O maestro João Carlos Martins, se apresentou algumas vezes em São José dos Campos. Foram eventos gratuitos que tiveram grande presença de público. Muito bom poder estar num parque público onde moramos e apreciar um grande artista brasileiro se apresentando.
Nós, os espectadores, ficamos sabendo do evento, decidimos ir, apreciamos, usufruímos e saímos levando uma ressonância de emoções, fazendo trocas de pareceres na saída. Valeu a pena é sempre a melhor constatação. Às vezes isso pode não acontecer, mas é raro.
Atelier de Artes Visuais da Fundação Cultural Cassiano Ricardo em São José dos Campos (Foto: Divulgação)
Não cabe a nós espectadores conhecer toda estrutura e produção necessárias para esse acontecimento.
Nem o antes, nem o durante e nem o depois. Mas somos curiosos e uma pincelada de como funciona vale a pena.
Quando me propus a escrever aqui nesta coluna +Arte na Cidade me desafiei a buscar uma narrativa que trouxesse mais informação sobre a arte e cultura em nossa cidade. Não como uma agenda cultural, mas o ponto de vista de uma artista joseense que trabalha e atua com vários grupos e coletivos de artistas e produtores culturais.
Entre as dificuldades e avanços na área cultural, meu objetivo principal é contribuir para informar, comentar iniciativas independentes e institucionais e ousar sugerir novas perspectivas baseadas em experiências próprias e outras que conheço e me conecto.
Uma orquestra tem muita complexidade para realizar apresentações presenciais. Transportar uma orquestra, ou seja, instrumentos e músicos e todos equipamentos técnicos com segurança já é a fase dois. A fase um seria a pré- produção e todos os trâmites de orçamentos e contratos elaborados que serão cumpridos.
Chegando no local da apresentação uma equipe organizada cuida de todos os detalhes para instalar e fazer funcionar o melhor possível. Tem pré-produção também, tenda, cadeiras, segurança, divulgação, estrutura de banheiros, água, limpeza etc. Os músicos e equipe precisam de camarim, trocar roupas, almoçar, jantar e algumas vezes de hotel para dormir. Tudo já previsto na fase um.
Logo começam os ensaios, afinar instrumentos até chegar o momento da apresentação. Nós chegamos nessa hora, assistimos e saímos.
Inicia-se a pós-produção, como um filme andando pra trás, arrumando e desmontando tudo pro transporte levar de volta.
Essa rede organizada de produção parece uma orquestra também onde cada um cuida de uma parte para o acontecimento coletivo e principal realizar sua melhor apresentação musical para nós. Isso também é trabalhar com arte e cultura e tem muito de economia criativa envolvida.
Todos eventos exigem uma estrutura física, técnica e de profissionais comprometidos. São pessoas que trabalham para o nosso lazer, à noite, nos feriados, finais de semana, férias e dias comuns como um museu aberto para visitas, por exemplo.
Acho que não precisamos conhecer todos os detalhes, mas precisamos sim reconhecer a qualidade do que nos foi proporcionado. Precisamos, sim, perceber que não somos os únicos a usufruir e que isso é um direito nosso. Digo nosso, de todos, de todas idades, etnias, gêneros.
Sabemos apreciar o que é bom para nós e sabemos também que o que é bom para mim pode não ser para você. Tudo bem desde que eu, você e todos sejamos contemplados. Quero dizer que a abrangência cultural é diversa e necessária.
Tantos detalhes envolvem uma orquestra. Corda, madeira, metais, percussão, teclas compõem um grupo de 30, 40, 100 profissionais formados, dependendo do formato da orquestra.
Quantos anos de ensaios, quantos profissionais e quanto de dinheiro é investido para formar uma orquestra?
Aos poucos ela começa a se apresentar e com o passar dos anos vai amadurecendo e sintonizando seu espetáculo. Como ocorreu com a orquestra da nossa cidade, que chegou a se apresentar para milhares de pessoas colhendo frutos de um processo gradual qualitativo. Infelizmente fomos surpreendidos por uma decisão política que encerrou tudo. Aconteceu em São José dos Campos em 2017.
A orquestra poderia ter sido reformulada, se fosse o caso, e não ser tratada como uma doença contagiosa que ameaçava a cidade, eliminada, cancelada.
Passado uns anos, em 2021, inicia-se outra, mais investimentos, outra proposta e ela também se profissionaliza, inicia apresentações e teremos que acender velas para não ser cancelada por nova decisão politica?
Podemos computar quanto custa encerrar e recomeçar processos culturais para os cofres públicos que financiam tudo isso? Formação de público e de musicistas envolvendo estudos, práticas, materiais, instrumentos, salas equipadas, viagens, divulgação, reconhecimento, quanto custa tudo isso?
Como medir o prejuízo no aprendizado de novos conhecimentos, no desenvolvimento do pensamento critico, na qualidade da atividade cultural da cidade?
Já vimos isso acontecer em São José dos Campos algumas vezes e a cidade perde muito com isso. Além do processo cultural artístico ficar capenga, desprotegido, humilhado, tem um custo financeiro interromper projetos culturais desse porte e de outros formatos também. Equipamentos parados se deterioram e se tornam prejuízos.
O Atelier de Artes Visuais da Fundação Cultural Cassiano Ricardo ficou fechado por 16 anos e, em 2013, conseguimos um acordo para levar alguns equipamentos, prensas, para um dos galpões da Tecelagem Parahyba, administrado à época pelas Oficinas Culturais do Estado de São Paulo.
Onde hoje acontece o Jazz no Galpão resiste ainda um retrato em xilogravura de grande formato na cor azul do Professor Altino Bondesan, feita pelo artista Giancarlo Ragonese, na época na qua atuávamos nas oficinas ali.
Foram desenvolvidas inúmeras oficinas de estampa e exposições com artistas convidados e os alunos. Tivemos duas participações no evento SP Estampa que representa o que existe de mais contemporâneo na gravura brasileira.
Foram dois anos de retomada para formar um novo núcleo de gravadores e, na mudança de governo, o atelier retorna para seu antigo lugar.
A princípio seria muito benéfico retornar para o lugar de sua origem com mais recursos como pias, mesas, armários, etc. Mas pouco a pouco foi encerrado novamente. Mais humilhação cultural.
Inúmeros equipamentos parados, processos interrompidos em looping e um desperdício criativo imenso porque um local desse é muito fértil e tem um potencial de relacionar as inúmeras atividades artísticas ali desenvolvidas entre si e com outras instituições, inclusive cidades vizinhas, para formação e praticas de alunos.
Nos anos 90 e início dos anos 2000, o atelier sofreu muito preconceito por se tratar de local de desenvolvimento de pesquisa e ensino artístico, único em todo o rol dos mais de 10 espaços culturais da instituição.
Acredito que o que faltou foi justamente expertise e visão para beneficiar a formação continuada dos educadores das oficinas, iniciar parcerias com a Secretaria de Educação para práticas dos professores de arte, além de parceria com a Faculdade de Artes e Educação da Univap, que não tem atelier próprio. Comparável aos ateliers da Faculdade de Artes da Unicamp e USP, sua capacidade foi subutilizada e sempre interrompida.
A descontinuidade, onde cada gestor, ao assumir, começa o trabalho do zero fazendo com que não haja uma política de continuidade na área cultural está mais perto da vaidade de autoria do que do benefício publico cultural.
Além disso, profissionais de outras áreas muitas vezes migram para trabalhar com cultura confundindo eventos com ação cultural. Isso dificulta e atrasa decisões num campo que a diversidade é central e envolve tradição e contemporaneidade, onde todas as linguagens artísticas se manifestam, com processos e públicos variados. Temos na cidade profissionais preparados para atuar, especialistas nas diversas linguagens artísticas culturais.
Atividades culturais e aprendizados devem ser contínuos e estimulados com ações que provoquem processos específicos identificados nos interesses de um grupo ou comunidade. Nossa cidade tem formação diversa, cada região é única e permeada por tradições e atividades culturais próprias. Os museus preservam nossa história e ao visita-los reconhecemos nossa cidadania entre tantos outros benefícios culturais.
Lembrando que nosso Museu Municipal continua fechado. Enquanto isso, visite museus sem sair de casa. Museus pelo mundo, online, selecionados pelo CENPEC durante a pandemia e que podemos continuar acessando. Experiências incríveis com qualidade de imagens e curadorias em vários formatos. Divirta-se.
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