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Categoria: Destaque, Especiais

Solar da Viscondessa: o passado e o futuro do casarão que resiste no Centro de Taubaté

Construção do século 19 hoje é prédio da Unitau e aguarda por revitalização para receber museu do café; espaço já pertenceu à família de Monteiro Lobato

Gabriel Duarte/SP RIO+ • Publicado em 17/12/2023, às 15:35 • Atualizado em 17/12/23, às 14:46

As cidades têm se transformado em um amontoado de concretos de pé igualmente sem graça. Construções estão perdendo personalidade, pontas, curvas, tinta e detalhes. A arquitetura tem se adaptado à falta de espaços e às aglomerações. O que é velho, sai. O que é novo, mais depressa fica velho.

O Solar da Viscondessa de Tremembé, no Centro de Taubaté, é um dos prédios que resiste ao tempo e à urbanização acelerada. Construído no século 19, o casarão hoje abriga a Pró-Reitoria de extensão da Universidade de Taubaté (Unitau) e foi palco das celebrações do aniversário de 49 anos da faculdade no início de dezembro.

São dois andares com muita história para ser deixada para trás. É por isso que a universidade anunciou planos para revitalizar o prédio e começou por ele o novo Circuito Histórico, anunciado nas celebrações do aniversário.

foto mostra pessoas segurando fotografia revelada do solar da viscondessa de tremembé na frente do prédio atualmente em taubaté

Solar da Viscondessa de Tremembé é patrimônio tombado de Taubaté (Foto: Divulgação/Unitau)

As reformas do Solar e de tantos outros edifícios da universidade necessitam de uma verba que não existe nos cofres atualmente. De acordo com a Unitau, a casa da Pró-Reitoria de extensão ainda não foi contemplada em nenhum edital, mas há possibilidades em análise.

A universidade deve inscrever o prédio em editais da Lei Rei Rouanet e do ProAC, programa de incentivo à cultura estadual. Além desses, uma outra aposta é um edital dos Estados Unidos que oferece os recursos para revitalizações de construções antigas.

Essa busca pelo resgate da estruturas do Solar vem por conta do valor emocional de construções desse tipo, justamente o que o Circuito Histórico quer assegurar. O projeto começou com a instalação de um toten no Solar da Viscondessa com informações sobre sua fundação e detalhes do passado que não são decifrados pelos visitantes só observando a arquitetura.

Os totens contarão todos com QR codes que direcionam para a página do projeto, onde se encontra o roteiro completo do Circuito Histórico.

“Durante o ano de 2024, outros prédios entrarão no circuito, como os Departamentos de Arquitetura e de Ciências Sociais, Letras e Pedagogia, o de Ciências Jurídicas, a Central do Aluno, o Campus do Bom Conselho e a própria reitoria atual. A ideia é que o pessoal consiga fazer um passeio histórico, arquitetônico e cultural pela cidade, guiando-se pelos totens”, descreve o projeto.

toten no solar da viscondessa

Com ajuda da tecnologia, totens como o do Solar vão ajudar os visitantes a entenderem a história dos prédios tradicionais da cidade (Foto: Divulgação/Unitau)

Solar da Viscondessa: um patrimônio taubateano

Construído no século 19 durante o auge do período cafeeiro do Vale do Paraíba, o Solar da Viscondessa do Tremembé é um patrimônio histórico-arquitetônico restaurado pela Universidade de Taubaté.

Além de abrigar figuras e contextos importantes para a cidade, sua estrutura documenta dois sistemas de construção distintos, um mais antigo e outro mais recente. Quem detalha as características do casarão é Benedito Assagra Ribas de Mello, arquiteto, professor e presidente do Conselho de Patrimônio Cultural de Taubaté.

“Ele [Solar] explica a evolução do honorário da elite cafeeira ao longo do século 19. É uma casa com uma nova espacialidade, novos materiais e a valorização dos espaços de sociabilidade. Além disso, por ter sido uma casa reformada ainda na segunda metade do século 19, ela guarda suas bases e estruturas em taipa de pilão, e as paredes, que foram alteadas, são feitas já em alvenaria de tijolos”.

Ao longo de sua trajetória, o edifício presenciou momentos e contextos distintos, desde a era do café até a fase universitária atual.

Os residentes do casarão

O prédio foi casa do Barão e Visconde de Tremembé, José Francisco Monteiro, e da Viscondessa Maria Belmira França Monteiro. Reconhecido em Taubaté por suas contribuições na sangrenta Guerra do Paraguai, José Francisco recebeu o título de nobreza pelo Imperador Dom Pedro II.

“Quando denominamos uma residência de solar, é porque ela tem características diferenciadas quanto ao seu uso. No caso do Solar da Viscondessa, a gente tinha tetos de estuque, paredes pintadas, pisos de madeiras de lei formando desenhos, jardim lateral. E havia originalmente um mobiliário compatível com essa residência”, diz Assagra.

foto antiga da parte de trás do solar

Foto antiga mostra mostra a frente da casa; solar era o nome dado às residências luxuosas dos integrantes da elite no passado (Foto: Divulgação/Unitau)

Localizado na Rua XV de Novembro, o Solar da Viscondessa nasceu com um andar, mas ganhou o segundo em uma obra do Visconde de Tremembé, que curiosamente não morava na casa.

“Muito provavelmente o Visconde transforma uma antiga casa térrea que deve ter sido do século 18 em solar. E o interessante é que ali morava a Viscondessa. O Visconde não morava com ela. Ele morava na casa em frente, onde hoje é o prédio da Rádio Difusora”, conta Benedito Assagra, que ministra aulas da cadeira de História da Arquitetura Brasileira na Unitau.

Apesar de ser avô de Monteiro Lobato, o Visconde não teve filhos com a Viscondessa. A mãe de Lobato, Olímpia, nasceu de um dos vários casos do aristocrata fora do casamento. A avó do escritor e amante do Barão chamava-se Anacleta do Amor Divino, era professora.

Depois que o Visconde e a Viscondessa faleceram, os netos bastardos, incluindo Monteiro Lobato, herdaram suas propriedades. Em 1911 o Solar caiu nas mãos da irmã de Lobato, Esther, casada com o poeta Heitor de Moraes. Por anos o casarão foi mantido pelos dois fechado e utilizado apenas durante curtos períodos de férias.

Quando a casa vira museu 

A crise do setor cafeeiro que dava largada pouco antes da década de 1920 fez com que Esther vendesse a casa para o Coronel Francisco de Paula Oliveira, que veio do sul de Minas Gerais. O oficial promoveu uma reforma arquitetônica significativa no espaço.

Os anos em que a família do Coronel viveu no Solar foram os últimos na função de residência. Sua arquitetura, porém, permanece muito parecida atualmente. De acordo com o professor Assagra, o casarão tem características que evocam o que seria um estilo neo-renascentista. Uma marca disso é a área social posta bem na frente da casa, com suas janelas e balcões voltadas para a rua.

Com a morte do Coronel Oliveira em 1936, sua viúva, Maria Francesca Chiaradia, e suas filhas, Jacyra e Jandyra, alugaram o casarão para o empresário Félix Guisard, que criou no espaço o Museu Histórico de Taubaté. Dois anos depois, o Solar virou Museu Minicipal pelas mãos do prefeito Antônio Marcondes Castilho.

Escola e faculdade

No ano de 1951, o Ginásio Taubateano passou a ocupar o prédio e permaneceu assim até a década de de 1970, quando encerrou suas atividades. A escola até hoje tem espaço no baú da memória de muitos taubateanos.

A falta de uso durou pouco e o Solar foi adquirido novamente em 1974, um anos depois da fundação da Federação das Faculdades e Universidades de Taubaté. Da federação, surge no mesmo ano a Universidade de Taubaté. É nesse momento em que a casa assume o papel de sede da Reitoria da Unitau, posição que manteve até 1981.

Nos 16 anos que seguiram o casarão abrigou o Departamento e a Clínica de Psicologia da Unitau e logo na sequência foi transformado na sede da Fundação Musical e do Centro de Documentação e Pesquisa Histórica (CDPH) da universidade. Dentro desse período o Solar foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico).

Por conta da sua relevância histórica, a construção foi escolhida para integrar o grupo de prédios recuperados pelo Projeto Restau em 2007. A conclusão do projeto aconteceu em 2010, quando o Solar reassumiu seu papel como sede do CDPH, dessa vez acompanhado pela Galeria da Viscondessa, que fortalece a expressão artística de Taubaté.

E o que será daqui para a frente?

solar da viscondessa atualmente

O Solar nos dias de hoje (Foto: Divulgação/Unitau)

As coisas no Solar já não mudam há pouco mais de dois anos. Desde março de 2021 o espaço assumiu a função de sede da Pró-Reitoria de Extensão da Unitau, com o objetivo de aprimorar o atendimento à comunidade externa e interna da faculdade. Novas mudanças dependem dos investimentos que nem chegaram e já têm destino.

“Eu espero que o futuro do Solar seja como um espaço cultural aberto para a comunidade. A pró-reitora de extensão atual trabalha para transformar ali num centro cultural voltado à memória do café. Nós já temos um certo número de acervos de imagens e documentos para esse fim e esperamos um patrocínio que possa viabilizar, do ponto de vista econômico, a materialização deste projeto”, vislumbra Benedito Assagra, com uma esperança tão bem estruturada quanto as bases do Solar.

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