Mariara de Freitas, de 32 anos, é sócia-administradora da 3M Agropastoril, empresa responsável por cuidar do famoso Terreno das Vaquinhas, em São José dos Campos, onde futuramente será construído um grande empreendimento habitacional. Seu trabalho no agronegócio destoa do padrão, que apresenta grande desigualdade de gênero.
De acordo com a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), a área é predominantemente masculina e afeta o trabalho das mulheres, que acabam sofrendo preconceito em suas jornadas de trabalho. Segundo uma pesquisa realizada pela associação em 2021, 64% de 408 mulheres entrevistadas, que trabalham no setor, relataram perceber a desigualdade.
Mariara nasceu em Lorena, mas cresceu em São José e faz parte de uma geração familiar no agro. De acordo com ela, são quatro gerações de produtores rurais, que começou com seu bisavô, Geraldo Luiz dos Santos.
A joseense diz que o começo de sua carreira não foi fácil, mas o apoio de seu pai, Mauro Roberto dos Santos, foi primordial para prosseguir: “Meu pai sempre acreditou em mim. Isso me deu força e coragem.”
Se estar dentro do agro como mulher já não é simples, assumir um cargo de liderança é ainda mais delicado.
“É bem mais complicado você chegar e falar para pessoas que estão ali há 30 anos como se deve trabalhar, ainda mais sendo jovem e mulher. Eu tive mesmo uma barreira para enfrentar, mas meu pai me deu apoio e o conhecimento para me fortalecer”, disse Mariara.
O início de suas atividades no campo aconteceu logo cedo, quando ainda era criança, ajudando seu pai a soltar os bezerros. Sua ação já era recompensada, com uma mesada, de acordo com a frequência com que ela o ajudava.
“Eu nunca ganhei as coisas de mão beijada, e apesar de ser um trabalho fácil, era um incentivo para ficar nesse meio e tudo foi acontecendo de maneira natural”.
Mesmo crescendo no campo, Mariara de Freitas chegou a explorar outras áreas e mercados de trabalho. A joseense se formou em audiovisual, morou em São Paulo e trabalhou até com a cantora Sandy e a banda Cine.
Ela também já foi modelo, inclusive de campanhas para a Dove e TRESemmé, além de ser repórter da RedeTV por um curto período. “Em 2014 eu estava trabalhando na Universidade do Cavalo, cuidando do marketing, e eu tinha muito contato com a imprensa. Um amigo acabou me indicando para esse programa que se chamava Conhecendo o Brasil Agro, no qual eu entrevistaria mulheres da área, mas os custos eram muito altos e o programa só foi ao ar quatro vezes”, detalhou.
Enquanto morava na capital, a jovem evitava vir para o interior, porque ela não tinha vontade de voltar ao ritmo frenético de São Paulo. Porém, um problema de saúde de seu avô, Geraldo Luiz dos Santos Filho, fez com que Mariara ficasse um tempo em Lorena. Foi aí que ela resolveu voltar às raízes e trabalhar no campo, em SJC.
“Todo dia eu levantava cedo para buscar o gado, cuidava dos cavalos e aí eu despertei. Fui procurar cursos e acabei indo para Sorocaba cursar Gestão de Equinocultura”.
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Para Mariara, a importância da mulher dentro do agro é trazer uma visão única sobre a área: “Por exemplo, a Temple Grandin revolucionou a pecuária, assim como a Carmen Perez, que são referências para nós sobre o bem-estar animal. Eu acho que esse nosso lado mais amoroso e até materno, por mais que nem todas sejam mães, esse lado aflorado reflete no cuidado com o próximo, inclusive os animais.”
Sua sobrinha, Maria Alice de Freitas, de 10 anos, já esta acompanhando seus passos, mostrando que novas gerações femininas devem continuar no campo da 3M. “Ela já ajuda a gente na fazenda e é responsável por fazer massagem nos bezerros, depois de nascerem, para se acostumarem ao toque e presença dos humanos”, disse Mariara.
Para as mulheres que desejam entrar no agro, a joseense diz que é preciso ter uma rede de apoio: “Siga seu sonho e saiba que muitas mulheres já passaram por onde você irá passar e elas estarão a disposição para segurar sua mão na hora que precisar”, concluiu.
“Uma pessoa muito determinada, realizada em tudo que faço e eu coloco amor em tudo”. Essa é a definição própria de Mariara. Isso reflete em suas atividades dentro da fazenda, principalmente no contato direto com os animais.
Durante a visita do Portal SP RIO+ ao terreno, várias vaquinhas se aproximaram de Mariara de maneira natural e tranquila. Segundo ela, este é um trabalho de anos.
“Quando eu comecei a vir na fazenda, o gado era muito bravo e reativo. Foi aí que comecei a fazer cursos para mudar este comportamento, porque eu queria estar no meio deles. Estudei muito sobre a Doutora Temple Grandin, que fala sobre o bem-estar e a aproximação com o animal. Dessa forma a gente foi mudando o temperamento do gado, mudando o manejo.”
Neste ponto, a joseense enfrentou algumas dificuldades para convencer as pessoas sobre a maneira correta de tratar os animais.
“Essa virada de chave para mim foi a época mais dura, porque eu tinha que dizer para as pessoas que não podia bater ou ir para cima da vaca. No geral, nosso gado hoje é muito tranquilo”.
Focada atualmente nas questões administrativas, ela também pode participar do manejo dos animais, assim como a medicação deles.
No terreno, há mais de 100 vaquinhas das raças Nelore, Brangus e Braford, que são gados de corte.
Agora, com o avanço do projeto de urbanização no Terreno das Vaquinhas, estes animais vão voltar para outros pastos da família, que ficam na zona Norte da cidade.
São quatro propriedades, sendo três próprias e uma arrendada. Uma delas tem uma horta comercial, que abastece mercadinhos próximos, e todas as outras são voltadas para gado de corte.
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