A recente escalada dos conflitos no Oriente Médio pegou muita gente de surpresa, mas, de certa forma, é consequência lógica de tensões que vêm se formando há meses. Estas explicam por que os hutis do Iêmen continuam visando navios cargueiros no Mar Vermelho, por que os EUA revidaram com tanta força e por que o Irã decidiu celebrar o começo de 2024 com ataques a alvos no Iraque, Síria e Afeganistão.
Isso tudo nos leva a perguntar: Vem aí mais um conflito em grande escala no Oriente Médio?
Prever o futuro na política internacional é, como diria Mia Wallace, “um exercício de futilidade”. Tanto mais no Oriente Médio, uma rede complicadíssima de atores estatais e subestatais. Mas podemos, no mínimo, tentar entender um pouco melhor os objetivos de cada lado — e tirar nossas próprias conclusões daí.
Os hutis são um grupo fundamentalista que tomou controle de parte do Iêmen após anos de uma guerra civil extremamente cruel e devastadora. Assim como o Hamas, na Palestina e o Hezbollah, no Líbano, os hutis contam com o apoio do Irã, que os ajuda desde antes de 2014, quando a guerra civil começou.
O objetivo dos hutis parece ser, acima de tudo, conseguir legitimidade para sua causa, consequentemente fortalecendo sua autoridade no Iêmen. A guerra de Israel na faixa de Gaza foi uma oportunidade para eles — posicionando-se como uma das poucas forças regionais a tomar ação contra Israel, os hutis ganham mais proeminência e ganham uma posição favorável para expandir seu controle sobre o Iêmen.
Com as provocações no Mar Vermelho (ostensivamente contra Israel, embora estejam sendo visados navios de outras nacionalidades), os hutis se mantêm nas manchetes e geram boa vontade da parte de outros atores regionais, por estarem supostamente apoiando a causa palestina, popular em todo o mundo árabe. É por isso que, como comentado por especialistas no tema, os hutis pareciam já estar contando com a represália norte-americana, e talvez não se deixem deter tão facilmente.
Após décadas de envolvimento no Oriente Médio, incluindo a guerra mais longa de sua história, os Estados Unidos não têm muito apetite para mais uma guerra na região. Inclusive, nas últimas semanas, os diplomatas estadunidenses têm feito um vaivém para tentar conter a investida israelense na Faixa de Gaza e voltar atrás com o apoio incondicional dado por Biden no começo de outubro passado.
Então, por que os bombardeios no Iêmen? O motivo é simples: evitar maiores danos à economia global. Afinal, 15% desta passa pelo Mar Vermelho, na forma de navios cargueiros. Após a intensificação dos ataques aos cargueiros, mais de 80% deste volume precisou ser redirecionado — agora, os navios precisam passar do Oceano Índico para o Atlântico, pelo Cabo da Boa Esperança. É uma perda enorme de tempo e dinheiro, com consequências significativas na economia global.
Ao reagir com bastante energia, os EUA estão esperando conseguir destruir as capacidades dos huti e desencorajar ataques futuros. Vale lembrar, também, que é ano de eleições nos EUA, e perturbações na economia global, aumentos no preço do petróleo, etc. são péssimos para o apoio à presidência de Biden.
Ou seja: Os EUA estão tentando pôr fim, com muita violência aplicada de uma vez só, ao problema. Não foi a primeira opção deles, mas a essa altura eles claramente calcularam que é melhor agir agora do que deixar a situação se deteriorar ainda mais.
O Irã é inimigo declarado dos EUA e dos maiores aliados regionais dos EUA — Israel e Arábia Saudita. Para o governo iraniano, a guerra em Gaza também apresenta boas oportunidades: diminui a boa-vontade mundial para com Israel e os Estados Unidos, ajuda a distrair a população iraniana (não faz tanto tempo assim que Teerã teve que enfrentar protestos violentos) e serve para dificultar a crescente aproximação entre Israel e a Arábia Saudita. Nenhum país árabe quer dar reconhecimento aberto ao Estado de Israel no momento, após os massacres em Gaza.
O que o Irã parece não querer é justamente uma guerra em grande escala contra Israel (uma potência nuclear), os EUA, ou a Arábia Saudita. O ideal para os iranianos é reduzir a força de seus rivais regionais, mas a baixo custo, sem confronto direto. Isto é feito através de seus aliados xiitas na Palestina, Líbano, Iêmen, Síria, Iraque, etc.
A meu ver, as jogadas de Teerã nesta semana não mudam muito o status quo. Visando uma suposta “base de espiões israelenses”, os mísseis iranianos atingiram muito perto da embaixada americana em Erbil. Foi um aviso, mas também uma demonstração de força, preservando um pouco as aparências após o ataque a seus aliados iemenitas.
Da mesma forma, os ataques a alvos na Síria e no Paquistão não visaram forças oficiais destes países, e sim grupos militantes sem apoio governamental — os alvos foram terroristas responsáveis pelo recente ataque em Kerman, no caso da Síria, e, no caso do Paquistão, uma tribo que um mês atrás atacou forças iranianas na fronteira. São ataques que geram admoestações, reclamações diplomáticas, mas não vão muito além.
Se for verdade que, tanto do lado dos EUA quanto do Irã, não há interesse em uma guerra direta no momento (com a ênfase em “direta”), muito dependerá das reações futuras dos hutis — até que ponto eles conseguem manter a capacidade de atingir cargueiros no Mar Vermelho e se, em alguma altura, sentirão que atingiram seus objetivos de consolidação de poder doméstico e regional.
Vale lembrar que o Irã, como seu principal aliado, também tem influência sobre eles. Algum eventual acordo entre os EUA e o Irã poderia reduzir o atrito atual no Mar Vermelho.
Por enquanto, acho mais provável que essa agitação toda vá se reduzindo. Talvez um cenário plausível seja Israel concordar em cessar o ritmo da destruição em Gaza, os hutis pausarem os ataques e voltarmos a uma “instabilidade estável” semelhante à anterior, mas com o poder huti sobre o Iêmen um pouco mais consolidado.
Ou então… pode começar a próxima guerra aberta no Oriente Médio, para ser acrescentada à vasta lista dos conflitos que já assolam esta região. Em retrospectiva, o Império Otomano não parece tão ruim assim!
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