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Crise hídrica: já se pensa em cacique para fazer chover

Ministério de Minas e Energia ensaia pedido à médium Adelaide Scritori, que incorpora cacique que diz alterar o clima em favor do meio ambiente

José Guilherme R. Ferreira • Publicado em 27/10/2021, às 15:13 • Atualizado em 27/10/21, às 15:27

A esperança de uma solução para a crise hídrica brasileira pode estar nas mãos do cacique Cobra Coral, entidade incorporada pela discretíssima médium Adelaide Scritori, isso quando o assunto é fazer chover ou parar de chover. Eu nunca soube a origem do cacique, mas há uma tradição em tribos brasileiras (e não só aqui, é verdade), de dançar para pedir que a chuva garanta abundância e depois agradecer o presente dos céus. O cacique em questão teria o poder de convencer Tupã tanto a fechar quanto a abrir a torneira.

Osmar Santos, um coringa da “fundação esotérica” que leva o nome do índio graduado, foi chamado a Brasília pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, para explicar os serviços técnicos da Fundação. Mesmo entre as autoridades mais céticas de Brasília, o alerta da médium, feito em agosto, a partir de informações dos meteorologistas da Fundação que trabalham em Guarulhos (SP), soou como a voz de um fantasma: “Risco de apagão” eminente. Se nada fosse celebrado com o cacique até 16 de agosto, o governo que se preparasse para o pior.

Não se sabe a que acordo chegaram. Osmar disse que o cacique iria ajudar. Posteriormente, mostrou-se insatisfeito com o que chamou de “blablablá”. Tudo indica que o governo queria sigilo e a coisa vazou. Imagine uma reação evangélica diante de uma entidade que faz chover, de “uma luz que ilumina os fracos e confunde os poderosos”, como diz seu dístico, cheio de misticismo.

A negociação é geralmente simples: o cacique faz das suas para mandar a chuva. No caso, faria encher os reservatórios hoje muito baixos; em troca, o governo teria de se comprometer com ações ambientais: proteção de matas ciliares, proteção de nascentes, reflorestamento de mata nativa. Essas as causas nobres da Fundação, que não recebe um tostão.

Osmar Santos informou pelas redes sociais que, em setembro, a Fundação iniciou uma operação  de emergência  no Estado do Paraná, mais precisamente em acordo com a Sanepar – Cia de Saneamento do Paraná. Como nesse estado os técnicos foram ágeis com informações sobre ações em prol do meio ambiente, “lá foi possível manter em pleno período seco o nível dos reservatórios em quase 50%”, comemorou. “Brasília tem de fazer a sua parte”, intimou. Mas já se sabe como o governo Bolsonaro costuma tratar essas questões.

Reveillon & Rock in Rio

O então prefeito do Rio, César Maia, em 2001, foi um das primeiras autoridades a desafiar o olhar desconfiado dos eleitores e contratar os serviços da Fundação Cacique Cobra Coral. Não teve do que se queixar. Enquanto no Brasil inteiro chovia, no Rio o Reveillon virou festa com a ajuda do cacique. Na gestão do prefeito Eduardo Paes, o contrato foi renovado.

A Prefeitura de São Paulo, na gestão de Gilberto Kassab, tinha também um acordo com a mediunidade, desfeito porque os técnicos não apresentaram os relatórios exigidos pela Fundação. Osmar, marido da médium e porta-voz da organização, tem viajado o mundo para oferecer os serviços do cacique, internacionalizar o projeto mediúnico. Estava pronto para transferir-se, de mala, cuia e cacique, para a China, mas abortou o projeto para “ajudar São Paulo”

“É a chuva!”

Mesmo no corre-corre entre aeroportos, de vez em quando Osmar consegue visitar o escritor Paulo Coelho na Suíça, um amigo que já foi presidente da Fundação Cacique Cobra Coral. Pode ser visto também de braço dado com artistas e celebridades, como o empresário Roberto Medina, criador do Rock in Rio, que precisa de bom tempo para o sucesso dos shows.  Nesse caso, como é um negócio privado, privado também é o contrato.

Osmar sempre teve trânsito livre nas redações de grandes jornais e emissoras de televisão. quando ainda se concentrava na atividade de corretor de seguros para carros. Boa praça e divertido, conheci Osmar Santos na redação do saudoso Jornal da Tarde, em meados dos anos 1990. Ele sabia que a temporada de chuvas era um pesadelo para os jornalistas da editoria que reporta os problemas da cidade. Eram tempos de um rio Tietê que, dia sim dia não, transbordava em tragédias. Cheguei a atender telefonemas quando nuvens anunciavam tempestades.

– Jornal da Tarde. Posso ajudar, quem fala?

– É a chuva!, anunciava Osmar no seu amedrontador papel de ator.

Apesar de nunca ter adquirido uma de suas apólices, fui contemplado certa vez com uma camiseta com a estampa do cacique. Dormi com ela. E que bom ouvir o barulho da chuva lá fora.



José Guilherme

José Guilherme Ferreira

Escritor, jornalista e editor, José Guilherme Rodrigues Ferreira é formado pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Foi editor-chefe do Diário do Comércio e participou de equipes nas redações da TV Globo, Agência Estado, Agência Folha, Jornal da Tarde e Globo Rural. É autor de Vinhos no Mar Azul, agraciado em 2009 com o Gourmand World Cookbook Awards, e de O Almofariz de Deméter.



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