Sai a sala de estar, o sofá, e o que for do cotidiano, entram quarenta cadeiras com design moderno e elegante para compor um ambiente focado na música.
Nas paredes, dois ou três quadros da saudosa artista Sônia Oliveira a dizer: aqui é um território da arte. Abre-se, na verdade, de maneira mais ampla, um novo espaço para a cultura na cidade.
Esse sobrado particular, no Jardim Esplanada, em São José dos Campos, é capaz de ser transformado rapidamente em sala para apresentações musicais, master classes, clube de leitura, e para atendimento a professores de piano. Estes começam a se apresentar por ali para afinar técnicas e ampliar repertório.
O violonista, compositor e arranjador Daniel Murray é o próximo convidado do programa masterclass do espaço, que vai incluir um sarau sobre o Universo Musical de Egberto Gismonti, no próximo dia 22 de junho. Murray dará sua aula em desdobramentos de seu mais recente trabalho. O Espaço Civile já recebeu a violoncelista Ji Yon Shim Anderson e promoveu um encontro com a pianista Olga Lazareva.
Reina no salão dessa iluminada casa do bairro Esplanada, qualquer seja o arranjo de cadeiras, o Fritz Dobbert reluzente, impecável, graças certamente ao zelo e perfeccionismo da pianista Rosana Civile.
Ela é a anfitriã, literalmente a dona da casa (tem sua privacidade garantida no segundo andar). É também a responsável pela organização musical do espaço. Cuida de uma programação original, de alta qualidade, que agora começa a ganhar forma e público.
Rosana diz que ainda está conhecendo a dinâmica de São José, as pessoas da cidade, seu público. Paulistana que cresceu no bairro do Bexiga, é formada em Música pela Universidade de São Paulo (USP), foi professora da Escola Municipal de Música (no mesmo local onde funcionou o célebre Conservatório liderado por Mário de Andrade). Hoje é pianista do Coral Paulistano da Fundação Theatro Municipal de São Paulo. É justamente essa a vivência de Rosana que já enriquece os programas musicais da cidade.
Fica agora nesse vaivém São José-São Paulo, quando não está em outros palcos para concertos e recitais pelo país e exterior. E não é à toa.
Há 21 anos, Rosana também preside o Núcleo Hespérides – Música das Américas, uma associação de músicos, compositores, instrumentistas, que faz de tudo para resgatar e promover a produção musical do século XX, atentos à sonoridade contemporânea, em concertos, recitais, saraus, publicações e gravação de CDs (o nome Hespérides tem inspiração na mitologia grega, nas três deusas primaveris guardiãs da beleza).
A discografia do Hespérides contém “documentos” importantes, que de certa forma condensam, desvelam e expõem a plataforma “existencial” do próprio grupo.
Luminamara é o primeiro CD do Hespérides, descrito como uma “alegoria musical sobre a criação do mundo e a descoberta das Américas”. O CD duplo Retratos de Radamés, com o trio Opus 12 de violões, coloca mais luz sobre a obra de Radamés Gnattali, “um dos pilares da música brasileira do século XX”.
Sons das Américas, lançado pelo prestigioso selo Sesc-SP, taz um painel musical das Américas, apresentando compositores como Villa-Lobos, Piazzolla, John Cage, John Becwit, Silvestre Revueltas. Já o título Hõkrepöj (2016) surpreende com a etnomúsica de Kilza Setti, compositora e antropóloga, não necessariamente nessa ordem, resultado de uma convivência com índios brasileiros.
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Cantigas e Momentos (2019) é a seleção mais recente, obras para piano solo de Antonio Ribeiro, tocadas por Rosana Civile. “Pequenas peças que exprimem sentimentos condensados, de caráter fortemente introspectivo”. (O CD é apresentado pelo crítico musical e jornalista Irineu Franco Perpétuo, o mesmo que acaba de lançar “História Concisa da Música Clássica Brasileira”)
Em outubro do ano passado, com festa no Theatro São Pedro, em São Paulo, o Hespérides lançou o CD digital Aylton Escobar, Música Contemporânea Brasileira (https://tratore.ffm.to/ayltonescobar), em homenagem aos 80 anos do compositor, maestro e professor. O trabalho foi indicado ao Prêmio Concerto, na categoria CD, DV, livros.
“Começamos o Hespérides com nove músicos, hoje temos 50 integrantes”, comemora a idealizadora e fundadora do Núcleo. “Fazemos um grãozinho”, faz questão de dizer a pianista, que movimenta montanhas para a divulgação dessa música e de seus intérpretes, construindo pontes entre a música e os espaços de apresentação. O Espaço Civile, em São José dos Campos, agora está também entre eles. “A ideia é semear projetos”, diz Rosana.
Uma das mais recentes conquistas do Espaço Civile foi a realização do Sarau Socem, com apoio do Hespérides, ocasião em que foram apresentadas peças da compositora Kilza Setti e obras de autores da região, como Clara Zarzur, Rita de Cássia Vilaça e Ayrton Vilaça.
Rosana quer selar uma parceria regular com a Socem (Sociedade de Educação e Cultura Musical de São José dos Campos) e com o Centro de Documentação Musical (CDM), entidades locais regidas pela musicista Raquel Aranha. Uma ideia seria dar ainda mais vida a partituras de antigos músicos joseenses resgatadas pela pesquisadora no CDM, os hesperianos e outros músicos locais como intérpretes qualificados.
Em São José dos Campos, o Hespérides já compôs também com o Centro Ambiental Edoardo Bonetti (CAEB), outro espaço que abriga cultura e que mantém um núcleo de imersão barroca coordenado por Raquel Aranha.
A casa dos Civile sempre foi um ponto de cultura informal. O pai de Rosana, o médico Rodolpho Civile, que manteve durante anos consultório no Bexiga, “o bairro dos imigrantes calabreses” em São Paulo, escolheu São José para morar em tempos de aposentadoria. Os filhos foram se ligando aos teclados da vida.
Construiu a casa dos Civile e tornou-se um escritor de contos e crônicas. Memorialista detalhista, desvendando principalmente os personagens de seu bairro ancestral, teve seu trabalho reconhecido pela Academia de Letras de Campos do Jordão e foi lido com estetoscópios pelos iguais da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, em encontros batizados divertidamente de “Pizzas Literárias”.
O Espaço Civile deu continuidade à vocação do local: durante a pandemia, em projeto contemplado pelo Proac (Programa de Ação Cultural de São Paulo), o projeto Clube de Leitura deu visibilidade a obras de escritores brasileiros e temas literários, o que incluiu discussões sobre rimas, Manoel de Barros, Carlos Drummond de Andrade, mulheres na Academia e canções anarquistas. Foram dez encontros virtuais que podem ser acessados no canal do Espaço Civile no Youtube.
Rosana Civile é tia de Tiago Guy, músico e compositor radicado em New Orleans (EUA), que lança em 23 de maio Westbank Girl. Mas esse é o início de uma outra história.
Sociedade de Educação e Cultura Musical de São José dos Campos: www.cdmsaojose.com/socem
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