou num depósito restando somente cópias e fotos de arquivo.
As grandes Bienais sempre trazem muitas expectativas e polêmicas e isso atrai artistas, curadores, jornalistas e movimenta todo o mercado da arte internacional.
Exposição acontece desde 1895 em Veneza, na Itália (Créditos: Divulgação/Bienal de Veneza)
“Cada vez mais, a Bienal de Veneza não quer apresentar um catálogo do que existe na arte, mas dar forma a contradições e diálogos, sem os quais esta área permaneceria um enclave vazio da sua força vital”, disse Roberto Cicutto, presidente da atual bienal, quanto à escolha de Adriano Pedrosa como curador.
A Bienal de Venezia é para o mundo, e essa 60º para nós brasileiros, sul americanos, indígenas, refugiados, imigrantes, muito mais que uma visita guiada aos periféricos, estranhos e excluídos. Cento e trinta anos de Bienal de Venezia e Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, é o primeiro brasileiro, sul americano convidado para ser curador da maior mostra de arte do mundo.
Com o título Stranieri Ovunque (Estrangeiros por toda parte) ele afirma: em 2024 o objetivo é descolonizar, diversificar e rever a história da arte do século 20. E que tarefa ousada, corajosa e única. Olhando sua trajetória podemos reconhecer esses traços que foram se encorpando e explodem em Venezia hoje.
A polêmica exposição só de estrangeiros do Panorama do MAM de São Paulo, de 2009, e das Histórias Indígenas e LGBTQIAP+ do MASP, ambas sob sua curadoria, atestam a importância da cultura brasileira, canibalizada pelo estrangeiro.
Adriano Pedrosa (Créditos: Reprodução/Das Artes)
“Mamõyguara opá mamõ pupé”, tradução para o tupi antigo da expressão “foreigners everywhere”, do coletivo de artistas Claire Fontaine baseado em Paris, é hoje título da 60ª Bienal. “Pego essa imagem do estrangeiro e a desdobro em queer, forasteiro e indígena”, disse Adriano Pedrosa em entrevista ao Globo. Ele mesmo se identifica como “o primeiro curador abertamente queer [da Bienal]”.
São mais de 300 artistas de 90 países distribuídos entre o núcleo histórico e o contemporâneo, além das inúmeras mostras paralelas. Significativa presença de brasileiros, indígenas, estrangeiros naturalizados brasileiros e muitos modernistas como Tarsila do Amaral. Estão presentes Di Cavalcanti, Candido Portinari, Maria Martins, Maria Bonomi, Tomie Ohtake e muitos outros lá expostos nos cavaletes emblemáticos e icônicos que Lina Bo Bardi criou para o MASP em 1968 , retirados da cena em 1996 e retomados em 2015.
Uma imensa homenagem à arte e cultura brasileira com a presença de artistas ignorados na sua época. Assim tambem estão presentes Frida Khalo e Diego Rivera. É mais do que uma homenagem e aqui devemos lembrar do campo produtivo que o legado do artista Jaider Esbell continua reverberando. Sua participação nas bienais de São Paulo e Venezia já assumiam esse caráter coletivo de inserção no circuito. Assim, germinaram sem volta, pois se expandiram em Venezia hoje para a escala global. O global que existe além do circuito déjà vu que está Ovunque.
Veneza, cidade que precisou criar literalmente seu chão, tem um dos territórios mais férteis para expor as expressões artísticas no encontro evidente entre os anos 450 a.C. e 2024. Ali nas paredes e estruturas dos palácios acima da água encontramos fragmentos de imagens medievais convivendo com expressões urbanas contemporâneas.
O impacto visual do grande Mural de 700 metros quadrados na entrada da Bienal, pintado pelo Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU), coletivo artístico indígena da Amazônia, é uma oportunidade rara de dar voz às produções indígenas enquanto ainda se luta pelo direito à vida e território. Assim, o time curatorial Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana é uma ruptura com a tradição da Bienal. Povos originários não mais como estrangeiros no seu território, pois não se submeteram à colonização e resistiram com suas tradições e culturas. Agora escancarados em Venezia.
Chegamos em 2024 com o papa Francisco atravessando os canais de Venezia sentado numa bela poltrona branca indo visitar a exposição do Vaticano no presídio feminino, que fica na Ilha de Giudecca. É a terceira vez que o Vaticano participa da Bienal e a primeira vez que um papa a visita. Com o título “Com os meus olhos”, a mostra tem a participação da artista brasileira Sonia Gomes, entre outros, e propõe ao público a construção de um novo olhar não como espectadores mas como testemunhas.
Façamos um breve exercício de aceitar o desafio de olharmos com nossos olhos e identificarmos os excluídos, os queers, dentro do nosso território, que convivem ao nosso lado, apartados. São marginalizados seja por orientação sexual, origem social, etnia, grau educacional ou alguma deficiência dentro de uma estrutura social que nossos olhos veem, mas não enxergam.
Esta 60ª Bienal de Venezia se apresenta como a real possibilidade de desconstrução de sistemas excludentes, é uma experiência protagonizada pelos marginais que se apresentam unidos com diversidade de vozes em harmonia nas suas diferenças.
Adriano Pedrosa, um visionário, um estrategista, que vinha se preparando há muitos anos e soube responder ao chamado ancestral das artes. Arte e Cultura por toda parte.
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